Proveitoso diálogo
A conhecida ONU – Organização das Nações Unidas – foi fundada no dia 26 de junho
de 1945, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, quando diversos países
estiveram reunidos e 51 deles assinaram um documento que ficou conhecido como a
Carta das Nações Unidas. Referido documento entrou em vigor no dia 24 de outubro
do mesmo ano, em âmbito internacional, estabelecendo a organização. O Brasil passou
a integrá-la a partir de 12 de setembro daquele ano.
A ONU divide-se em diversos órgãos internacionais e atualmente 191 países do
planeta a integram. Em síntese geral, através desses órgãos internacionais, a organização
visa contribuir para o progresso (através de projetos sócio-culturais, educativos,
de pesquisa científica, etc), a segurança internacional e mesmo cumprindo a função
de intermediadora nos relacionamentos entre os países. Sua sede geral está em Wasghinton,
seu secretário geral, atualmente, é o conhecido Kofi Annan. Vale destacar também
que seus diversos órgãos internacionais, nas diversas áreas de atuação, situam-se
em diferentes capitais do mundo.
Dentre os órgãos que a compõem, um deles é o Conselho Econômico e Social, que
se subdivide na UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura), cujos objetivos são: contribuir para a paz, através da educação, da
cultura, da ciência e da comunicação, na colaboração entre as nações, a fim de garantir
respeito à justiça, império da lei, dos direitos humanos, das liberdades fundamentais,
sem distinção de raça, cor, sexo, idioma ou crença, como era de se esperar de um
organização voltada à valorização da dignidade e da evolução humana.
E, dentro da própria UNESCO, em outra subdivisão, uma Comissão Especial em Educação,
sob a coordenação de Jacques Delors, publicou um documento intitulado Educação,
um tesouro a descobrir. Trata-se de valioso documento norteador para pessoas,
instituições e nações que vêem na ação educacional o caminho do real progresso das
sociedades em particular e da humanidade. É material para graves reflexões. E, no
capítulo 4, da parte II, encontramos o título: Os 4 pilares de uma educação para
o século XXI. Tais pilares identificam-se perfeitamente com as máximas de Jesus
e, obviamente, com a proposta espírita. Conheçamo-los:
1 – Aprender a conhecer (como a abertura para o novo, o processo
contínuo de pesquisar, observar, sentir, esforço intelectual, atitude permanente
de busca), que identifica-se perfeitamente com a proposta de Jesus: Conhecereis
a verdade e ela vos libertará – (João 8:32). É a libertação da ignorância, em
quaisquer áreas do conhecimento humano;
2 – Aprender a fazer (é a coragem de executar, de correr riscos,
de errar na busca de acertar), perfeitamente identificada com a proposta do Evangelho:
faze isso e viverás (Lc 10:28); É o sair da acomodação que normalmente
caracteriza o comportamento humano;
3 – Aprender a conviver (é o respeito pelas diferenças, é o intercâmbio
de ideias, é a convivência pacífica), também identificada com o convite de Jesus:
Fazei aos outros o que gostaríeis que eles vos fizessem (Mt 7:12); É o “vencer-se”
a si mesmo, vencer essa animosidade crônica dos relacionamentos, e interromper a
tendência egoística de desmerecer o esforço alheio. O que naturalmente requer o
esforço do auto-aprimoramento.
4 – Aprender a Ser (É o “entrar” na posse da herança divina, própria,
que todos trazemos, conscientizando-nos de nossa condição de espíritos imortais,
é ainda a auto-superação, o crescimento espiritual). Tal proposta identifica-se
com a afirmação de Jesus: Sede Perfeitos (Mt. 5:48).
O documento da UNESCO, em sua essência, representa um convite ao equilíbrio nos
atuais dias de contradições, violências sociais, medo, injustiças, no sentido de
encaminhar as criaturas humanas no encontro consigo mesma para a descoberta do verdadeiro
TESOURO que traz em si, como um diamante sob o cascalho, necessitado de burilamento
pelas ferramentas educativas do CONHECER, do FAZER,
do CONVIVER e do SER.
A mensagem de Jesus é mensagem atualíssima de vida em harmonia íntima e com o
outro, o que só poderá ser alcançado por todos a partir da adesão à proposta educacional
do Cristo, que se alicerça:
No respeito à pessoa vista como filho de Deus, independente de qualquer condição,
sempre vista com “sal” ou “Luz”, como projeto divino de evolução;
No respeito às leis divinas ou naturais que nos vão fornecendo o conteúdo da
vida e nos ensinando a nos conduzirmos de modo harmonioso no universo físico ou
moral;
Na certeza da possibilidade de vida abundante para todos, alicerçada no ideal
da fraternidade humana, base da justiça social numa prática educativa baseada no
diálogo, nos referenciais do indivíduo e nas suas possibilidades de auto-superação
e de conquistas verdadeiras, sob a bandeira do Evangelho.
Tais reflexões chamaram-nos a atenção à preciosidade de um diálogo estabelecido
entre um dos assinantes da Revue Spirite e um espírito que se colocou entre sua
esposa, médium escrevente, e os espíritos amigos e parentes que desejassem comunicar-se
através dela. E Kardec, na Revista Espírita, de dezembro de 1860 (edição Edicel,
tradução de Júlio Abreu Filho), publicou os diálogos da reunião mediúnica com o
título A Educação de um Espírito.
O precioso texto, além dos diálogos, traz as razões da obsessão estabelecida
e os sempre oportunos comentários do Codificador que, inclusive, cita ao final da
matéria que o caso ainda estava em andamento e, portanto, sem solução, à época.
Transcrevemos parcialmente alguns trechos dos diálogos que Kardec enumerou de
1 a 27:
“(…) 1 – Para que sejas mau assim é preciso que sofras? – Sim, sofro. É
isto que me faz ser mau.
2 – Jamais sentes remorso do mal que fazes ou procuras fazer? – Não, jamais
tenho e gozo o mal que faço, porque não posso ver os outros felizes sem sofrer.
3 – Não admites, então, que se possa ser feliz com a felicidade alheia, em
vez de encontrar felicidade em sua desgraça? Jamais fizeste tais reflexões? – Jamais
as fiz, e acho que tens razão mas não posso me… não posso fazer o bem eu sou…
(…)
12 – Então! Já que acreditas em Deus, deves ter confiança em sua perfeição
e em sua bondade. Deves compreender que Ele não fez suas criaturas para as votar
à desgraça que se são infelizes é por sua própria culpa, e não pela Dele mas que
elas sempre têm meios de melhorar e, conseqüentemente, chegar à felicidade que Deus
não fez suas criaturas inteligentes sem objetivo e que esse objetivo é fazer que
todas concorram para a harmonia universal: a caridade, o amor ao próximo que a criatura
que se afasta de tal objetivo perturba a harmonia e ela própria é a primeira vítima
a sofrer os efeitos dessa perturbação que causa. Olha em torno de ti e acima de
ti: não vês Espíritos felizes? Não tens o desejo de ser como eles, já que dizes
que sofres? Deus não os criou mais perfeitos do que tu como tu, talvez tenham sofrido,
mas se arrependeram e Deus lhes perdoou tu pode fazer como eles. – Começo a ver
e a compreender que Deus é justo eu ainda não tinha visto. És tu que me vens abrir
os olhos. (…)
19 – (…) Desejo que meus sofrimentos acabem eis tudo. (…)
20 – Compreendes que de ti depende que eles acabem? – Compreendo.(…)”.
Convidamos o leitor, neste ponto de nossas reflexões, a meditar sobre o diálogo
acima transcrito, ainda que parcialmente (sugerimos consulta ao texto em sua íntegra)
e a proposta da UNESCO, acima comentada. Considere-se as angústias humanas, as razões
do sofrimento, mesmo nos casos de obsessão ou nas questões psicológicas e das dificuldades
pessoais. Observe-se e raciocine-se com atenção, e perceberemos com clareza que
o projeto Aprender a CONHECER, Aprender a FAZER, Aprender a CONVIVER e o Aprender
SER, conforme proposta daquele órgão internacional (embora não seja espírita),
é perfeitamente coerente com os ensinos de Jesus e com a proposta da Doutrina Espírita.
Sim, porque é exatamente o que devemos buscar.
Os componentes da ONU, em quaisquer de suas áreas de atuação, pertencem a diferentes
países e culturas, hábitos e costumes no entanto são criaturas humanitárias que
se vincularam à nobre causa do progresso e do bem da humanidade. É que Deus envia
seus filhos mais capacitados para todos os países, em todas as religiões, em todas
as áreas humanas, sociais ou tecnológicas, pois o que interessa é o progresso da
humanidade.
O diálogo com o espírito obsessor deixa clara a deficiência daquele espírito,
situação muito comum também entre os encarnados. A proposta educativa é, pois, altamente
identificada com o progresso humano, como ensina a Doutrina Espírita. O documento
aqui referido é fruto de laboriosas meditações e observações da trajetória histórica
da humanidade, demonstrando que o ser humano precisa autodesenvolver-se para alcançar
a esperada felicidade, o equilíbrio que o fará transitar do degrau de provas e expiações
para o de regeneração. Há que se pensar que a elaboração do citado documento é fruto
da experiência e da vivência de dedicados educadores encarnados e, óbvio, da inspiração
de uma multidão de espíritos que trabalham pelo progresso do planeta.
Nota do autor: A presente matéria está baseada no artigo OS QUATRO PILARES DA
EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI E O EVANGELHO, de autoria de SANDRA BORBA PEREIRA – Mestre
em Filosofia e Pedagoga da UFPE, bem como Professora da UFRN, com grande experiência
na educação de jovens, publicado no jornal MUNDO ESPÍRITA (de Curitiba-PR) , de
novembro de 2002, também disponível no site
www.mundoespirita.com.br
Matéria publicada originariamente na RIE- Revista Internacional de Espiritismo,
edição de novembro de 2004.