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O Natal dos cristãos

O Natal dos cristãos

Chega o final do ano e com ele mais uma vez o velho comportamento das
pessoas, que ficam tomadas de uma estranha compulsão de comprar presentes e
preparar festas de confraternização, eventos que em grande parte das vezes, não
oferece clima propício para o objetivo a que se propõe. O certo é que não se
sabe definir muito bem se a euforia que toma conta do povo nesse período é pelo
Natal ou pela ilusão que se tem de que termina um período de vida e começa
outro, pelo simples fato de que a contagem do ano muda.

O brasileiro é um povo de comportamento bem peculiar. Tido como um dos países
de maior população católica do mundo, na verdade é terreno no qual se vê as mais
variadas manifestações de crenças, e sempre foi um solo fértil para o
aparecimento de “mestres”, com suas verdades incontestáveis. A característica
mística do povo e a liberdade de expressão facilitam essa realidade.

Em recente matéria publicada em revista de circulação nacional, o perfil do
brasileiro, do ponto de vista religioso, é bem interessante. Mais de 95%
acreditam em Deus, em torno de 80% acreditam na vida eterna no paraíso, 70%
crêem na doutrina das penas e recompensas e mais da metade acredita no inferno e
no Diabo com suas artimanhas. Vê-se que, apesar do homem ter avançado na
intelectualidade e viver a era da velocidade da informação, suas convicções
filosóficas e religiosas em torno da vida não mudaram muito desde a Idade Média.

O perfil mostrado pela pesquisa abrangeu, em maioria, os professos das
religiões ditas cristãs. Há que se dizer, porém, que o Cristianismo bem
compreendido têm valores e conceitos bem distintos desses que aí estão expressos
no comportamento das pessoas. Os ensinos revolucionários de um homem chamado
Jesus, o Cristo, que foi aviltado pelos valores do mundo de então, falava de uma
nova ordem de coisas, de um novo cidadão, de um novo padrão de conduta. Acusado
de ter parte com o Diabo foi, por isso, morto pela ignorância dos que o julgaram
como uma ameaça aos seus mesquinhos interesses.

É imperioso perguntar se a vinda do Mestre Jesus trouxe a mudança que Ele
pretendia para a vida dos homens. Analisando a situação dos que se dizem
cristãos, a resposta não é animadora. Certamente que não queria Ele que o homem
se dividisse em castas religiosas, disputando palmo a palmo quem detém maior
conhecimento da Verdade. Certamente que não pretendia rotular o homem como
eleito de Deus, unicamente por professar essa ou aquela religião. Sem dúvida
nenhuma, o sacrifício que fez, habitando um mundo de tanto atraso moral, não
seria para fundar religião, ou religiões, atendendo a vontades menores. O Verbo
de Deus, como o chamava o apóstolo João, veio trazer algo muito maior para a
humanidade. Pretendia que o homem se libertasse do jugo da ignorância e deixasse
de ser escravo dos interesses materiais e de suas imperfeições. Até hoje, porém,
Sua mensagem permanece engessada, sendo estudada na superficialidade, apenas nos
redutos religiosos, não produzindo os frutos que poderia produzir no campo do
Bem.

Em uma de suas conversas com os fariseus, Jesus foi questionado sobre qual
seria o maior mandamento da Lei. Querendo colocá-lo em dificuldades diante da
Lei de Moisés para prendê-lo, não contavam os doutores da lei com sua
superioridade espiritual, que respondeu incontinenti: “O primeiro e maior
mandamento da Lei é amar a Deus sobre todas as coisas, de toda a tua alma, de
todo o teu coração e de todo o teu entendimento. O segundo, semelhante a este é:
Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contém toda a Lei
e os Profetas”.

Colocando-se dessa forma, resume Jesus toda a essência da doutrina cristã,
colocando o amor a Deus no mesmo patamar do amor ao próximo.

Significa dizer que não se pode amar a Deus sem amar ao próximo e vice-versa.
Traz aos homens de boa vontade, ou seja, àqueles que desejam mudar o rumo de
suas vidas, o caminho da paz e da felicidade verdadeiras, alicerçado no amor ao
próximo, mudando radicalmente o ponto de vista em relação à importância que o
homem dá a si mesmo. Até hoje, porém, o homem não sabe bem quem é o seu próximo,
confunde beneficência com caridade, acha que orgulho é uma virtude e entende a
vida como uma experiência limitada entre o nascer e o morrer.

Com esse entendimento sobre a vida compreende-se bem a razão pela qual as
festas de Natal se resumem em dar e receber presentes e nas costumeiras
comilanças. À semelhança das festas pagãs, da época de Jesus, o povo não sabendo
direito qual seria a razão de sua existência e sem qualquer intimidade e
conhecimento das coisas eternas, tratava de “viver bem a vida”, entregando-se
aos seus prazeres transitórios.

Entretanto, o homem de hoje já detém condições para ter um procedimento
diferenciado. Afirmar que crê em Deus não basta. É necessário compreender Deus e
sua proposta. E compreender o Pai, significa estudar e vivenciar a Lei que foi
resumida por Jesus aos fariseus.

O Natal dos cristãos deveria ser bem diferente. Apesar da data em si nada
significar, pois foi criada muito tempo depois do nascimento de Jesus pelo
império romano, na tentativa de trazer o povo pagão para os festejos cristãos,
ela pode ser aproveitada para a reflexão sobre a Lei de Amor, trazida pelo maior
de todos os Espíritos que esteve entre os homens. O verdadeiro cristão não
deveria dar alimento ao materialismo, no consumismo desenfreado e sem sentido
dos festejos de final de ano, sem refletir sobre os resultados de sua vida.
Deveria sim, avaliar-se com sinceridade sobre o que construiu de bom e sobre o
que fez de ruim, colocando-se com humildade diante de si mesmo e diante de Deus,
comprometendo-se com sua consciência em trabalhar não só pelo sucesso da vida
material, mas, e principalmente, pelo aprimoramento espiritual, pois nada se
leva desta vida a não ser os tesouros imperecíveis do Espírito. Este é o melhor
presente que se pode dar a Jesus, pastor de todas as almas e, supostamente, o
dono do aniversário.