Curso de Introdução ao Espiritismo Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec Parte 5 – As Manifestações de Efeitos Físicos
Damos o nome de manifestações físicas às que se traduzem por efeitos
sensíveis, tais como barulhos, movimento e deslocamento de corpos sólidos.
As manifestações físicas têm por propósito chamar nossa atenção sobre alguma
coisa, e de nos convencer da presença de uma potência superior ao homem. Os
Espíritos elevados não se ocupam dessas espécies de manifestações; eles se
servem dos Espíritos inferiores para as produzir, como nós nos servimos de
servidores para o trabalho grosseiro, e isso dentro do propósito que acabamos de
indicar. Uma vez atingido esse propósito, as manifestações cessam, porque não
são mais necessárias.
Mesas Girantes
O
efeito mais simples, e um dos primeiros que foi observado, consiste no movimento
circular imprimido a uma mesa. Este efeito se produz sobre todos os objetos
igualmente; mas sendo sobre a mesa que mais se o exerce, por ser mais cômodo, o
nome de mesas girantes prevaleceu para a designação desta espécie de
fenômeno.
Quando o efeito começa a se manifestar, escuta-se, geralmente, um pequeno
estalido na mesa; sente-se como um frêmito que é o prelúdio do movimento; ela
parece fazer um esforço para se desatracar, depois o movimento de rotação se
pronuncia; ele se acelera ao ponto de adquirir uma rapidez tal que os
assistentes fazem todo o esforço do mundo para o seguir. Uma vez estabelecido o
movimento, pode-se mesmo se afastar da mesa que continua a mover-se em diversos
sentidos sem contato.
Em
outras circunstâncias, a mesa se eleva e se endireita, tanto sobre um só pé,
quanto sobre um outro, depois retoma docemente a posição natural. D’outras
vezes, se balança imitando o movimento de arfagem e de balanço. D’outras vezes,
enfim, mas para isso necessita uma potência medianímica considerável, ela se
descola inteiramente do solo, e se mantém em equilíbrio no espaço, sem ponto de
apoio, elevando-se por vezes mesmo até o teto, de maneira que se possa passar
por debaixo; depois ela desce lentamente balançando-se como faria uma folha de
papel, ou tomba violentamente e se quebra, o que prova de maneira patente que
não é uma ilusão de ótica. Na foto abaixo uma mesa levitando, com a médium
Eusápia Paladino. À esquerda da médium, Camille Flammarion. (De «Les Apparitions
Materialisées», Gabriel Delanne, Paris, 1911)
Pancadas
De todas as manifestações espíritas, as mais simples e as mais freqüentes são
os ruídos e as pancadas; é aqui sobretudo que é preciso temer a ilusão, porque
uma multidão de causas naturais podem produzi-las: o vento que assobia ou que
agita um objeto, um corpo que se mexe por si mesmo sem que disso nos
apercebamos, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., até mesmo
as travessuras de brincalhões. Os ruídos espíritas têm por outro lado um caráter
específico, dotados de uma intensidade toda particular e um timbre muito
variado, que os faz reconhecíveis e não permitindo confundi-los com estalos da
madeira, a crepitação do fogo ou o tique-taque monótono de um pêndulo; eles são
golpes secos, algumas vezes surdos, fracos e ligeiros, algumas vezes claros,
distintos, às vezes ruidosos, que mudam de lugar e se repetem sem ter uma
regularidade mecânica. De todos os meios de controle, o mais eficaz, o que não
pode deixar dúvida sobre sua origem, é a obediência à vontade. Se os golpes se
fazem ouvir no lugar designado, se respondem ao pensamento por seu número e
intensidade, não se pode desconhecer neles uma causa inteligente; mas a falta de
obediência não é sempre uma prova contrária.
Deve-se colocar em guarda não somente contra narrações que podem ser
manchadas de exagero, mas contra as próprias impressões, e não atribuir uma
origem oculta a tudo o que não se compreende. Uma infinidade de causas muito
simples e muito naturais pode produzir efeitos estranhos à primeira vista, e
seria uma verdadeira superstição ver por toda parte Espíritos ocupados em
derrubar os móveis, quebrar a louça, suscitar enfim mil e um tormentos com a
mobília quando seria mais racional por-se a culpa sobre a falta de jeito.
Transporte
Este fenômeno consiste no transporte espontâneo de objetos que não existiam
no lugar onde estão; são freqüentemente flores, algumas frutas, bombons, jóias,
etc..
Diremos primeiramente que esse fenômeno é um dos que mais se prestam à
imitação, e que, por conseqüência, é preciso se colocar em guarda contra a
fraude. Sabe-se até onde pode ir a arte da prestidigitação em matéria de
experiências desse gênero; mas, sem ter ajuda de um especialista, poder-se-ia
facilmente ser logrado com uma manobra hábil e interesseira. A melhor de todas
as garantias está no caráter, honorabilidade notória e no desinteresse
absoluto da pessoa que obtém efeitos semelhantes; em segundo lugar no exame
atento de todas as circunstâncias nas quais os fatos se produzem; enfim no
conhecimento esclarecido do Espiritismo, somente assim se pode fazer descobrir o
que possa ser suspeito.
O Espírito que quer fazer um transporte desmaterializa o objeto sobre o qual
opera, depois transporta o duplo fluídico desse objeto ao lugar que escolheu, e
lá retira do fluido universal os elementos necessários à reconstrução do objeto
material, por meio do fluido vital. A mesma operação é feita para as plantas. O
duplo fluídico reproduz molécula por molécula todas as partes da planta, pois
que isso é o plano de obra fluídico, não resta senão se incorporar as moléculas
do fluido universal tornadas materiais pelo espírito, e a planta aparece com
todos os seus detalhes, sua frescura, seu colorido, etc., aos olhos dos
assistentes. Enfim é sempre a mesma operação que se executa quando um espírito
quer se tornar visível e tangível, como nas experiências de Crookes. Não sabemos
até que ponto nossa hipótese se aproxima da realidade, mas os fenômenos se
produzindo, é preciso explicá-los, e esta é a teoria que até então nos parece a
melhor de acordo com os ensinamentos espíritas e as descobertas modernas.
Materializações
Chamamos materialização o fenômeno pelo qual um espírito se mostra com
um corpo físico tendo todas as aparências da vida normal. Contamos entre os
médiuns de materialização mais conhecidos: Eusapia Palladino, Kate Fox, Florence
Cook, Eglinton, Home, Sra. Da Esperança, Eva Carrere, Franek Kluski.
As seções de materialização que mais vivamente impressionaram, tiveram lugar
com o sábio William Crookes que estudou as materializações do espírito de Katie
King durante um período de três anos com a médium Florence Cook (então com 16
anos), e outros cientistas como o Dr. Gully, diretor dos hospitais de Londres e
o engenheiro Varley, engenheiro chefe das linhas telegráficas da Inglaterra.
Abaixo foto da materialização do espírito Ana, na casa de Francisco Cândido
Xavier, em Pedro Leopoldo, em Dez de 1954. O médium Francisco Peixotinhio
encontra-se deitado na cama, podendo-se notar o ectoplasma entre o médium e o
Espírito.
Uma
das principais objeções que os céticos colocam no assunto das materializações do
Espírito é que elas jamais têm lugar em pleno dia, favorecendo assim a fraude. A
luz tem, com efeito, um poder dissolvente sobre a matéria utilizada pelos
Espíritos para se materializar; Florence Marryat, que assistiu às seções de
materialização de Katie King, conta: «Acendeu-se os três bicos de gás… O
efeito produzido sobre Katie King foi extraordinário. Ela não resistiu senão um
instante, depois a vimos fundir sob nossos olhos, como um boneco de cêra diante
de um grande fogo. Primeiramente seus traços desvaneceram, não se os distinguia
mais. Os olhos se aprofundaram nas órbitas, o nariz desapareceu, a fronte
pareceu entrar na cabeça. Depois os membros cederam e todo o seu corpo se abateu
como um edifício que se desmorona. Não restou mais que sua cabeça sobre o
tapete, depois um pouco de pano branco que desapareceu como se tivesse
subitamente sido tirado de cima: ficamos alguns instantes de olhos fixos no
lugar onde Katie havia cessado de aparecer: assim terminou esta seção
memorável.»
O Espiritismo ensina desde muito tempo que o meio consciente ou alma é
envolvido de um envelope sutil chamado perispírito. Esse perispírito é o molde
fluídico no qual a matéria se incorpora durante a vida; é ele que, sob a
impulsão da força vital, mantém o tipo específico e individual, porque ele é
invariável em meio do fluxo incessante da matéria orgânica. Esse perispírito não
se destrói após a morte, mas se conserva intacto em meio a desorganização da
matéria, e é nele que se encontra gravado as aquisições da alma, que pode assim
recordar o passado. O Espírito é capaz, dentro de certas condições, de acumular
em seu perispírito bastante força vital para dar uma vida material momentânea ao
organismo fluídico; isto, com a matéria emprestada ao médium, dá a tangibilidade
de um corpo ordinário; é uma verdadeira criação, mas que apenas tem duração
efêmera, porque é conseguida fora dos procedimentos normais da natureza.
Vários fatos apóiam esta teoria, a saber:
– A perda de peso do médium – Uma prova em favor desta teoria é
que se tem constatado um diminuição do peso do médium durante as seções de
materialização. Assim, Florence Marryat escreveu: «Tendo visto a Srta. Florende
Cook colocada sobre uma balança, construída por projeto do Sr. Crookes,
constatei que a médium, que antes pesava 112 libras, logo que o Espírito
materializado tomava forma, o peso do seu corpo não ultrapassava mais que a
metade, 56 libras.»
– A diferença física entre a médium e o Espírito – Katie
King e Florence são de estaturas e de cabeleiras diferentes. William Crookes
escreveu: «Uma noite, contei as pulsações de Katie; seu pulso batia regularmente
75, enquanto que a de Srta. Cook, poucos instantes após, atingia 90, sua cifra
habitual. Apoiando meu ouvido sobre o peito de Katie, podia ouvir seu coração
bater no interior, e suas pulsações estando ainda mais regulares que as da Srta.
Cook; após as seções elas me permitiram a mesma experiência. Experimentando da
mesma maneira, os pulmões de Katie se mostravam mais sãos que os de sua médium,
porque no momento em que fiz a experiência, a Stra. Cook seguia um tratamento
médico contra uma forte constipação.» Por vezes adiantou-se a hipótese de que o
ser materializado não seria outro que o duplo do médium. Esta teoria tem apenas
base empírica porque, como podemos ver dos fatos acima, o Espírito e seu médium
são duas personalidades bem distintas. Além disso, Florence Cook, despertada,
conversa durante alguns minutos com Katie King e William Crookes, que vê todas
as duas.
– A
fotografia espírita – A fotografia espírita traz a prova da realidade
objetiva da aparição: Os aparelhos fotográficos não estão sujeitos a alucinações
!
William Crookes tirou quarenta clichês do Espírito Katie King mostrando
nitidamente as diferenças físicas entre esta e sua médium. Abaixo, foto do
Espírito Katie, acompanhada de William Crookes.
– As moldagens – Esta constitui a mais flagrante prova em favor
da teoria Espírita. Eis a maneira de operar comumente empregada, nas
circunstâncias: Dois vasos contendo, um água fria, o outro água quente, são
trazidos para a sala onde a experiência tem lugar; na superfície da água quente
flutua uma camada de parafina fundida. Se queremos obter o molde de uma mão
materializada, pedimos ao Espírito para mergulhar sua mão na parafina fluida e
imediatamente na água fria, e de repetir várias vezes esta operação. Desta
maneira se forma, na superfície da mão, uma luva de parafina de uma certa
espessura, e, quando a mão do Espírito se desmaterializa, ela deixa um molde
perfeito que se enche de gesso. Basta então mergulhar tudo na água fervente, e,
a parafina se funde restando uma impressão exata e fiel do membro materializado.
Uma tal impressão é impossível de realizar, porque é impossível retirar a mão
sem destruir o molde.
Para saber mais:
- O Livro dos médiuns Allan Kardec (2ª parte, c. II, Manifestações
físicas – mesas girantes). - O Livro dos médiuns Allan Kardec (2ª parte, c. IV, Teoria das
manifestações físicas) - O Livro dos médiuns Allan Kardec (2ª parte, c. V, Manifestações
físicas espontâneas) - O Fenômeno Espírita Gabriel Delanne (2ª parte, c. III, Mediunidades
diversas e c. IV, Espiritismo transcendental) - L’âme est immortelle de Gabriel Delanne (2ème partie, ch.
III, Photographies et moulages de formes d’Esprits désincarnés) - L’âme est immortelle de Gabriel Delanne (2ème partie, ch.
III, Discussion sur les phénomènes de matérialisation) - No Invisível Léon Denis (c. XVI, c. XVII, c. XVIII, c. XIX, c. XX)
- Recherches sur les phénomènes du Spiritualisme de William Crookesp.141
(Notes sur des recherches faites dans le domaine des phénomènes appelés
spirites)