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Ponham a Mão

Ponham a Mão

Conta-se que Jesus esteve recentemente na Terra e entrou num hospital
público.

Passou por um paraplégico, em cadeira de rodas. Viera para uma consulta.

O Mestre disse-lhe:

– Levanta-te e anda!

O homem ergueu-se e deixou o consultório, empurrando a cadeira de rodas.

Alguém perguntou-lhe:

– Esse barbudo que falou com você é o novo médico?

– Sim.

– O que achou dele?

– Igual aos outros. Não pôs a mão em mim.

Poderíamos situar essa hilária história por exemplo de como as pessoas
envolvem-se com a rotina e o imediatismo terrestre, sem se darem conta das
dádivas que recebem.

Mas há o outro lado: os médicos que, literalmente, não “pões a mão no
paciente”.

Uma senhora consultou um desses profissionais apressados, rápidos no gatilho,
que sacam o bloco receituário quando o cliente mal aponta em seu gabinete.

Ao terminar a consulta, disse-lhe:

– O senhor devia ser engenheiro.

– Por quê? Acha que tenho jeito?

– Bem, engenheiro lida com barro, cimento, cal, tijolos… É mais fácil. Está
mais de acordo com sua índole. O senhor é frio, distante!

– Ora, minha senhora. Há muita gente! Não posso dar atenção a todos.

– Pois deveria. Por mais gente que atenda, considere que não está lidando com
material de construção. As pessoas, meu caro doutor, precisam de atenção,
principalmente quando fragilizadas pela doença.

Certamente o médico não mudou de profissão, mas seria bom para ele, e para
seus clientes, se mudasse sua maneira de ser.

Meu pai, que foi enfermeiro, sempre falava de um médico humilde, de pouca
cultura e precários conhecimentos, que atendia no posto de saúde onde
trabalhava. Não obstante suas limitações, era o mais solicitado e eficiente.

Calmo e gentil, tratava com carinho a clientela, consulta sem pressa,
paciência de ouvir… Tinha sempre uma palavra de encorajamento, exprimia-se de
forma otimista quanto ao diagnostico e prognóstico.

Os pacientes saíam animados.

Mais que simples receita, levavam um novo alento, a confiança de que seriam
curados, algo decisivo em favor de sua recuperação.

Aprendemos com a Doutrina Espírita que várias profissões envolvem preparo do
espírito, antes de reencarnar, a fim de que possa ter um desempenho razoável,
desenvolvendo experiências produtivas.

Freqüenta escolas no Além, recebe instruções, planeja a própria estrutura
orgânica, adequando-a ao exercício da atividade escolhida.

Sem dúvida, a Medicina é das mais importantes, nesse aspecto.

Deus quer que sejamos saudáveis, física e psiquicamente, para melhor
aproveitamento das experiências humanas. A doença é, normalmente, um acidente de
percurso, relacionado com nossa falta de cuidado com o corpo, no presente ou no
pretérito.

Daí a importância do médico, instrumento de Deus, em favor da saúde humana.

Certamente, dentre todas as orientações recebidas ao reencarnar, o médico
aprende como lidar com os enfermos, sob orientação do Evangelho, o mais perfeito
manual de relações humanas.

É preparado para “pôr a mão no paciente”, isto é, dar-lhe atenção, tratá-lo
com gentileza, receitar menos, conversar mais, motivá-lo para a saúde.

Sou apaixonado pela Medicina.

Tenho certeza de que fui médico em vida anterior, provavelmente do tipo que
fica melhor cuidando do material de construção. Por isso, talvez, carrego a
frustração de não ser discípulo de Hipócrates nesta existência.

Evocando minha condição do passado, peço licença aos colegas do presente,
para dizer-lhes:

Cuidado, senhores doutores! Não malbaratem as oportunidades que lhes foram
concedidas. Não frustrem os instrutores que os prepararam! Não negligenciem a
orientação fundamental!: Por Deus! Ponham a mão nos pacientes!

Revista “Visão Espírita”, nº 26