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Mediunidade de Cura

Mediunidade de Cura

Temos observado que vários companheiros do movimento espírita reprovam a
mediunidade de cura, como se fosse uma atividade estranha à boa Doutrina. Isto
se deve, provavelmente, ao fato de que alguns médiuns dessa especialidade, por
não conhecerem, não procuram observar, no exercício da mediunidade, os
ensinamentos da Doutrina Espírita. Conseqüentemente, agem em desacordo com o que
ensina o Espiritismo, levando os menos avisados a reprovarem, em sua totalidade,
toda atividade desse campo. Porém, esta não é uma atitude correta. O fato de
alguns utilizarem mal suas faculdades, ou agirem em desacordo com os princípios
espíritas, não justifica a atitude de negar valor a todos que trabalham nessa
área. A mediunidade de cura é estudada no Espiritismo. Portanto, neste, como em
outros setores, é sempre necessário aprofundar o conhecimento do assunto, para
não emitir opiniões levianas, sem fundamento. Necessário saber distinguir o
certo do errado, não aprovar tudo, mas também não reprovar, sem o devido
conhecimento do assunto.

Allan Kardec no Livro dos Médiuns, 2.ª parte, cap. XVI, item 189, registra:
“Médiuns curadores – Os que têm o poder de curar ou de aliviar os males pela
imposição das mãos ou pela prece. Esta faculdade não é essencialmente mediúnica
pois todos os verdadeiros crentes a possuem, quer sejam médiuns ou não.
Freqüentemente não é mais do que a exaltação da potência magnética, fortalecida
em caso de necessidade pelo concurso dos Espíritos bons”. No item 175, cap. 14,
do mesmo livro: “Médiuns curadores – Somente para mencioná-la, trataremos aqui
desta variedade de médiuns, porque o assunto exigiria demasiado desenvolvimento
para o nosso esquema. Estamos, aliás, informados de que um médico nosso amigo se
propõe a tratá-la numa obra especial sobre a medicina intuitiva”. E no item 193,
cap. 16, diz: “Médiuns medicinais – sua especialidade é a de servirem mais
facilmente aos Espíritos que fazem prescrições médicas. Não se deve confundi-los
com os médiuns curadores, porque nada mais fazem do que transmitir o pensamento
do Espírito, e não exercem por si mesmos nenhuma influência. Muito comuns”.

Allan Kardec considera “muito comuns” os médiuns medicinais, “aqueles cuja
especialidade é a de servirem mais facilmente os Espíritos que fazem prescrições
médicas”. Quando trata dos “médiuns curadores” coloca que “o assunto exigiria
demasiado desenvolvimento” para o esquema do livro (Livro dos Médiuns). Mas fica
claro a importância do tema.

Pergunta feita ao Divaldo P. Franco (“Diretrizes de Segurança”, item 21, cap.
1.°) – Qual a finalidade da existência de médiuns curadores?” Resposta: “A
prática do bem, do auxílio aos doentes. O apóstolo Paulo já dizia: “Uns falam
línguas estrangeiras, outros profetizam, outros impõem as mãos”. Como o
Espiritismo é o Consolador, a mediunidade, sendo o campo, a porta pelos quais os
Espíritos Superiores semeiam e agem, a faculdade curadora é o veículo da
Misericórdia para atender a quem padece, despertando-o para as realidades da
Vida Maior, a Vida Verdadeira. Após a recuperação da saúde, o paciente já não
tem o direito de manter dúvidas nem suposições negativas ante a realidade do que
experimentou. O médium curador é o intermediário para o chamamento aos que
sofrem, para que mudem a direção do pensamento e do comportamento, integrando-se
na esfera do Bem”.

As pessoas que condenam todo e qualquer tipo de atividade na mediunidade de
cura deveriam estudar a biografia de Eurípedes Barsanulfo, Cairbar Schutel, e
tantos outros. O próprio Francisco C. Xavier, durante muito tempo, atendeu a
essas tarefas. Os médicos desencarnados, especialmente Bezerra de Menezes, por
intermédio dele, respondia a centenas de consultas durante as reuniões semanais.
Da biografia do médium João Gonçalves do Nascimento, que está no livro “Grandes
Espíritas do Brasil”, organizado por Zêus Wantuil, e editado pela Federação
Espírita Brasileira, consta o seguinte: “Foi por volta de 1882 que o Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes, então deputado geral na Corte do Rio de Janeiro, resolveu
consultar o médium Nascimento sobre uma dispepsia que havia cinco anos o
torturava, não obstante haver ele recorrido aos mais famosos facultativos. — Eu
não acreditava nem deixava de acreditar na medicina medianímica, e confesso que
proprendia mais para a crença de que o tal médium era um especulador – eis como
Bezerra de Menezes julgava, a princípio, o abnegado Nascimento. Servindo-se de
um amigo de confiança, e em circunstâncias que não permitissem qualquer espécie
de fraude, o grande político cearense obteve a receita solicitada, com a
descrição de toda a sua moléstia, seguiu o tratamento prescrito, e, o que a
Medicina oficial não conseguira em cinco anos, Nascimento o obteve em apenas
três meses. Este e outro fato posterior, agora com a segunda esposa de Bezerra,
a qual tinha erradamente sido tratada como tuberculosa por importantes médicos,
ficara para sempre curada com as receitas do famoso médium do Grupo Espírita
Fraternidade. “Nada me impressionou mais afirmou Bezerra – do que ver um homem,
sem conhecimentos médicos e até sem instrução regular, discorrer sobre
moléstias, com proficiência anatômica e fisiológica, sem claudicar, como bem
poucos médicos o podem fazer”.

A biografia do médium Nascimento prossegue citando vários outros casos
extraordinários de diagnósticos corretos e curas, realizadas por seu intermédio.

A mediunidade curadora deve ser tratada como qualquer outra modalidade
mediúnica. Não se pode aprovar tudo o que se faz nessa área, mas negar,
indiscriminadamente, como se toda atividade nesse campo fosse estranha à
Doutrina Espírita não é correto. O médium de cura deve orientar seu
procedimento, observando:

  1. Vinculação a um Centro Espírita – A maior parte dos problemas
    constatados reside no fato de o médium não se submeter aos regimes
    doutrinários de um Centro Espírita;
  2. Estudo Sistemático do Espiritismo – Não se pode separar a prática
    mediúnica do estudo constante dos postulados espíritas;
  3. Gratuidade absoluta – A Doutrina Espírita não se coaduna com
    qualquer tipo de cobrança de prestação de serviço espiritual. ainda que
    disfarçada sob a forma de “presentes”, ou de “doações para instituições”;
  4. Exercício Constante da Humildade – O médium de cura deve
    conscientizar-se de que ele é apenas um elemento na complexa engrenagem
    organizada pelo mundo maior, engrenagem esta que vai encontrar no Cristo o seu
    condutor maior.

(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)