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Nós humanos, ansiosos por natureza

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Enéas Canhadas

Vamos conversar um pouco sobre ansiedade? Dependendo de como você reagiu a esta pergunta, já pode ter uma ideia sobre o seu nível de ansiedade. Um sobressalto pode indicar medo. Vivo interesse pode indicar pressa. Calma pode indicar ponderação e, portanto, menos ansiedade. A ansiedade passou a ser um sentimento inerente ao ser humano nos tempos modernos. Pode ser entendida como um estado natural e próprio da sobrevivência nos nossos tempos, em especial no século XXI. Veja você, leitor. Não é razoável pensar que um ser muito primitivo, vivendo ainda nas cavernas ou em choupanas absolutamente vulneráveis, tanto pela natureza como por outros seres e animais, tendo que sobreviver, não fosse já, naqueles tempos remotos, um ser ansioso? Não haveria naquela época essa tal ansiedade? É quase certo que sim. O homem do gelo , uma múmia de cinco mil anos, descoberta nas geleiras há poucos anos atrás, provavelmente morreu naqueles lugares gelados e inóspitos, carregando alguma comida, armas rudimentares e apresentando sinais de luta, em estado de ansiedade, não só ao lutar como também ao ver-se perdido, o que acabou levando-o à morte. A ansiedade manifesta-se pela consciência que podemos ter das sensações desagradáveis e os humanos, de maneira muito mais aguçada, a consciência do próprio nervosismo e dos medos de algo que nos ameaça.

A quantidade e a qualidade das experiências dos dias atuais é que sobrecarregam-nos e nos impõem limites que contribuem, ainda mais, para aumentar a ansiedade. Então, quer dizer que estamos condenados a sermos ansiosos?  Essa pergunta contém um determinismo muito frustrante e que nos torna impotentes. A radicalização de uma ideia jamais leva à sua compreensão.

A pergunta mais correta é no sentido de pensar sobre o que podemos realizar uma vez que, somos irremediáveis ansiosos. O que fazer? Razões para sofrermos de ansiedade, não faltam. Tensões entre ir e não ir, fazer e não fazer, querer e não poder, dever e não querer, poder e não dever e assim por diante. Estamos ansiosos quando constatamos que sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja. Uma sensação de que temos muita coisa para fazer e pouco tempo para realizar. Não adianta dizer para uma pessoa, durante uma crise de ansiedade, que ela precisa se acalmar ou então que a tarefa que ela está fazendo tem tempo suficiente para ser concluída e, por isso, ela deve se acalmar. A única coisa que uma pessoa ansiosa não consegue é ficar calma. Você estaria solicitando, exatamente o que ela não pode conseguir naquele momento de descontrole. Uma pessoa obsessiva é ansiosa?

Com certeza podemos dizer que o comportamento obsessivo acontece em estado de ansiedade. Quando alguém está apresentando um comportamento obsessivo, está ansioso. O chamado transtorno obsessivo compulsivo, termo que está hoje, no domínio público, na verdade combina obsessão e compulsão. Você pode estar se perguntando o que é compulsão? De maneira simples, podemos explicar que a compulsão é a inclinação que possuímos para sermos compulsivos e obsessivos. Acreditamos, que seja um resquício da nossa condição anímica, a tendência à repetição que os mecanismos instintivos colocaram dentro da nossa natureza animal há milhões de anos. Repare que a natureza faz as suas funções e os seus movimentos contados em milhões de anos, e só modifica-os quando realmente se torna necessário. Um peixe , encontrado em rio que corre dentro de uma caverna, onde a luz do sol nunca consegue atingir, perdeu os olhos por não precisar deles, mas isso contado em milhares de milênios. As abelhas produzem o mel do mesmo jeito, em todos os lugares do mundo, construindo os seus favos num mesmo modelo, e isso já, há milhões de anos. Sendo assim, trazemos o germe da repetição. Por isso a rotina e os atos repetitivos, facilmente são transformados em hábitos dos quais temos muitas dificuldades para nos livrar. Mas, vamos voltar à obsessão?  De forma simples podemos dizer que se trata da perda de controle sobre os pensamentos.

Essa perda leva-nos a uma tentativa de aliviar a tensão que estamos sofrendo. Para garantir esse alívio, criamos alguns rituais como se fossem fórmulas tais como, dizer três vezes a mesma coisa, passar a mão três vezes sobre superfícies da mesma natureza como a madeira, por exemplo, dar três pulinhos para que uma coisa seja encontrada e assim por diante. O número três aqui é mera ilustração. Os números são determinados pelo próprio comportamento obsessivo. Quando assimilamos um ritual, logo ficamos com medo de não poder realizá-los em algum momento se algo for nos impedir. Movidos pelo medo de punição (se o ritual não for realizado inteiramente) e pela necessidade de cumpri-lo, (executando-o até o final para que tudo saia bem), a obsessão está instalada. As obsessões menos graves começam com pensamentos insistentes , desagradáveis, por vezes repulsivos, até mesmo contrários a índole da pessoa que os executam. Como você vai ler em Conviver e Melhorar: “sua mente é semelhante a um moinho que tritura sem cessar sonhos e pensamentos. Suas ideias se revezam como cartas em desordem sobre um pequeno console, causando sempre consternação. Não se esqueça, todavia, de que o poder mental, como qualquer das faculdades humanas, é submetido ao controle do homem, a quem cabe direcioná-lo.” Aquela musiquinha que fica nos nossos ouvidos como um disco a repetida insistentemente, é um outro exemplo muito comum. Podemos dizer que alguém está começando a ficar doente de transtornos obsessivos compulsivos quando começam a acontecer perdas significativas de tempo e queda no rendimento pessoal, muitas vezes impedindo que a pessoa trabalhe ou mantenha o seu nível normal de desempenho. Onde entram as fobias nessa história toda?

São medos desencadeados por situações que não apresentam nenhum perigo real, porém, são exagerados, desproporcionais enquanto reações comparadas com o objeto ou situação que está causando a fobia, incontroláveis, mais do que qualquer medo. Por isso, podemos dizer que toda fobia é um medo, mas nem todos os medos são fobias. Em casos extremos a fobia social, que faz com que as pessoas tenham medo de sair de casa ou do contato com agrupamento de pessoas, em graus extremos podem fazer com que a pessoa fique confinada ao seu lar (seu ambiente de segurança), não consiga trabalhar, nem pegar ônibus ou metrô, viajar de qualquer modo, entrar em elevadores ou passar sobre pontes. Em geral não há histórias de traumas ou ameaças que podem ter causado tal fobia ou tamanho medo. São de difíceis dissoluções e necessitam de todo tipo de ajuda possível. É bom ainda mencionar, os transtornos de pânico que aparecem em crises passageiras, e também de maneira intensa, repentina e inesperada, causando fortes sintomas físicos e mentais, e que só se dissipam quando a pessoa consegue fugir para um lugar que represente abrigo ou proteção.

Devemos aceitar ou apenas entender a ansiedade?  Emmanuel nos responde a essa pergunta assim: “Opondo-se às inquietações angustiosas, falam as lições de paciência da Natureza, em todos os setores do caminho humano. Se o homem nascesse para andar ansioso, seria dizer que veio ao mundo, não na categoria de trabalhador em tarefa santificante, mas por desesperado sem remissão. Indubitável que as paisagens se modificarão incessantemente, compelindo-nos a enfrentar surpresas desagradáveis, decorrentes de nossa atitude inadequada, na alegria ou na dor, contudo, representa impositivo da lei a nossa obrigação de prosseguir diariamente, na direção do bem. A ansiedade tentará violentar corações generosos, porque as estradas terrenas desdobram muitos ângulos obscuros e problemas de solução difícil; Justo é desejar, firmemente, a vitória da luz, buscar a paz com perseverança, disciplinar-se para a união com os planos superiores, insistir por sintonizar-se com as esferas mais altas. Não olvides, porém, que a ansiedade precede sempre a ação de cair.”

Um exame de DNA revelou que o pré-histórico homem do gelo italiano apelidado de “Otzi” pode ter morrido após um longo combate com seus inimigos. É um cadáver de 5 mil anos encontrado quase intacto em uma geleira no norte da Itália há mais de uma década. Pelos estudos feitos, parece que ele estava perto de uma fronteira (tribal), aonde batalhas sangrentas freqüentemente ocorriam. A múmia mais antiga já desenterrada, foi encontrada nos Alpes em 1991, surpreendendo os cientistas por seu excelente estado de conservação, por causa do gelo. Ele usava roupas feitas de couro e vegetais e levava um machado de cobre, uma cuia e flechas. Novas pesquisas dão pistas sobre como foram as sangrentas últimas horas de vida dele. Site Terra, 13 de agosto de 2003.  Na cidade de Iporanga, no Vale do Ribeira, a 360 quilômetros de São Paulo, encontram-se cavernas únicas no mundo, na caverna das Areias é a única do mundo em que vive o bagre cego, um peixe albino, sem olhos, que se orienta pelos longos bigodes que funcionam como radares.  Ler o capítulo 42 “Pensamentos Indesejáveis” do livro Conviver e Melhorar, de Francisco do Espírito Santo Neto pelos espíritos Batuíra e Lourdes Catherine, Edit. Boa Nova, Catanduva-SP., 2ª ed., junho/99.  “Pão Nosso”, capítulo 8, psicografado por Chico Xavier, FEB, Rio de Janeiro, 21ª ed., 2001.