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O homem da lousa

Orson Peter Carrara

de Matão, SP

Um dia desses, num semáforo, parei parcialmente sobre a faixa de pedestre. Foi o suficiente para um dos filhos logo dizer: “Ô pai! Logo vem o homem da lousa ensinar você…” E fiquei a pensar… É verdade, eu estava errado. A campanha do Governo Federal, com apoio dos órgãos responsáveis pelo trânsito foi feliz no comercial da TV. O homem da lousa é simpático, a campanha é inteligente, ensina mesmo e fica gravada na memória… Incrível o poder da mídia. Entra na casa de todo mundo, interfere no comportamento, impõe hábitos e conduz aqueles que se deixam influenciar, pois digamos nem tudo que a mídia traz é bom…

Usando o simples exemplo da publicidade para educação no trânsito (diga-se de passagem, muito necessária), podemos extrair muitos ensinamentos. Seja na educação dos filhos ou da própria sociedade ou ainda para dizer que muitas vezes na vida precisamos mesmo de um homem da lousa para mostrar onde estamos dando as cabeçadas. Isto serve para cada um em particular, para famílias inteiras, para toda uma cidade e até apara uma nação.

Parece até que todos precisamos que apareça um educador quando poluímos um rio – nele atirando lixo, jogamos toco de cigarro na margem seca da estrada e provocamos incêndios. Também vale na ultrapassagem perigosa na estrada, ao avançar do sinal vermelho ou quando na política somos parciais e muitas vezes desviamos dinheiro público. Notem que uso o verbo na 1.ª pessoa do plural, pois considero aqui o ser humano em geral ou todos nós os habitantes do sofrido planeta Terra. Nem percebemos, mas a tal lousa seria útil mesmo quando nos entregamos ao desânimo ou a revolta, quando perdemos a esperança. Quando gritamos, desprezamos, usamos a maledicência ou furtamos de alguém seus bens ou a própria alegria com nossos dardos mentais e verbais… Tudo isso está em nosso prejuízo e nem percebemos. Guardamos mágoas, vinganças, rancores e isto acaba com nosso sossego e pior que nem percebemos, como quando ultrapassamos a tal faixa de pedestre. E quando então nos fechamos no egoísmo tolo ou no feroz orgulho? Ou quando surge a vaidade, ciúme ou até mesmo aquela tristeza que nos paralisa? Não era hora de parecer um educador que nos dissesse: Vamos aprender a lição?

 

E sabe o que é interessante? O educador existe, nós é que não prestamos atenção.

Inicialmente ele é discreto. Costumamos desprezá-lo, achando-nos mais sabidos. Aí a vida toma outra providência: manda outro mensageiro para nos chamar a atenção, a quem muitas vezes desprezamos ainda mais com nova revolta e intensa reclamação. Bom, o leitor já sabe: primeiro aviso é o da consciência. O segundo enviado é a dor. Seja como enfermidade ou acidentes inesperados que nos afetam diariamente ou a seres queridos próximos de nós…

Já que teimamos em não escutar, a vida vai nos conduzindo até que aprendamos a prestar mais atenção e não parar na faixa de pedestre, que em boa comparação, seria respeitar o espaço daquele que conosco convive, mesmo que seja simplesmente no trânsito.

(Jornal Verdade e Luz Nº 182 de Março de 2001)