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O Esperanto é bom ?

Não tenho nenhuma intenção em me exibir, mas também sou poliglota (falo
fluentemente em seis idiomas), professor de português e “linguista amador” – uso
esses idiomas em minha profissão diariamente. Convivo com europeus e
“americanos” e o que acabei de relatar acima é outro fato, proveniente de fontes
seguras. Ademais, quando existe a argumentação sobre a hegemonia em certa época
do Latim, do Grego, do Espanhol e do Francês, há de se ver prontamente que nos
seus respectivos tempos não existia a comunicação EM MASSA como existe hoje. A
Internet chegou e provou que o inglês está aí. Essas comparações com os idiomas
históricos já não se podem ser feitas, pois, repito, às épocas deles não existia
a tecnologia que há hoje, permitindo-nos a comunicação direta e imediata de e
para qualquer parte do mundo. Naquelas eras, sempre houve o romantismo dos
homens em se comunicar mais e mais, coisa que nós, do século XX conseguimos.
Naquelas eras, não havia o cinema dominantemente americano, nem as transmissões
“ao toque” das músicas de cantores ingleses. Todos se comunicam em inglês,
queiram ou não queiram (o que é mais freqüente). Existe, no mundo todo, uma
força à qual não se pode opor resistência: “anglicizar” as pessoas. Basta ligar
um rádio ou uma TV, e qual o idioma que vamos escutar com mais freqüência? E o
teclado que usamos para digitar os textos, acaso aceitam eles os acentos
especiais do Esperanto? A resposta é sonoro “não”!

Perguntam-me com certa freqüência se a força do “anglicismo” não seria
passageira. Eu respondo, assim como todos os lingüistas mundialmente famosos o
fazem em uníssono, que essa força não é passageira. Infelizmente. Estamos em uma
época em que todos vêem e escutam o inglês com uma freqüência assustadora
diariamente, a ponto de nosso próprio belo idioma incorporar expressões
ridículas dele.

Não. O inglês é uma língua profissional, que quando apresentado em salas de
aula, é feito com vídeos, fitas cassetes e uma parafernália de material que,
queira ou não, é atraente ao aluno que vai em busca de algo que possa levá-lo a
se comunicar em outro idioma. Asseguro que esses materiais não são feitos
tendo-se em vista o lucro obtido, mas é minuciosamente pensado e elaborado em
como fazer uma pessoa não conhecedora do idioma chegar a falá-lo em um período
de alguns meses ou anos.

O Esperanto não tem nada disso. Sofre, infelizmente, de uma falta de estudo
pedagógico e de incentivo monetário para que se realize como língua
verdadeiramente internacional. Mente, com total falta de decoro, quem diz que o
Esperanto é fácil. Não é! Estão aí os quatro acusativos, os correlativos e o
monte de sufixos e prefixos que o aluno deve decorar. Vi o boletim do GEAE em
Esperanto e afirmo que muito gostei! Mas já aí deu para sentir como é difícil
também a escrita em Esperanto pelo computador. A acentuação, condenada nos dias
de hoje, tornam-no um pouco difícil de lê-lo. Como professor, posso afirmar com
certeza de que o Esperanto é, dos idiomas existentes, o menos difícil de se
aprender. Mas dizê-lo que é o mais fácil é ter falta de visão e comprar uma
idéia sem antes experimentá-la.

Mas, por favor, não pensem que estou defendendo a língua inglesa!

O que pretendo argumentar é que já não é mais época para o Esperanto na forma
como ele hoje se encontra, eu lamento muito. O Esperanto não será o idioma do
futuro! Definitivamente não. Isso se deve ao fato de que ele não agrega
características totalmente neutras em seu vocabulário nem em sua gramática, pois
nasceu em um berço europeu, quando somente a Europa era sinônimo de
“civilização”. Zamenhof não tinha culpa nisso, pois pegou o que de melhor havia
à sua volta. Ele não era lingüista nem conhecia muito, mas estava plenificado de
um ideal nobre.

Entretanto, as línguas mudam com o passar do tempo (veja-se o próprio
Português usado no Brasil). Na nossa época de veloz modernidade, ainda há muitas
coisas “dogmáticas” ainda no Esperanto e seus acadêmicos não tendem a ser nenhum
pouco flexíveis para torná-lo mais adaptado a ela. Logo, o Esperanto está
ficando velho (e ranzinza) antes da hora. Um exemplo fatídico e que me cortou o
coração foi quando um irmão paraguaio me abordou e me perguntou: “por que é que
o nome do meu país (Paraguai) é, em Esperanto, “Paragvajo”? Será que nunca
ninguém parou para se perguntar se nós, paraguaios, fomos consultados para se
saber qual seria a pronúncia mais próxima para o nome do nosso próprio país?
Não!” E a resposta que eu pude encontrar naquele momento era que o encontro
consonantal “GV” foi colocado para facilitar a fonética apenas dos falantes das
línguas germano-escandinavas. Além disso, os lingüistas de plantão sabem que os
“hispano parlantes” não conseguem pronunciar o “V”.

Se alguém quiser argumentar a respeito, peço que antes estudem as fonéticas
de todos os povos do planeta e suas culturas e orgulhos com relação às suas
nações. E antes que venham querem invocar a democracia do Esperanto, eu afirmo:
a verdadeira neutralidade será atingida quando todos, efetivamente todos os
povos do mundo forem respeitados. E não será preciso nenhuma língua extraterrena
para que isso se dê, basta boa vontade e conseguir-se-á provar como o Esperanto
pode ser flexível a todos, TODOS os povos do planeta. A Doutrina Espírita se
preza pelo respeito que ela tem para com todas as religiões do mundo (embora
existam ataques vindo da parte de muitas delas), e faz de tudo para que seus
adeptos mantenham uma neutralidade fraterna e quase ecumênica. Não é o que
acontece com o Esperanto.

Isso tudo não é uma crítica ofensiva ao Esperanto. É uma preocupação.
Enquanto os tantos encontros esperantistas mais se parecem com um encontros de
compadres e comadres que debatem temas inúteis que nunca são colocados em
prática sem se chegar a lugar nenhum, enquanto os esperantistas do mundo todo
pensam ser o dono da língua, milhares de esperantistas ocultos se perguntam em
como fazer dele uma verdadeira língua internacional, já que ele nos mostra como
podemos nos comunicar fraternal e neutramente no mundo todo, como podemos nos
ajudar mutuamente, como podemos ser verdadeiros seres humanos. Essa é sua
qualidade.

E é essa qualidade que todo verdadeiro Cristão, que utiliza o Esperanto como
ferramenta de trabalho em nome do Mestre, deverá ter no dia-a-dia. Nós,
esperantistas de fim-de-século, somos apenas o início para uma verdadeira união
das pessoas no futuro, tal como sonhava Gandhi. Por isso, longe de nós fique a
pretensão de se ter o Esperanto como idioma do terceiro milênio, pois não o
será!

Por isso, meus irmãos espíritas que se dizem também esperantistas, se vocês
realmente gostam do Esperanto, revejam suas intenções e AMEM-NO, usem-no como
verdadeiro instrumento de propagação dos ideais do Mestre. Mas para isso,
estudem-no como o fazem os profissionais de outras línguas. Não sejam
esperantistas medíocres! Não sejam simplesmente “esperantistas-espíritas”!
Sejam, antes de tudo, Cristãos, e usem o Esperanto como força de trabalho,
profissionalmente inclusive.

Não se embalem pelas idéias já feitas. Até Kardec era contra isso! Tudo deve
ser racionalmente estudado e provado até o último detalhe! Foi assim que nasceu
a Doutrina Espírita, assim há de ser também com os verdadeiros esperantistas,
que não compram idéias formadas, mas lutam para que haja o “ecumenismo
esperantista”.

O próprio Mestre nunca foi taxativo! Sempre respeitou o ser humano, por menor
que fosse evoluidamente; sempre respeitou o livre arbítrio e por isso
condicionou o Seu ensinamento às mentes da época. Ele mesmo foi flexível!

Na história do Esperanto, nem mesmo Zamenhof foi contra mudanças. Dentro de
seu espírito altamente democrático, o que ele fez foi colocar em votação se
haveria de se ter ou não mudanças. E isso porque ele era consciente de sua falta
de conhecimento lingüístico nem profissional dos idiomas; ele era um sonhador
romântico como todo ser humano bom do final do século passado – esse era o seu
valor.

Não sou contra o Esperanto. Só posso dizê-lo que o conheço muito bem,
modéstia à parte, mas que sou totalmente oposicionista às faltas de
considerações com relação à modernidade, à mudança pela qual passa o próprio
mundo, e à flexibilidade que todo ser humano deve ter, à sua democracia. É óbvio
que não podemos ver a modernidade pela modernidade, pois aí enfrentaríamos os
problemas que também temos na atualidade: as drogas, as violências gratuitas
etc. Falo da modernidade em comunicação, falo tão somente de nosso amado
Esperanto.

E como me escreveu o redator do Boletim GEAE, “por cxio estas sezono, kaj
tempo difinita estas por cxiu afero sub la suno; estas tempo por naskigxi, kaj
tempo por mortil; estas tempo por planti, kaj tempo por elsxiri la
plantitajxojn… Esperanto ne estas escepto. Ni estas en la tempo por planti!”

Kaj mi lin respondas: sed ecx la planton ni devas prizorgi, kaj trancxi
lamalbonajn foliojn for, por ke gxi estu pli kaj pli bela kaj forta!

La Majstro lumigu cxiujn Esperantojn de la mondo. Li donu al ili la forton
por sekvi batalante kaj prosperante, kaj racie krei plej bonajn kondicxojn por
la futuro de nia lingvo.

Elkore kaj frate,

Lucas Yassumura

(Publicado no Boletim GEAE Número 321 de 1 de dezembro de 1998)

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