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O Espanto do Céptico

O Espanto do Céptico

“És mestre e não sabes essas coisas?”- Jesus. (João, 3:10).

Ambos são católicos: marido e mulher. Esclarecidos e de mente arejada, longe
estavam, por isso mesmo, de qualquer eiva preconceituosa, e, embora fiéis a sua
titularidade religiosa, sentiam singular simpatia pelos postulados espiritistas
aos quais, ao contrário de muitos outros “cristãos“, respeitavam…

Vez por outra recebiam a visita fraterna de um frade a quem vinculavam-se por
estreitos laços de afinidades. Em uma ou duas oportunidades, ao visitá-los, o
frade-amigo deparou-se com “um estranho no ninho“, isto é, uma pessoa que
de forma clara e inequívoca era reconhecida na sociedade daquela morigerada
cidade como Espírita militante e confessadamente declarado!…

Da primeira vez, o bondoso frade ficou calado, limitando-se a lançar esquivos
olhares de soslaio. Porém, no segundo flagrante, não agüentou: Achou que era seu
dever alertar às “indefesas ovelhas” sobre aquela invasão indébita ao seu redil.

E, muito delicadamente, com extrema diplomacia e tato, exorou aos amigos a se
precaverem com tal amizade, vez que os Espíritas “têm parte com o demônio”,
e se não evitassem tais contatos, cedo ou tarde estariam “mexendo com essas
coisas
“, e estariam, assim, irremediavelmente condenados ao fogo do Inferno.
Encerrou seus avisos com o seguinte argumento: “Os Espíritas são como
cordeiros por fora, mas lobos rapaces por dentro; são envolventes e têm enorme
poder de sedução!…”

O casal sorriu das fobias e ingenuidade do amigo, mas não deu maiores apreços
às suas palavras, vez que, na verdade, o amigo Espírita de longa data lhes
cumulava com as benesses da mais alta estima e consideração. E a vida continuava
sua rotina de sempre…

Um belo dia, numa de suas visitas consuetudinárias ao jovem casal, o frade
amigo não encontrou nenhum dos dois em casa. Mas a empregada, solícita,
pediu-lhe que os esperasse na sala de visitas, pois não tardariam a regressar.
Instalou-se, então, confortavelmente na poltrona macia e – despreocupadamente –
começou a folhear um livro que se encontrava sobre a mesinha de centro.

Tão deslumbrado ficou o frade com o conteúdo do livro que tomou de um lápis e
começou a sublinhar os conceitos que lhe causavam admiração. A cada página que
virava, novas surpresas!… À medida que avançava pelas páginas, mais empolgado
ficava o frade…

E, nessa faina, foi surpreendido pelo casal amigo que acabava de chegar. Ao
vê-los, exclamou feliz:

– “Que livro maravilhoso! – Quantos ensinamentos cristãos! Que beleza!…”

O casal, um tanto sem graça e constrangido, pediu ao Frade para prestar
atenção na capa do livro. Então ele leu:

“SINAL VERDE” ditado pelo Espírito André Luiz ao médium Francisco
Cândido Xavier.

Com o susto, o livro caiu no chão, e, de olhos esbugalhados, tartamudeou:

“Não disse para vocês que os Espíritas são envolventes?”

A partir daí não sabemos mais o que aconteceu, mas que a semente foi
plantada, ah!, isso foi!… São sementes que, se não dão uma colheita abundante
e imediata na primeira safra, não estão perdidas para as safras futuras…

Já no ano de 1868, Kardec escrevia na “Revue Spirite”:

“(…) É notório para todos, e da própria confissão dos adversários, que as
idéias Espíritas ganharam terreno consideravelmente. (…) Elas se infiltram por
uma porção de brechas; tudo concorre para isto; as coisas que, à primeira
vista, a elas pareciam estranhas, são meios com a ajuda dos quais essas idéias
vêm à luz.

É que o Espiritismo toca em tão grande número de questões, que é muito
difícil abordar seja o que for sem ver aí surgir um pensamento espírita, de tal
sorte que, mesmo nos meios refratários, essas idéias brotam sob uma ou outra
forma, como essas plantas de cores variadas, que crescem por entre as pedras. E
como nesses meios geralmente repelem o Espiritismo, por espírito de prevenção,
sem saber o que Ele diz, não é surpreendente que, quando pensamentos espíritas
aí aparecem, não os reconheçam, mas, então, os aclamam, porque os acham bons,
sem suspeitar que é o Espiritismo.

A leitura contemporânea, grande ou pequena, séria ou leviana, semeia essas
idéias em profusão: é por elas esmaltada e não lhe falta senão o nome. Se se
reunissem todos os pensamentos espíritas que correm o mundo, constituir-se-ia o
Espiritismo completo. Cada pessoa tem em si alguns de seus elementos, no estado
de intuição. Entre os seus antagonistas não há, o mais das vezes, senão uma
questão de palavras. Os que o repelem com perfeito conhecimento de causa são os
que têm interesses subalternos a defender, por isso o combatem…

Mas, então, como chegar a fazê-lo conhecer para triunfar das prevenções?
Isso é obra do tempo
!…”

“Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio de espiga.”,
são as palavras de Jesus registradas pelo evangelista Marcos, no capítulo
quatro, versículo vinte e oito.

Continua Kardec:

“É preciso que as circunstâncias favoreçam as condições de a luz chegar aos
meios refratários naturalmente, e para isto pode-se contar com os Espíritos, que
sabem fazê-las nascer em tempo oportuno. Essas circunstâncias são gerais ou
particulares. As primeiras agem sobre as massas e as outras sobre os indivíduos.
As primeiras, por sua repercussão, fazem o efeito das minas que, a cada
explosão, arrancam alguns fragmentos do rochedo da ignorância.

Que cada Espírito trabalhe de seu lado sem desanimar com a pouca importância
do resultado obtido individualmente, e pense que à força de acumular grãos de
areia se forma a montanha.

(…) No exame da situação, não só há que considerar os grandes movimentos
ostensivos, mas há, sobretudo, que levar em conta o estado íntimo da opinião e
das causas que a podem influenciar. Se se observar atentamente o que se passa no
mundo, reconhecer-se-á que uma porção de fatos, em aparência estranhos ao
Espiritismo, parecem vir de propósito para lhe abrir as vias. É no conjunto das
circunstâncias que se devem procurar os verdadeiros sinais do progresso. O
futuro do Espiritismo, sem contradita, está assegurado; e seria preciso ser cego
para o duvidar. A sua invulnerabilidade e sua força são incontestáveis e não só
os Espíritas verdadeiros, mas, por mais paradoxal que possa parecer, os que
tiverem querido derrubá-lo terão preparado o seu triunfo
.”

O Espiritismo está em a Natureza. Faz parte dos desígnios Divinos. Afinal,
não foi o próprio Cristo quem prometeu para o futuro o advento do “Consolador”?

Pois o futuro já chegou pelos meados do século XIX, quando Allan Kardec,
segundo a promessa de Jesus, juntamente com os Espíritos Benfeitores da
Humanidade, trouxeram a “Codificação Espírita” ao mundo e, tal como uma árvore
frondosa, o Espiritismo espraiará por toda a Humanidade a sua ramaria fértil e
plena de frutos sazonados do Amor, da Esperança, da Caridade e da Fé
Raciocinada, que, sem sombra de dúvida, serão as alavancas de nossa definitiva
alforria espiritual.

(Jornal Mundo Espírita de Julho de 1997)