Paranormalidade e Mediunidade
Fátima Farias
Conforme o prometido, prossegue hoje a nossa entrevista com o parapsicólogo baiano e pesquisador de fenômenos paranormais, Clóvis Nunes. Desta vez, em evidência, as distinções entre paranormalidade e mediunidade, que, segundo ele, há aproximações e diferenças. Confira: “Toda mediunidade é uma paranormalidade, mas nem toda paranormalidade é uma mediunidade. Existe a paranormalidade do âmbito geral do fenômeno, que compreende as ocorrências psíquicas, pertence à própria pessoa a produção do fenômeno, no entanto, os fenômenos paranormais de natureza mediúnica, alcançam o médium que é apenas um instrumento. A gênese ou origem do fenômeno não lhe pertencem. Na manifestação mediúnica, a ação pertence a uma consciência sem corpo, no caso, um espírito. No fenômeno paranormal, propriamente dito, a construção é na própria mente do sensitivo, não precisando ele sofrer a influência de qualquer outra mente externa à sua”.
Clóvis cita exemplo de uma pessoa médium e outra paranormal. O maior médium conhecido no Brasil era Chico Xavier. Na Índia, o maior paranormal é Sathya Sai Baba, ainda vivo, que, segundo o pesquisador, produz fenômenos extraordinários. Explica que os paranormais não precisam da interferência de inteligência desencarnada, sem corpo, para produzir os fenômenos. Ou melhor, eles produzem por si mesmo, sem a necessidade do concurso de espírito.
Quanto ao fenômeno mediúnico, Clóvis explica: “A pessoa se torna médium quando o espírito desencarnado participa do fenômeno, mas também há uma mesclagem nesta fenomenologia. Então, os fenômenos paranormais podem ser de natureza psíquica ou anímica ou podem ser de natureza mediúnica ou espirituais, mas também podem ser medianímicos. É quando os fenômenos estão mesclados. Neste caso, existe um quantum do paranormal médium e uma outra parte predominante do espírito comunicante, ou ainda simplesmente uma quantidade relativa dos dois”.
Sobre Chico Xavier, Clóvis disse que ele era predominantemente médium, um instrumento dos espíritos, mas também tinha muita paranormalidade. “Às vezes uma pessoa chegava perto e ele tratava pelo nome, quando nunca viu esta pessoa, ou perguntava por um familiar que ele nunca conheceu”, comenta.
– A paranormalidade causaria distúrbios sérios ao portador?
– Existe hoje um parentesco forte de paranormalidade com distúrbios. Nós poderíamos até dizer que entre os transtornados mentais existem muitos paranormais e entre os paranormais existem os transtornados mentais, Mas necessariamente a paranormalidade não pode ser considerada doença, apesar de ser confundida com anormalidade. O paranormal não é patológico, não é doentio. É absolutamente natural e normal, só não é habitual ou corriqueiro. A paranormalidade, até o século passado, era considerada uma variação de um transtorno psíquico.
E aprofunda: “Existem as pessoas que são consideradas ‘normais’, mas que também são paranormais, variando apenas o percentual dessa paranormalidade. Contudo, se chama de paranormal apenas indivíduos portadores de faculdades paranormais ostensivas ou que são dotados, mas todos nós que somos portadores de uma mente, temos paranormalidade, que é a capacidade de interagir além do sentido físico. Então como tem os ditos normais e que são transtornados, também entre os paranormais, existem pessoas que carregam alguns sintomas com características de transtornos”.
Clóvis admite que isso causa uma confusão e alerta: “Tanto que muitas vezes existem, por engano, muitos paranormais internados ou atrás de gabinetes, médicos e clínicas psiquiátricas ou terapia para curar a suposta anormalidade, que muitas vezes é paranormalidade. Às vezes até a mediunidade mesmo é confundida como um estado de perturbação ou falta de conhecimento adequado de como lidar com o fenômeno. A paranormalidade pode ser uma grande ferramenta, quando utilizada a favor do indivíduo, mas também poderá trazer alguns prejuízos, que quando não se sabe lidar com ela. E isso não deve ser considerado como doença. A paranormalidade é uma faculdade inerente à espécie humana. É bom entendermos que não é a paranormalidade que produz o transtorno, embora alguns paranormais possam ser transtornados”.
O Norte – 03/08/03