Paulo Roberto Martins
Como entender a morte de uma menina com 13 anos de idade em um corpo de 8, todo macerado pela falência prematura dos rins ?
Como entender a morte de uma menina 4 dias após sua festinha de aniversário, faltando apenas 1 único dia para a comemoração do natal de Jesus Cristo e 4 meses depois de ter recebido um rim de uma outra criança assassinada pelo próprio pai?
Como entender a morte de uma menina que eu amava e que tinha a minha fotografia em cima do móvel da sala de sua paupérrima casa ?
Algum de nós, trabalhadores voluntários da hemodiálise no IMIP, procura entender através da religião ou doutrina que professa, indagações como estas, não meramente filosóficas, mas bastante realistas e tradutoras de sofrimentos incompreensíveis.
A maioria de nós simplesmente ama todas estas crianças.
Muitas e muitas vezes recebemos em troca cara feia, pontapé, resposta rude e outras tantas malcriações que no fundo nada mais são do que a revolta pela doença e o não entendimento da situação atual em que se encontram, sob os auspícios de conseqüências dos erros pregressos em vidas passadas.
Morreu Moniquinha…
Morreu dizendo, como quase todos que precederam-na lá no setor de diálise : “Mãe, me dê um abraço para eu sentir o calor do seu corpo. Nos encontraremos depois no Paraíso.”
Nossa alegria foi ter dado para Mônica um pedaço desse paraíso aqui mesmo entre nós, antes que partisse para a grande viagem em direção à nossa verdadeira morada.
Uma tarde no shopping, outra no cinema, pipoca e pizza.
Como entender a morte de uma menina com 13 anos de idade e que até pouco tempo atrás, nunca tinha entrado em um shopping, assistido um filme no cinema, comido pipoca salgada e se deliciado com uma pizza ?
Morreu Moniquinha…
Ela não amava a vida e morreu sem entender a sua vida e sua morte.
Nós amávamos Moniquinha sem nunca pedir nada em troca e recebíamos todo o amor que ela não devotava à sua própria vida.
De uma maneira ou de outra, nós entendemos a morte de Moniquinha.
Novamente o amor triunfou.
Fernando Pessoa disse : “A morte é a curva da estrada, morrer é só não ser visto”.
Nos avistaremos, Mônica, quando chegar a nossa hora, logo ali depois da curva da estrada que você fez tão cedo.
Morreu Moniquinha…
Paulo Roberto Martins
Recife, 23 de Dezembro de 2001 às 15:00hs