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O Sumiço de Deus

Oito e dez anos, dois irmãos “do barulho”.

Qualquer confusão na peque cidade invariavelmente envolvia os pirralhos.

A mãe, preocupada com o futuro dos encapetados rebentos, pediu ajuda ao
pároco. O sacerdote recomendou que os levassem à igreja separadamente.

Primeiro o mais novo.

Fê-lo sentar-se na sacristia, sozinho, diante dele.

Tratou logo de intimidá-lo, trovejando:

– Onde está Deus?!

Encolhido na cadeira, o garoto o contemplava pasmo, olhos esbugalhados, boca
escancarada, mãos trêmulas…

– Onde está Deus?!

Ante seu mutismo, o padre ergueu ainda mais a voz, e, dedo em riste, bradou,
tonitruante:

– Onde está Deus?!

Pondo-se a gritar, apavorado o menino fugiu em desabalada carreira. Direto
para casa. Escondeu-se no armário em seu quarto.

Quando o irmão mais velho o encontrou, pálido e agitado, perguntou o que
acontecera.

O pobre, tentando recuperar fôlego, gaguejou:

– Cara, desta vez estamos mesmo encrencados. Deus sumiu! O padre acha que a
culpa é nossa!

Essa história evoca um problema atual.

O sumiço de Deus.

Bem sabemos que é impossível.

Cérebro criador, consciência cósmica do Universo, o Criador está sempre
presente, aqui, além, acolá, dentro de nós mesmos…

O que anda sumida é a consciência de Sua presença imanente, o Senhor Supremo
que tudo vê; que exercita infalível justiça, premiando os bons e corrigindo os
maus.

As pessoas não duvidam de Sua existência, mas pensam e agem como se Deus
estivesse de férias.

Crimes, roubos, vícios, mentiras, maldades, grandes e pequenos deslizes, em
relação às leis divinas, são cometidos, incessantemente, sem que os autores se
dêem conta de que estão sendo observados pelo Criador.

Daí a força do mal no mundo, embora sob controle do Supremo Bem.

Haverá substanciais mudanças no comportamento humano quando esse “sumiço” for
resolvido.

Podemos fazer um teste em relação ao assunto.

Sugiro, leitor amigo, que durante todo um dia desenvolva suas atividades
atento à presença divina.

Como agirá, considerando que Deus tudo vê, ante impulsos assim:

  • pronunciar palavrões,
  • alimentar devaneio lascivo,
  • dizer mentira de conveniência,
  • guardar inatividade indolente,
  • revidar ofensas,
  • pronunciar crítica ferina,
  • divulgar fofocas,
  • satisfazer vícios.

Não se trata apenas de ate: ao juiz que julga nossas ações. Há algo mais
importante. Vejamos na presença divina:

  • alento nas dificuldades,
  • apoio nas lutas,
  • consolo nas dores,
  • solução de problemas,
  • convite ao Bem.

Tirando Deus do ostracismo trazendo o Senhor para o nosso cotidiano, seremos
mais comedidos, mais disciplinados, mais fortes, mais inspirados.

Então, amigo leitor, o sumiço de Deus?

Revista “Visão Espírita”, nº 22