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O Caráter promocional do serviço assistencial espírita

Em grande parte das obras assistenciais espíritas não há a preocupação de
trabalhar os conteúdos interiores de cada um, buscando ajudá-lo no sentido de
que ele seja partícipe de sua própria evolução. O trabalho de reconstrução
interior é de vital importância, pois constitui apanágio do espírito imortal.

Uma das características do trabalho do serviço assistencial em moldes
espiritistas é a promoção social do ser. Promoção é a ação de promover, de
elevar, de engrandecer, de fazer crescer. Nada poderia se enquadrar melhor na
visão espírita do trabalho de assistência ao próximo do que a promoção do
indivíduo num contexto sócio-econômico-cultural e sobretudo espiritual.

Temos enfatizado muito esse aspecto nos nossos encontros com as casas e as
obras assistenciais espíritas que desenvolvem o atendimento à criatura num
sentido integral, isto é, nos aspectos bio-psico-sócio-espiritual. E não raras
vezes temos nos deparado com uma visão unilateral de espíritas quanto ao
atendimento ao carente.

Expliquemos. Tem havido por parte dos trabalhadores dessa área de atuação uma
obsessiva preocupação com o dar, tão-somente, coisas materiais, sem compromissar
a criatura consigo mesma e com suas possibilidades de crescimento e de não
dependência de seus semelhantes.

Não negamos, em absoluto, a necessidade de atendermos às carências de ordem
física ou material, porque sabemos que de nada adianta falarmos de Jesus para
uma pessoa cujo estômago arde de fome. Na escala de hierarquia das necessidades
humanas, Abraham Maslow, um conhecido psicólogo americano, colocava num primeiro
nível de atendimento aquelas carências que visam ao equilíbrio físico do ser
vindo, subseqüentemente, as outras de caráter social, de status e espiritual.
Satisfeitas as primeiras, abrem-se outras que também reclamam atendimento.

Assim, levando em conta essa classificação no atendimento às necessidades do
ser humano, enfatizamos essa assistência, direcionando esforços no sentido de
que a criatura busque a sua homeostase, o seu equilíbrio, a partir dos níveis
primeiros, tornando-se, com o passar do tempo, auto-supridora e auto-nutridora.

Não é isto, contudo, que temos notado em grande parte das obras assistenciais
espíritas. Sem querermos ser cáusticos e nem criticar por criticar, temos
observado que dirigentes de trabalhos de atendimento ao carente vêm se
preocupando com o número de pratos de sopa que oferecem semanal, quinzenal ou
mensalmente à sua clientela. Além do mais, são montados grupos de pessoas que
visitam favelas e barracos levando alimentos e roupas, que matam a fome
temporária e agasalham por alguns dias o corpo. Não há, porém, a preocupação de
trabalhar os conteúdos interiores de cada um, buscando ajudá-lo no sentido de
que ele seja partícipe de sua própria evolução. O trabalho de reconstrução
interior é de vital importância, pois constitui apanágio do espírito imortal. Se
quisermos ser os cireneus da passagem evangélica, poderemos auxiliar o outro a
carregar o fardo de suas limitações e impossibilidades, mas tenhamos em mente
que a construção do eu profundo é tarefa de cada um, pois só assim, haverá o
mérito pelo esforço empreendido.

Algumas casas espíritas têm-se mostrado reticentes quanto à participação nos
encontros do serviço assistencial programados, pois alegam que já sabem como
realizar seu trabalho. Será que esses núcleos não conseguiriam se abrir para o
estudo e a reflexão acerca de outros enfoques? Não seria talvez oportuno deixar
de lado o comodismo nos quais se vêm atrelando há anos e anos e permitir-se o
benefício da dúvida? Embora saibamos que pisar o novo assusta, tenhamos em mente
que o crescimento exige coragem, determinação e vontade.

Finalmente, perguntamo-nos se o nosso personalismo e a nossa vaidade não nos
têm obliterado a razão e o sentimento no atendimento às reais necessidades dos
nossos irmãos. Um repensar em torno dessa nossa posição valeria a pena neste
momento, para que não venhamos, mais tarde, nos arrepender do uso indevido do
tempo que passa.

(Dirigente Espírita Nº 53 – Junho/Julho de 1999)