Permanentes Mudanças
Os físicos estão diante de nova postura da ciência que exige revisão da teoria
fundamental que lista os tijolos básicos do Universo, o chamado Modelo
Padrão. Trata-se de uma concepção teórica, de alçada dos estudiosos da área,
que oferece a melhor descrição das partículas elementares, na constituição daquilo
que conhecemos atualmente.
Ocorre que os cientistas descobriram, numa velha mina japonesa e encravada sob
um quilômetro de rocha, que o neutrino (1) definitivamente tem massa. Teste científico
confirmou que análogo da partícula elementar “fantasma” possui massa e este fato
exige revisão da teoria fundamental. Ufa! Assunto para quem entende. Que falem os
físicos!
A notícia foi publicada no caderno Folha Ciência do jornal Folha de São Paulo,
edição de 12 de dezembro de 2002, página A21. A matéria do jornal, assinado por
Salvador Nogueira destaca que “(…) eles haviam detectado os neutrinos solares,
gerados pela fusão dos átomos de hidrogênio que alimenta a estrela. E concluíram
que parte deles passava por uma estranha transformação no caminho entre o Sol e
a Terra. Segundo a mais consagrada teoria de partículas, o Modelo Padrão, há três
tipos de neutrinos. E, embora a teoria não falasse sobre sua massa, os cientistas
desde o início vinham presumindo que fosse nula, o que foi incorporado ao modelo.
(…)” E conclui: “(…) O resultado foi muito mais definitivo em razão da proximidade
com a fonte geradora de neutrinos – reatores de fissão nuclear a apenas 180 km do
detector. Na verdade, durante a quebra dos átomos, há emissão de antineutrinos (partículas
análogas dos neutrinos, feitas de antimatéria), mas suas propriedades equivalem
às dos neutrinos convencionais. A essa altura, dizer que o neutrino tem massa equivale
a enviar os cientistas de volta às mesas, para recalcular muito do que julgavam
resolvido no Modelo Padrão (…)”
Assunto complexo, não é mesmo leitor? Especialmente para nós, os leigos no assunto.
Mas, como enquadrar a questão à luz da Doutrina Espírita?
Uma boa fonte de consulta é o capítulo XIV de A Gênese, intitulado
Os Fluidos, onde uma boa releitura do texto abre espaço para o entendimento
da questão. Porém, um trecho apenas do mesmo livro, constante do capítulo VI – item
3 (2) –, traz esclarecimento que permite ampliação da visão sobre o intrigante tema:
“(…) podemos colocar, como princípio absoluto, que todas as substâncias, conhecidas
e desconhecidas, por mais dessemelhantes que pareçam, seja sob o ponto de vista
de sua constituição, íntima, seja sob o aspecto da sua ação recíproca, não são,
de fato, mais do que modos diversos sob os quais a matéria se apresenta; senão variedades,
nas quais se transformam, sob a direção das forças inumeráveis que a governam. (…)”
Ora, o texto acima foi escrito em 1868. Impossível enumerar as conquistas da
ciência desde o ano da publicação do citado livro até os dias atuais. Em todas as
áreas, mas especialmente também nas complexas questões da Física. Porém, o que prevalece
(este não sofreu alterações e sobrevive às novas descobertas) é o pensamento central,
a base doutrinária apresentada pela revelação espírita: tudo que existe é transformação
de um elemento único, o Fluido Cósmico Universal (3), que emanando do Criador possibilita
as diversas transformações que hoje conhecemos como matéria em suas diversas manifestações.
A verdade é que o avanço das pesquisas humanas permite a descoberta dos recursos
disponíveis, que abrem outros campos de pesquisas ampliando os horizontes da ciência.
Porém, mais que isso, tais avanços evidenciam a grandeza do Criador de todas as
coisas, apresentado por Jesus como Pai de todos nós.
(1) Partícula elementar, não carregada, que tem massa menor do que a do elétron,
em cerca de um décimo.
(2) Página 93 da 8a edição IDE – Araras (SP), 1992, tradução
Salvador Gentille.
(3) Vide também O Livro dos Espíritos, questões 29 a 34, 3a
edição da FEESP, tradução de J. Herculano Pires.
Matéria publicada originariamente no jornal O Clarim, edição de novembro de 2004.