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Inteligência espírita

Inteligência espírita

Há cerca de 150 anos, Ralph W. Emerson cunhou a frase: “O caráter é
superior ao intelecto
“.

Daniel Goleman enriqueceu as discussões em torno da disparidade entre o
caráter e o intelecto, com seu livro “Inteligência Emocional“, ao
demonstrar que afeições, medos e preocupações são tão importantes quanto as
experiências que acrescentam conhecimento ao indivíduo.

Agora vem Robert Coles e retoma a questão no seu livro Inteligência Moral
das Crianças
, abordando-a no que ele denominou de “inteligência moral”, a
qual, diz, não é adquirida apenas com a memorização de regras e regulamentos, em
discussões abstratas nas aulas ou da obediência às normas da casa. A criança é
uma testemunha sempre atenta da moralidade dos adultos, ou da falta dela. O mais
persuasivo ensino moral que os adultos podem dar é pelo exemplo. O testemunho da
vida, nossa maneira de ser, de falar, de se relacionar com os outros, tudo isso
é absorvido lenta e cumulativamente por nossos filhos e alunos.

É uma longa batalha educar nossos filhos para serem bons, e o lar é base
de tudo
“, conclui Coles, pesquisador de psiquiatria no Harvard University
Health Services, professor de Ética Social, também em Harvard.

No que pese o valor das considerações de Robert, notadamente para uma
sociedade tão apegada aos títulos acadêmicos de quem as emite, para saber se as
aceita e as adota, Emmanuel antecedeu-o nessas mesmas conclusões há mais de 50
anos, ao apresentar no livro “O Consolador“, questão 110: “a melhor
escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do
caráter”.”…a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode
edificar o homem”.

No mesmo sentido, e há mais de 140 anos, em “O Livro dos Espíritos“,
na resposta da questão 582, encontramos a orientação dos Espíritos Luminares de
que “Deus colocou o filho sob tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam
pela senda do bem…”

Nesse mesmo livro, nota de Allan Kardec ao que foi respondido à pergunta
685a, enfatiza a necessidade da educação moral, como formadora ou transformadora
de caráter.

Como vemos, o Espiritismo vem tratando desses assuntos da atualidade há mais
de um século.

Logo, quem do Espiritismo toma conhecimento e de suas lições se enriquece,
colocando-as em prática, progride tanto intelectual como moralmente. Adquire,
pois, o que de nossa feita, aproveitando o gancho, denominamos Inteligência
Espírita.

A Inteligência Espírita é abrangente o suficiente para conter as demais
inteligências, pois vai mais além: baseando-se no Espírito – ser inteligente,
antecedente e sobrevivente à vida -, nele identifica a semente e o fruto, a
origem e o telefinalismo das demais inteligências.

A Inteligência Espírita, por sua vez, apresenta-se concêntrica e sinérgica.
Vou tentar descomplicar. Concêntrica porque, figuradamente, uma inteligência
está contida na outra, dada a interatividade entre elas. Assim sendo, os outros
tipos de inteligência vêm da periferia das informações para o centro do
conhecimento, e no centro está o ser espiritual, o ser pensante, detentor da
Inteligência Espírita, se esta foi bem trabalhada e desenvolvida. É como a
cebola e suas camadas (corte uma e observe-a). E é cinérgica porque uma
inteligência se reflete na outra e assim contínua e simultaneamente. É o
conhecido efeito dominó.

Vale a pena nos determos mais demoradamente na aquisição e desenvolvimento da
Inteligência Espírita. Como diz Vianna de Carvalho: “quando os ensinos
espíritas forem bem compreendidos, examinados, absorvidos pelos homens, estes
mudarão o comportamento social, em razão da modificação moral que cada ser se
imporá, erguendo-se uma comunidade pacífica e justa, a espraiar-se, generosa,
por toda parte, auxiliando a transformação da Terra, regenerada e luminosa, que
seguirá no rumo da destinação que a espera como aos seus habitantes, hoje em
lutas cruentas e rudes, por haverem abdicado das armas do amor, da mansidão e da
fraternidade”.

Enquanto a sociedade, de um modo geral, somente consegue dispor e aplicar de
maneira esparsa e aos poucos cada inteligência, nós que já nos acercamos da
Inteligência Espírita e já conseguimos vislumbrá-la, em querendo, podemos
penetrar-lhe o âmago, retirando-lhe o néctar, fortalecendo-nos e vitalizando-nos
com seu poder nutritivo, e ela, se bem aplicada na vida diária, dará ao ser tal
magnitude que se sentirá um homem novo, com visão suficiente para ter olhos de
ver o Caminho, a Verdade e a Vida, e ouvidos para ouvir Jesus a dizer: Se
sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.

 

Logo, quem do Espiritismo toma conhecimento e de suas
lições se enriquece, colocando-as em prática, progride tanto intelectual
como moralmente.

(Jornal Mundo Espírita de Agosto de 1998)