Não
Se o leitor é assinante de o Reformador e observou atentamente a capa do
número do mês de julho de 2000 notou que lá há sete vezes a palavra não
nos cinco cartazes da campanha da Federação Espírita Brasileira “EM
DEFESA DA VIDA” reproduzidos na capa do periódico.
Neste caso o não aparece explícito, mas vale a pena lembrar que
em várias circunstâncias ele é implícito tal como no caso da proibição, por
órgãos federais, do vídeo game Carmagedon que incitava a banalização da vida em
duas versões.
Em nossa cultura há uma certa resistência do uso do negativo uma vez que na
maioria das vezes que é utilizado vem acompanhado de uma carga emocional
negativa, entretanto, necessariamente assim não precisa ser. Há que se lembrar
que entre nós há o falso conceito que quem é bom nunca diz não, e
lembro-me que quando éramos expositora da USE Ribeirão, aprendemos, em uma das
preparatórias das atividades mensais, que ser bom é diferente de ser “bobo”.
É necessário considerar, entretanto, que aprender a dizer não com
equilíbrio e serenidade é um aprendizado nem sempre fácil, pois dizer
sim ou não exige análise reflexiva e não pode nascer de um
impulso ou estado de ânimo alterado ou preguiçoso. Quando estamos alegres
tendemos a dizer sim, quando com raiva, a dizer não, e quando não
queremos ter trabalho a opção é feita no sentido de resolver depressa.
O nosso Mestre Jesus já nos ensinava “Mas seja o vosso falar: sim, sim;
não, não” (Matheus 5: 37). Este ensinamento está contido em O Sermão do
Monte, que sabemos ser o código de ética do Cristianismo, uma vez que ali estão
todas as diretrizes do agir do cristão.
Há os opositores que vêm nesta afirmação uma atitude radical e inflexível,
porém o que o Cristo nos dizia era da necessidade de sermos assertivos, conceito
hoje claramente apresentado pela psicologia.
Assertivo é o indivíduo que sabe definir claramente o seu papel, que sabe que
a passividade o transforma em pessoa manipulável sempre fazendo o que os outros
querem, sabe também que a agressividade e a inflexibilidade nem permitem um
viver em grupo de forma harmônica e agradável. A pessoa assertiva esta disposta
a ouvir o outro e a ponderar a respeito de pontos de vista diferentes do seu,
entretanto sempre terá o seu sistema de valores como referência para incorporar
idéias e atitudes. Se espírita, seu referencial de análise será o espiritismo.
Se desta análise surgir um ele virá sem qualquer traço de
agressividade. Um exemplo disto nos dá André Luiz no caso da alimentação em
Nosso Lar quando após trinta anos de argumentação o Governador da colônia deu um
basta nos excessos: “Não houve combate, nem ofensiva na colônia, mas
resistência absoluta… A colônia ficou, então, sabendo o que vem a ser a
indignação do espírito manso e justo“.
Em seu livro Pão Nosso, Emmanuel, nos traz uma belíssima lição Intitulada “O
‘não’ e a luta” da qual faremos algumas citações concluindo nossa matéria:
“O ‘sim’ pode ser agradável em todas as situações, todavia, o ‘não’, em
determinados setores da luta humana, é mais construtivo”.
“Tanto quanto o ‘sim’ deve ser pronunciado sem incenso bajulatório, o ‘não’
deve ser dito sem aspereza”.
“Muita vez, é preciso contrariar para que o auxílio legítimo se não perca;
urge reconhecer, porém que a negativa salutar jamais perturba. O que dilacera é
o tom contundente no qual é vazada”.
(Jornal Verdade e Luz Nº 175 de Agosto de 2000)