As Quatro Nobres Verdades – Parte 14
(…) nós reconhecemos a existência de seres superiores,
pelo menos de um certo estado superior do ser, nós acreditamos nos oráculos,
nos presságios, nas interpretações dos sonhos, na reencarnação. Mas essas
crenças, que para nós são uma certeza, não tentamos, de maneira alguma,
impô-las às pessoas. Repito: não queremos converter. O Budismo se atém acima
de tudo aos fatos. Ele é uma experiência, e até mesmo uma experiência pessoal.
Lembre-se das tão famosas palavras de Shakyamuni: “Espere tudo de você mesmo”.
XIV Dalai Lama (A Força do Budismo)
Deixando-se de lado as questões metafísicas, que para o Budismo não são
essenciais, as duas doutrinas – os dois caminhos espirituais – são
extraordinariamente afins.
Um Budista e um Espírita trocando idéias perceberiam rapidamente que
concordam no essencial, nos meios para tornar o homem livre de sofrimentos, e
que as discordâncias de detalhes tem mais a ver com visões culturais diferentes
do que propriamente com a “essência” dos ensinamentos.
Para o Espírita a psicologia budista traz ensinamentos valiosos e para o
Budista os conhecimentos científicos espíritas lhe permitiriam estender sua
compreensão de como o fluxo de consciência “não-material” atua sobre o mundo
material. Por exemplo, no estudo da lei de Causa e Efeito, juntar os enfoques
diferentes – a ciência Espírita com a atuação do perispírito e o Budismo com o
funcionamento da mente – abriria novas perspectivas.
Um exemplo de um trabalho bastante interessante, unindo os enfoques Budista e
Espírita, é o livro “Plenitude”, do espírito Joanna de Ângelis, psicografado
pelo médium Divaldo Pereira Franco. Neste livro, a autora aborda o problema do
sofrimento, sua existência, suas causas e forma de eliminação. É um estudo
bastante criterioso e consistente, onde conceitos milenares do Budismo
integrados aos conhecimentos Espíritas fornecem o ferramental adequado para
aprofundar o tema e dar-lhe solução.
Tanto o Espiritismo como o Budismo dão pouco valor ao proselitismo (a busca
de conversões) e enfatizam o respeito a todas as tradições religiosas, assim não
há fontes de conflito ou empecilhos maiores a troca de idéias e ao dialogo.
VI – Anexos
Para conhecer melhor as doutrinas discutidas neste
artigo
“Não acredite em nada apenas por ter ouvido.
Não acredite nas tradições apenas por terem sido transmitidas através de
inúmeras gerações.
Não acredite em nada apenas porque é dito e pregado por muitos.
Não acredite em nada apenas porque está escrito em livros religiosos.
Não acredite em nada apenas baseado na autoridade de um mestre ou sábio.
Mas depois de muita observação e análise, quando chegar à conclusão de que
algo é razoável, e que conduz à felicidade e ao benefício seu e de todos,
então aceite, e viva à altura do ensinamento.” – Buda, citação no livro “O
Despertar do Buda Interior” do Lama Surya Das (ed. Rocco).
– Budismo
Recomendo, além dos livros de Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, os livros “O
Monge e o Filósofo” e “O Despertar do Buda Interior”. O “Dhammapada” por outro
lado é uma leitura obrigatória para se ter uma idéia da essência dos
ensinamentos morais de Buda;
Apenas como curiosidade, os livros “O Monge e o Filósofo” e “A Força do
Budismo” (vide bibliografia) tiveram participação de autores franceses e uma
observação que salta a vista do leitor espírita é o desconhecimento deles com
relação ao Espiritismo (que teve seu nascimento na França, com as obras de Allan
Kardec ). Também espanta, para o leitor brasileiro, perceber o quanto o
materialismo está impregnado no pensamento desses autores. A posição parece
refletir uma realidade bastante diferente do ambiente intelectual brasileiro,
onde a religiosidade natural do povo brasileiro e a crescente influência do
Espiritismo e de outras correntes espiritualistas, tornam o materialismo
militante uma exceção.
Devido ao materialismo destes autores, a visão que apresentam da
espiritualidade ocidental, nos diálogos com o Dalai Lama e com o Monge Budista,
é bastante superficial – praticamente restrita ao Catolicismo – e assim deixam
de abordar questões e aprofundar comparações que seriam de extrema valia para o
pensador Espírita. Por exemplo, na questão da reencarnação apresentam um
desconhecimento tão grande – mesmo das recentes pesquisas com a terapia de vidas
passadas, efetuadas pelos psicólogos norte-americanos – que é difícil para seus
interlocutores explicar com maiores detalhes a visão Budista.
– Espiritismo
Sem duvida os livros de Allan Kardec, principalmente “O Livro dos Espíritos”,
o “Livro dos Médiuns” e o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, também recomendo os
livros de Léon Denis, principalmente “No Invisível”. A partir desta base há
excelentes obras complementares, entre elas as psicografadas pelo médium
Francisco Cândido Xavier – impossível deixar de citar “O Consolador” do espírito
Emmanuel e “Nosso Lar” de André Luiz.
Uma Homenagem à Francisco Cândido Xavier
“Sempre que eu interagir com alguém,
Que eu me veja como o menos importante de todos,
E, das profundezas do meu coração,
Respeitosamente considere os outros superiores.“
A segunda das oito estrofes de Geshe Langri Thangpa sobre a transformação da
mente.
(“Transformando a Mente”, Dalai Lama, Ed. Martins Fonte)
Pode parecer estranho encerrar uma série de artigos, que comparam as
Doutrinas Budista e Espírita, com uma homenagem a um médium, mesmo que seja um
médium tão extraordinário como Francisco Cândido Xavier. O motivo desta opção
foi a de que Chico Xavier ilustra de forma extremamente clara as afinidades
entre o Espiritismo e o Budismo.
Chico, independentemente de suas faculdades mediúnicas, foi um ser humano
impressionante. Nele as virtudes cristãs, que são a base moral da Doutrina
Espírita, encontraram sua vivência completa. Ele foi um mensageiro do qual se
pode dizer que, não só transmitiu fielmente a mensagem espírita, como se
transformou na própria mensagem.
Similarmente, se olharmos Francisco Cândido Xavier com os olhos de um
Budista, veremos nele a encarnação perfeita das virtudes ensinadas por Siddharta
Gautama, na sua compaixão ilimitada para com todos os seres sencientes. Chico
Xavier é um Bodhisattva na mais completa acepção deste termo, um ser iluminado,
que para libertar-nos do sofrimento, veio nos trazer a verdade libertadora da
prática incondicional do bem.
Fica portanto, como fechamento destes artigos, nossa profunda homenagem e
gratidão ao “Mineiro do Século”:
Francisco Cândido Xavier
02/04/1910 – 30/06/2002
(Publicado no Boletim GEAE Número 443 de 1 de outubro de 2002)