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As palavras e as cores das nossas intenções

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 Enéas Canhadas

Sentir, pensar e falar são coisas diferentes? As palavras que dizemos servem para expressar os sentimentos e suas intensidades. Não basta dizer, é preciso prestar atenção a como se diz. Quando você não fala o que pensa, também não diz o que está sentindo. Parece a mesma coisa, mas não é. Quando verbalizamos as idéias que nos vêm à cabeça, estamos dando expressão ao que se passa no nosso íntimo. Quando Michelangelo esculpiu a sua mais famosa estátua, o David, estava expressando de um modo peculiar, o seu universo pessoal. As formas, as proporções, a reprodução fiel da figura humana masculina, demonstram o dom desse artista em tirar do mármore a beleza dos traços e os detalhes de uma anatomia irretocável, o que exaltou os detalhes e a beleza da obra criadora de Deus. Quando contemplamos a perfeição de detalhes de um Rafhael, é a maneira como podemos “ver” os sentimentos que o pintor quis registrar, certamente como reflexos da sensibilidade e da perfeição, harmonia, cores, sombras e luz que povoavam o seu mundo interior. Quando Chico Buarque põe música nas suas palavras, expressa profundas e precisas emoções ajudando-nos a identificar sentimentos semelhantes em nós mesmos, ainda mais quando é capaz, sendo homem, de falar de emoções que se passam no íntimo de algumas mulheres.

Aprendemos com a Doutrina Espírita, que as palavras são vibrações que partem da nossa alma. Quando Jesus disse que “a boca fala do que o coração está cheio ”, referia-se ao que pensamos. Quando disse que “o que contamina o homem é o que sai da sua boca e não o que entra por ela”, estava falando dos pensamentos, portanto de como raciocinamos, como compreendemos as coisas e como as julgamos, e dessa maneira como podemos contaminar o nosso Espírito.

Podemos esquecer as palavras, que um dia, dissemos. Podemos negar os seus conteúdos, e podemos interpretar, modificar ou mesmo distorcer os seus significados quando sentimos a extensão e gravidade do que dissemos. No entanto, elas terão denunciado, para sempre, os sentimentos que existiam dentro de nós quando as dissemos. Se foi um desabafo, teremos deixando escapar um pouco do nosso mundo interior. Se foram palavras pensadas e refletidas, tornamos público alguns dos nossos sentimentos.

Por onde caminham as palavras? Não cabe aqui falar do amor incondicional e sublime, nem de ódios extremados. Somos Espíritos em evolução e falíveis, ainda longe da condição do amor perfeito. Entretanto, refletem o que somos no momento em que expressamos tais sentimentos. Vamos pensar em certa dose de amorosidade ou eivada de certo rancor ou desafeto. O que uma pessoa transmite então, será, alem de informações sobre o que ela está sentindo, a qualidade do que ela sente. As vibrações, quando maldizemos, podem ser ondas longas e densas, como vagas do mar tormentoso, capaz de arrebentar, aos poucos, pelo peso e pela densidade, as simpatias e as afinidades que outra pessoa possa sentir ou nutrir por alguém. Ou então as vibrações serão finas, encaminhadas aos outros como ondas de oscilações muito curtas e rápidas, conferindo uma capacidade penetrante. Da mesma forma que pode fazer vibrar o aparelho auditivo, pode também fazer vibrar os centros nervosos emocionais, impressionando-os de tal modo que fiquem marcados para sempre. Os ferimentos emocionais produzirão cicatrizes da memória, deixando marcas definitivas.

As ondas benfazejas que podemos produzir com os nossos pensamentos constituem força eletromagnética , que vão conduzir vibrações carregadas de emoção afetuosa, de respeito, justas e boas, até aos ouvidos alheios. Essa compatibilidade passará pelos crivos da afinidade, da simpatia que as pessoas nutrem por nós, pela atenção que uma pessoa queira dispensar numa determinada conversa ou troca de ideias, pela amabilidade que as pessoas sentem por nós, o que significa, entre coisas, estarem dispostas a nos ouvir. As ondas de freqüência assim emitidas, alcançarão os ouvidos e os centros emocionais da outra pessoa, em intervalos de tempo que produzirão paz, relaxamento, harmonia. Serão moduladas pelo carinho e amorosidade da nossa transmissão, o seu timbre será doce e intenso ao mesmo tempo. O seu volume será firme e redondo, tornando agradável a nossa expressão de pensamentos bem intencionados, por vezes amorosos, delicados, provocando equilíbrio e bem estar. Não é sem razão que uma bela voz, pronunciando um texto relaxante, tenha essas características e provoque sono e bem estar físico. Também, pelas mesmas razões, as declarações amorosas e as palavras envoltas em idéias românticas causarão bem estar e prazer quando um casal de namorados estiver conversando. Já não será o mesmo numa conversa onde um casal irritado, com mútuas cobranças e acusações, queira obter, um do outro, tudo que não estejam nem ouvindo e nem querendo doar.  Timbre e volume fazem o corpo dos sons.

Reciprocamente, continuando ainda a falar de um casal que esteja brigando, o que for falado será ouvido de maneira distorcida e alterada, chegando aos ouvidos com timbres e volumes desagradáveis e dissonantes, provocando irritabilidade e estresse dos centros nervosos das pessoas. As respostas serão réplicas de maior intensidade, se comparada com o modo que foram ouvidas. Cada ciclo de afirmações produzirá respostas de pior qualidade dificultando a compreensão e clareza de ideias. A péssima qualidade da conversa ou da comunicação, superará o conteúdo da mensagem. Os defeitos de dicção, os tons alto ou baixo, vão impedir a clareza e sonoridade das palavras pronunciadas. A rapidez da pronúncia, aliada ao tom alto, estridente, somado ainda ao timbre (em música significa a quantidade de harmônicos dos sons com o tom principal existente na melodia), farão que sejam tanto desagradável como impossível que as pessoas apreendam os significados do que está sendo falado, tornando a conversa incompreensível. Essa situação de comunicação irracional fará o que ainda falta para instalar o caos e as barreiras quase definitivas entre as pessoas que estão tentando comunicar-se. Mesmo os leigos em fonética e questões da fala, podem perceber quando o som irrita os ouvidos e é isso que acontece também com o cérebro. Os ouvidos apenas deixam entrar o que o cérebro já está percebendo ou ouvindo, pois quem ouve é o cérebro, o volume (muito acima do adequado para a ocasião) trará o sentimento de hostilidade ou assinte, insultos ou desrespeito que se queira provocar na outra pessoa. Se esta conversa acontece entre um casal, o desejo parecerá uma ordem, e a expectativa, uma exigência. O sentimento de falta do outro, adquirirá o sentido de pouca valia da presença e o querer a companhia da pessoa, parecerá enfado e anseio por livrarem-se um do outro.

O mundo é colorido e as palavras também ! Verdadeiros desastres poderiam acontecer, se pudéssemos ver as cores das palavras como descreve André Luiz a respeito dos pensamentos. As cores, por certo, iriam denunciar a qualidade e verdade dos nossos sentimentos. Como energia que são, os pensamentos emitem luz, e a luz propagada no ar ou mesmo no vácuo, adquire cores próprias devido às vibrações em que são emitidos. O pensamento emitido é um feixe de energia, portanto de luz , que caminha até quem os ouve numa dada velocidade. Como a freqüência muda conforme os sentimentos de sinceridade e verdade de quem emite e propaga-se pelo ar e até mesmo pelo vácuo como nos esclarece André Luiz, os Espíritos podem vê-las, pois as moléculas do corpo perispiritual estão em outra densidade. Os encarnados, têm o obstáculo da densidade da matéria que não pode ver as cores dos feixes de energia. Por isso, os médiuns desenvolvidos ou com dons especiais podem ver luzes, cores, aura e tudo o mais, até mesmo os Espíritos desencarnados na outra dimensão, pois trata-se de energia atomizada diferentemente da densidade dos corpos encarnados. Como nos esclarece o Livro dos Espíritos e André Luiz, a matéria mental e a matéria espiritual vão, através dos corpúsculos, formar os átomos mentais, que por sua vez vão construindo as suas faculdades do Espírito ao longo do trajeto desde o mineral ao hominal.

E para que não sejamos fontes mais de sombras do que de luzes, tenhamos em mente que, as cores que não nos são possíveis enxergar, existem assim mesmo, e por enquanto podemos ficar com o calor ou o frio que elas podem produzir em nossos corpos. Tais temperaturas, podemos sentir, com certeza, nos versos do poeta “Oh, pedaço de mim Oh, metade arrancada de mim Leva o vulto teu Que a saudade é o revés de um parto A saudade é arrumar o quarto Do filho que já morreu . . .

O desenvolvimento das nossas faculdades, eqüivalem ao agregar incessante, de mais Matéria Quintessenciada, ou seja a Matéria Inteligente. Pergunta 28 do Livro dos Espíritos; André Luiz também refere-se a matéria mental em “No Mundo Maior” no Cap. IV; outra citação de André Luiz a respeito desse assunto está em “Evolução em Dois Mundos” Cap. IV Automatismo e Corpo Espiritual. Evangelho Segundo Lucas, Cap. 6, vs. 45. Evangelho Segundo Mateus, Cap. 15, vs. 11.Como cada criatura se encontra num grau evolutivo, e a freqüência de emissão dos seus pensamentos varia de acordo com a sua própria evolução, conforme indicado em “No Mundo Maior”, Cap. IV.

A proeza desses conhecimentos foi possível com a descoberta de Heinrich Rudolf Hertz, engenheiro alemão e “pai” das ondas eletromagnéticas, batizadas com o nome dele. O encontro de um campo elétrico com um campo magnético propaga ondulações que se deslocam à velocidade da luz. A largura da onda é a distância entre duas cristas de vagas. E a freqüência é a velocidade com que essas vagas oscilam. Quanto mais as ondas são longas, mais a freqüência é baixa. E quanto mais as ondas são curtas, mais elevadas são as freqüências.

Os Espíritos se desenvolvem simultaneamente com o crescimento das suas faculdades pela agregação de Matéria Quintessenciada. Com este desenvolvimento, os Espíritos idealizaram o processo de comunicação pelas Ondas Pensamento. Citado em “Pensamento e Vida” ditado pelo Espírito Emmanuel e psicografado por Chico Xavier, Capítulo “A Vontade”, FEB.

Um pensamento simples possui poucas ondas. Um complexo, com grande fluxo, terá determinado número de ondas, de determinada freqüência, conforme o necessário, atravessando uma unidade de área, na unidade de tempo. Quando falamos em avalanche de palavras ou em verborragia estamos, de fato, falando de tamanho de fluxo, isto é, de quantidade de energia.

A comunicação entre os espíritos pelo pensamento, conforme citação de André Luiz em “No Mundo Maior” Cap. V é feita pela emissão e recepção de “ondas mento-eletromagnéticas”, em que o comportamento destas ondas é semelhante às ondas eletromagnéticas utilizadas para as transmissões de televisão, como indicado no mesmo livro no Cap. XI. Sinais codificados como nas ondas eletromagnéticas de TV, que contém imagens, cores, movimentos e sons, na forma de ondas, são decodificadas por nós e assim compreendidas, como o decodificador faz para o aparelho de televisão.

“Pedaço de mim” de Chico Buarque/1977-1978, para a peça Ópera do malandro, dele mesmo.