Preocupado com a divulgação da Boa Nova, Jesus nos fornece singular e rico
roteiro de ações/ atitudes que os discípulos deveriam adotar nessa tarefa.
Orientações quanto ao trabalho em equipe (Lc. 10:1), ao uso dos bens materiais
(Mt. 10:9-10), às condições de viagens/hospedagens (Mt. 10 :11 a 14) e (Lc.
10:7-8) e ao padrão comportamental a ser vivenciado no contato com os irmãos
(Mt. 10:16, 19, 23, 28), evidenciam a preocupação do Messias. Acima de todas as
orientações de caráter operacional estão, é óbvio, as condições essenciais a
todo “semeador” da palavra do reino : o conhecimento e a vivência da mensagem a
ser disseminada.
Esse curioso e rico material – concentrado nos capítulos X de Mateus e de
Lucas – nos fornece elementos de reflexão profunda sobre o engajamento do
trabalhador na tarefa de divulgação evangélica.
Guardadas as peculiaridades das épocas e as proporções dos testemunhos a que
discípulos de ontem e de hoje devem se submeter, podemos encontrar nos conselhos
crísticos alguns indicativos quanto à conduta a ser buscada pelos que aspiram à
glória de “servir em Seu nome”, conduta essa que também deve ser
observada pelos responsáveis pelos canais de divulgação espírita em sua
multiplicidade de recursos, da palestra pública às transmissões via TV a cabo,
dos simpósios e jornadas ao livro, dentre outras.
A Quem se deve levar a mensagem?
Esta poderia ser nossa questão inicial: a quem deve ser levada a mensagem
evangélica?
No capítulo X, versículos 5 a 7 de Mateus, encontramos a orientação do
Senhor, num primeiro momento, para que os discípulos buscassem inicialmente as
“ovelhas perdidas da Casa de Israel” (Mt. 10: 6), para mais
adiante, no momento da “ascensão”, recomendar : “Ide e evangelizai a todas
as gentes…” (Mt. 28:19).
Podemos entender que a primeira indicação do Messias aos discípulos, no
início de Seu messianato, constituía uma precaução e uma estratégia,
simultaneamente. Precaução, no sentido de evitar problemas imediatos com
as autoridades judaicas, o que poderia destruir ou abortar a obra nascente e
estratégia (dentro de um Plano Maior de Ação) dada a necessidade de
consolidar as bases do Evangelho entre os judeus monoteístas, conhecedores da
Lei, para daí irradiar, posteriormente, a mensagem sublime para todos, no
atendimento ao ensino “não se põe a candeia debaixo do alqueire…”
(Lc. 8:16 ).
Essas lições nos fazem compreender a urgência do bom trabalho de estudo e
divulgação da mensagem no interior do nosso Movimento Espírita, consolidando em
primeiro lugar a formação doutrinária (através das reuniões de estudo e de
preparação de recursos humanos, dentre outros meios) daqueles que irão mais
adiante “espalhar” abundantemente o Cristianismo Redivivo, de modo correto
para que o público em geral tenha acesso à mensagem consoladora e esclarecedora
da Doutrina Espírita. Operacionalizando esse ideal de divulgação, temos o livro,
as bibliotecas, as livrarias, bancas, feiras, clube do livro, jornais, boletins,
revistas, “volantes”, outdoors, programas radiofônicos, televisivos,
programações destinadas ao grande público tais como os seminários, semanas,
jornadas, congressos, etc.
Elevar o nível de conhecimento doutrinário dos freqüentadores das Casas
Espíritas, bem como disseminar corretamente as idéias espiritistas junto às
massas, dentro dos parâmetros do respeito ao outro e à Doutrina, é dos mais
graves compromissos a que todo espírita verdadeiro deve vincular-se, sem
esquecer que a conduta de cada um de nós é “carta do Cristo”
(2Cor. 3: 3), constituindo-se num dos mais poderosos meios de propagação dos
princípios e ideais espiritistas.
Com que recursos econômicos?
Nesse sentido, Jesus exortou os discípulos à quase total ausência de recursos
econômicos, retratando seu momento histórico. À sua época, o maior recurso era o
próprio trabalhador, não se requisitando, como hoje, certas especializações,
além de condições estruturais e financeiras para a tarefa divulgadora. Há, no
entanto, pelo menos 02 (duas) orientações importantes a considerar :
1ª: que não podemos esperar as condições “ideais” sob o ponto de vista
material para iniciar um trabalho de divulgação, pois urge mobilizarmos meios
ainda que simples e de reduzido alcance para que a luz se espalhe; e 2ª: é
preciso confiar na atuação do Alto que dará ao operário o apoio necessário e
merecido (Mt. 10:19-20). É imprescindível buscar atender em primeiro e único
lugar os interesses do Mais Alto e confiar na Providência Divina, sem nos
preocuparmos com objetivos pessoais de projeção e satisfação de interesses
particulares ou de pequenos grupos movidos por personalismos ou desejo de
evidência.
Quais os comportamentos norteadores de um bom trabalho de divulgação?
Em Mateus 10:16, Jesus exorta seus “divulgadores” ao cultivo de duas
virtudes: a prudência e a mansuetude. A prudência no trabalho da difusão
espírita nos servirá como critério seletivo para que os meios se ajustem
aos fins que desejamos atingir, o que só nos dará coerência e credibilidade.
A mansuetude é virtude indispensável para quem quer levar a Boa Nova : nada de
proselitismo, fanatismo, imposições ideológicas ou perseguições a qualquer
credo. A palavra do reino não pode ser arma em nossas mãos
e, sim, luz a ser compartilhada, tesouro a ser dividido. Jamais, em nome da
Palavra Consoladora, poderemos usar da agressividade em seus diversos matizes. É
certo que a Palavra do Reino provocou polêmicas e controvérsias, mas… na
propagação da Boa Nova, como na Vida, somos chamados ao testemunho do
“sim, sim, não, não” (Mt. 5: 37), tão só. É necessário pois divulgar a
Doutrina com fidelidade, segurança e respeito aos outros, sem agressões,
sensacionalismos, críticas vazias ou polêmicas inúteis. Afinal, o que macula o
homem não é o que entra pela boca, “mas aquilo que por ela sai” (Mc.
7:15), pois “do interior do coração dos homens procedem os maus
pensamentos (…), as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a
soberba, a loucura” (Mc. 7: 21-22).
Reagir cristãmente às incompreensões e perseguições no trabalho da divulgação
doutrinária é principalmente não guardar no coração qualquer tipo de revolta ou
violência (Mt. 10:14), é buscar manter a serenidade pois, se o Mestre foi
vilipendiado e caluniado, o que pode acontecer com os discípulos ainda tão
frágeis e imperfeitos? (Mt. 10:25)
Receber as críticas de modo cristão é responder com o silêncio oportuno, a
palavra sempre edificante e nobre, a prece sincera, a perseverança, o exemplo de
coragem e fé. Recomenda-nos o Senhor a fidelidade como condição para que
as forças superiores continuem a nos apoiar nas nossas iniciativas no campo do
bem. Esta fidelidade, continua Jesus, reclama que o amor a Deus seja colocado
de fato acima de tudo e que o discípulo dê continuidade ao testemunho :
“E quem toma a sua cruz e não vem depois de mim, não é merecedor de mim.”
(Mt. 10:38)
Como o Senhor vê aquele que apóia a divulgação da palavra ainda que de modo
indireto?
Nesse caso, o Mestre afirma :
“E quem recebe o íntegro, por causa do nome do íntegro, receberá recompensa
de íntegro.” (Mt. 10: 41)
O Senhor considera merecedor de recompensa todo aquele que colabora com a
tarefa de disseminação da Sua palavra, ainda que de modo simples, na aparência:
“E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes
pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá
seu galardão” ( Mt. 10: 42).
De fato, qualquer atividade levada a efeito, individual ou coletivamente, na
propagação evangélica reveste-se de significativo valor, por mais simples que
seja. Ilustramos essa afirmativa evocando a divulgação, em ambientes os mais
diversificados, da mensagem “CALMA”, do Espírito André Luiz pela psicografia de
Chico Xavier, espalhada nas mesas, murais, quadros de aviso e nas próprias
paredes de empresas e repartições. Quantos não foram os divulgadores anônimos !
Ainda nesse sentido evocamos a belíssima passagem de Hilário Silva na obra O
ESPÍRITO DE VERDADE, psicografada por F. Cândido Xavier, que nos relata no
capítulo 52 o “milagre” operado pela leitura de um exemplar de O Livro dos
Espíritos deixado propositalmente em lugar preferido por potenciais suicidas, na
Ponte Marie sobre o rio Sena, evitando mais uma morte. É uma leitura
“imperdível”.
Os que assim procedem, anonimamente, realizam o que nos diz Emmanuel: ”
A maior caridade que fazemos à Doutrina Espírita é sua própria divulgação.”
Finalmente, no início do capítulo XI, Mateus nos mostra que Jesus, após a
instrução dada, aliou mais uma vez Palavra e Ação e “partiu dali a
proclamar e ensinar nas cidades deles”(Mt. 11:1).
É seguir o exemplo ou perder ou retardar a oportunidade do serviço redentor.
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 1999)