Mediunidade de Efeitos Espirituais
Pedro Camilo
“Não há muito, cooperei na mediunidade de efeitos físicos, (…) tentando servir ao Espiritismo, não obstante minhas deficiências e provações.
“Adapto-me, porém, agora, à mediunidade de efeitos espirituais, nela encontrando seguro caminho para a renovação com o Cristo.”
Durante os anos de 1918 e 1921, uma gama de surpreendentes fenômenos sacudiram o Brasil, e, especialmente, a cidade de Belém do Pará.
Revivendo os tempos áureos das pesquisas de Sir William Crookes, com a médium Florence Cook[1], e corroborando os fenômenos produzidos pelo surpreendente médium Mirabelli[2], Ana Prado, na cidade já mencionada, entregou-se à produção de vastos fatos, frutos de efeitos físicos, em sessões onde tomavam parte, entre outros, o Sr. Frederico Figner e sua esposa, D. Esther Figner.
As primeiras manifestações tiveram lugar em 12 de junho de 1918. Num fenômeno de transport[3], os Espíritos fizeram aparecer, sob pequena mesa situada na sala devidamente fechada, uma bela flor, que, de forma poética, simbolizava a avalanche de prodigiosas comprovações da imortalidade da alma que aquele pequeno grupo assistiria ao longo de três anos.
Muitas vezes, os Espíritos repetiram o transport, de flores, que chegaram ao número de vinte numa só sessão. Porém, também as moldagens em parafina ali aconteceram, quando, em dada ocasião, um molde perfeito de mão humana com dedos curvados fora produzido, ostentando, ainda, um lido ramalhete de rosas.
Como não bastassem tais produções, por si mesmas já bastante convincentes, os Espíritos também produziram materializações. Dentre os Espíritos materializados, destaca-se Raquel, que fora filha do casal Figner.
Ela apareceu, por primeira vez, no dia 2 de maio de 1921. Acompanhemos o registro do meu conterrâneo Carlos Bernardo Loureiro[4] de tão importante episódio:
“… Surgiu, junto à cortina, uma jovem, com todas as aparências e gestos de Raquel a tal ponto que D. Ester, sua mãe, exclamou: ‘É Raquel!’. Os gestos eram absolutamente os da filha dos Figner, e mesmo o corpo, a forma, ‘o vestidinho acima do tornozelo, de mangas curtas e um pouco decotado’. Apresentou-se, assim, diante dos assistentes na reunião de Ana Prado, e, muito especialmente, face a face com os seus pais.”
Foram, aqueles, momentos de grande contentamento para pai e mãe, e para esta em especial. Em uma das manifestações, Raquel pede à mãe que deixe de usar o luto, pois, como ela afirmara, era “muito feliz” em sua nova condição.
Encerrando suas anotações, assim se expressa Carlos Bernardo:
“Os fenômenos que ocorreram em Belém, Pará, através da fantástica faculdade mediúnica de Ana Prado, ombreiam-se aos mais notáveis já obtidos em várias partes do mundo. Ana Prado, sem nenhum favor, integra a galeria dos grandes médiuns que contribuíram, com sofrimento e profundos desgostos, para o engrandecimento e consolidação da causa do Espírito, Senhor do Tempo e dos Elos Perdidos…”
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Noite de 24 de fevereiro de 1955.
Na sede do Grupo Espírita Meimei, em Pedro Leopoldo, o médium Francisco Cândido Xavier torna-se passivo à já desencarnada médium Ana Prado[5].
Usando de uma simplicidade tão sua, Ana Prado faz breves considerações sobre sua tarefa mediúnica no plano físico e o seu objeto de dedicação no plano espiritual.
Dedicava-se, agora, conforme suas próprias palavras, “mediunidade de efeitos espirituais”, como pudemos acompanhar no início dessas anotações.
Mas, o que viria a ser essa “mediunidade de efeitos espirituais” de que trata? Entreguemos a ela, novamente, a palavra, permitindo-me, o leitor ou a leitora, a curiosa transcrição:
“Colaborei na materialização de companheiros desencarnados, na transmissão de vozes do Além, na escrita direta e na produção de outros fenômenos, destinados a formar robustas convicções, em torno da sobrevivência do ser, além da morte, no entanto, ao redor da fonte de bênçãos que fluía, incessante, junto de nossos corações deslumbrados, NÃO CHEGUEI A VER O DESPERTAR DO SENTIMENTO PARA O CRISTO, ÚNICO PROCESSO CAPAZ DE ASSEGURAER À NOSSA REDENTORA DOUTRINA O TRIUNFO QUE ELA MERECE NA REGENERAÇÃO DE NÓS MESMOS.” (destaques meus)
Na seqüência, a lúcida entidade enfatiza os perigos a que se expõe o médium de efeitos físicos, que corre o risco de crer-se mais do que em verdade é, sendo, apenas, mero intermediário do invisível e depositário das bênçãos divinas. Porém, entregando-se à ilusão da superestima devastadora, entrega-se, também, às entidades inferiores, incursionando em obsessões de duas proporções.
Acompanhemos, um pouco mais, sua “Observação Oportuna” a cerca da vaidade:
“A vaidade na excursão difícil, a que nos afeiçoamos com as nossas tarefas, é o rochedo oculto, junto ao qual a embarcação de nossa fé mal conduzida esbarra com os piratas da sombra, que nos assaltam o empreendimento, buscando estender o nevoeiro do descrédito ao ideal que esposamos, valendo-se, para isso, de nosso próprio desmazelo.”
E onde encontrar o remédio para esses males, e mesmo a prevenção contra a vaidade e todos os perigos a que a mediunidade, não somente a de efeitos físicos, mas também de efeitos inteligentes pode levar?
A resposta está naquilo que ela chama de MEDIUNIDADE DE EFEITOS ESPIRITUAIS!
Evoquemos, mais uma vez, as suas palavras:
“Minha singela observação reporta-se apenas à profunda significação do serviço evangelizador, em nosso intercâmbio, porque o sofrimento, a ignorância, a irresponsabilidade, os problemas de toda espécie e os enigmas de todas as procedências constituem o ambiente comum da Terra, perante o qual a MEDIUNIDADE DE EFEITOS ESPIRITUAIS deve agir, renovando o sentimento e abordando o coração, para que o raciocínio não prevague ocioso e inútil, à mercê dos aventureiros das trevas que tantas vezes inventam dificuldades para os veneráveis supervisores de nossas realizações.” (destaques meus)
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Para finalizar essas breves anotações, permita o leitor ou a leitora trazer a contribuição do professor Odilon Fernandes[6], que, de forma simples e direta, sintetiza a MEDIUNIDADE DE EFEITOS ESPIRITUAIS que todos, médiuns ostensivos ou não, temos o dever de exercitar:
“Que os médiuns cumpram, silenciosamente, o seu dever, recordando-se das palavras de Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios: ‘Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus.’”