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Momento de Transição

Momento de Transição

Efetivamente, como argumentam alguns membros do
movimento espírita, é hora de muito cuidado visto que vivemos um momento de
transição envolvendo toda a humanidade, um momento diante da eternidade, mas
cujas conseqüências para o futuro são extremamente importantes e estão em nossas
mãos, dependem de como hoje, agora, nos posicionamos diante da realidade
presente e dos fatos que a compõem, os quais, por sua vez, serão exatamente as
determinantes das condições e inúmeras circunstâncias vindouras.

Mesmo sem grandes conhecimentos, compreendemos a extensão da nossa
responsabilidade, não só quanto a nós, mas quanto a tudo e a todos, na medida em
que constatamos a inter-relação e a interdependência universais (1); quando
passamos a perceber que o excesso de um lado significa a carência de outro; que
a felicidade só se completa na medida em que se expande e abrange mais e mais
criaturas, que a paz de todos origina-se na pacificação de cada indivíduo.

É hora, portanto, de analisar o passado, avaliar os resultados alcançados; a
história está repleta de exemplos. É hora de nos libertarmos dos nossos
conceitos bolorentos e dos nossos preconceitos, dos nossos atavismos, vícios e
medos. É hora de ousar encarar a verdade, mostrar a verdade, viver a verdade,
pois não há outro caminho para a efetiva libertação. “São chegados os tempos em
que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido…” (2) a
fim de que possamos superar essa fase de transição com mais facilidade e
segurança.

Já vimos antes um pequeno colegiado elitista, vaidoso e arbitrário querer
firmar normas e estabelecer sistemas, arrogando-se pressupostamente o direito de
falar e decidir por milhares de almas. Já vimos antes pactos, acordos, tratados
que envolviam milhares de criaturas serem assinados por meia dúzia de
auto-escolhidos, pobres seres convencidos de sua pretensa supremacia e
presunçosa sabedoria.

E mesmo diante da derrocada desses procedimentos, mesmo em face da
comprovação de sua inutilidade, mesmo percebendo a sua fragilidade no decorrer
do tempo, de quanto estavam enganados, iludidos e iludindo criminosamente os
fracos, infelizes e miseráveis material e moralmente, ainda hoje vemos a
repetição dessas mesmas posturas, dessas mesmas intenções, desses mesmos
comportamentos doentios e fascinados.

E vemos hoje, alarmados diante do consentimento e da cumplicidade dos omissos
e comodistas, essa repetição dentro da Doutrina Espírita, praticada exatamente,
novamente, por uma meia-dúzia de bispos e cardeais mal disfarçados que se
agrupam, se encerram e, entre quatro paredes, assinam e reassinam os mesmos
pactos, acordos, tratados, aparentemente com maior empenho e esperanças maiores
de atingir os seus objetivos de glória e poder.

Tivemos o tão cantado porém em profundidade tão pouco conhecido pacto áureo,
assinado em paralelo à realização de um congresso em que participavam figuras
ilustres e respeitadas como Deolindo Amorim, mas que, no entanto, dele não
participaram. Recentemente, dentro dos mesmos parâmetros, foi firmado o acordo
de união – a foto do artigo que relata o fato mostra bem o reduzido número de
pessoas diretamente envolvidas. E isso porque mais uma vez como se já não
conhecêssemos o resultado dessas atitudes, busca-se uma unificação de
procedimentos, quer-se o estabelecimento de diretrizes ditadas pelos interesses
pessoais de alguns, sem que a efetiva união em torno da fidelidade aos
transparentes princípios doutrinários seja a sincera e verdadeira preocupação
desse pequeno grupo.

Da mesma forma, e igualmente alarmante, é o fato de a União Espírita Francesa
e Francofônica, até agora responsável pela iniciativa da reedição da tradicional
“Revue Spirite”, fundada, realizada e editada por Kardec, assinar um protocolo
para cessão de propriedade e direitos dessa revista para o CEI – Conselho
Espírita Internacional. Ora, sabemos que justamente o Secretário Geral e
signatário desse protocolo é membro da diretoria da Federação Espírita
Brasileira, entidade condutora de todas essas manobras; entidade que, embora se
auto-promulgue chefe máxima do Espiritismo no Brasil, até hoje nunca traduziu ou
publicou os doze anos de exemplares mensais da Revue Spirite de Allan Kardec –
mas não vacilou em traduzir e publicar Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing,
e mais ainda, em tornar obrigatório e parte integrante de seus estatuto o estudo
da citada obra, discordante em inúmeros aspectos dos princípios espiritistas.

Como dizem portanto muitos dos companheiros envolvidos com os fatos acima
descritos, a hora é de muito cuidado, momento de transição para um novo tempo.
Mais do que nunca somos chamados à responsabilidade para com o nosso futuro,
tanto no plano físico como no extrafísico, visto que já não podemos alegar
desconhecimento e ignorância. Mais do que nunca somos constrangidos a abraçar os
nossos compromissos e deveres em nome da solidariedade e da fraternidade, em
nome da justiça e do amor. E o nosso compromisso é, acima de tudo e de todos,
com a verdade.

Kardec adverte, com muita propriedade, no item 2 – Autoridade da Doutrina
Espírita, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Toda teoria em
contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados
positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve
ser rejeitada.”

(1) O Livro dos Espíritos, questão 540

(2) O Evangelho s/o Espiritismo, Prefácio, Espírito Verdade.

(Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 361 de Fevereiro de 2001)