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Reencarnação, Argumentos católicos contrários

Paulo da Silva Neto Sobrinho

É muito comum recebermos e-mails de pessoas que pertencem a outros segmentos religiosos inconformados com alguns dos princípios da Doutrina Espírita.

Dois deles, em particular, causam uma certa indignação aos nossos detratores, que em quase todos os artigos combatendo o Espiritismo, os mencionam. São eles: o princípio da reencarnação e a comunicação com os mortos.

E, mais recentemente, recebemos um texto, que segundo quem nos enviou o e-mail([i]), é de autoria do Prof. Orlando Fedeli. Sinceramente, confessamos não saber quem é. Mas isso pouco importa, o mais importante é fazermos a análise deste texto para vermos se a refutação que o autor apresenta, em primeiro plano, contra a reencarnação, e, em segundo, contra a comunicação com os mortos, são consistentes.

Vamos, então ao texto, para posterior análise.

Reencarnação

Argumentos católicos contra os fundamentos do Espiritismo

Prof. Orlando Fedeli

A doutrina da reencarnação é comum a vários sistemas religiosos, todos de fundo gnóstico. Ela provém de um erro a respeito do problema do mal e da justiça divina. Modernamente, a doutrina da reencarnação se tornou muito difundida pelo espiritismo.

Os reencarnacionistas defendem a tese de que cada pessoa teria várias vidas, e se reencarnaria para pagar os pecados de uma vida anterior. Desse modo, cada vida nos seria concedida para expiar erros, que não conhecemos, de uma vida que teríamos tido. Cada reencarnação seria um castigo pelos males que praticamos em vidas anteriores. Não haveria inferno. O castigo do homem seria viver neste mundo material, e não tornar-se puro espírito. Para os reencarnacionistas, “o inferno é aqui”.

Eles recusam admitir que esta vida é única, e que, após a morte, somos julgados por Deus e premiados com o céu, ou punidos temporariamente no purgatório, ou condenados eternamente ao inferno. Exigem uma “nova oportunidade”, enquanto recusam mudar de vida agora. A eles poderia ser aplicado o que diz um autor a respeito do tempo e do adiamento dos deveres: “Por que prometes fazer, num futuro que não tens, aquilo que recusas fazer no tempo que tens?” Assim também o que defende a teoria da reencarnação pretende melhorar nas futuras vidas – que imagina terá – o que se recusa a melhorar já, na vida que tem. Para os hinduístas, a reencarnação poderia se dar pela transmigração do espírito até no corpo de um animal ou planta. Para os espíritas, a reencarnação se daria apenas em corpos humanos.

REFUTAÇÃO

Se a alma humana se reencarna para pagar os pecados cometidos numa vida anterior, deve-se considerar a vida como uma punição, e não um bem em si. Ora, se a vida fosse um castigo, ansiaríamos por deixá-la, visto que todo homem quer que seu castigo acabe logo. Ninguém quer ficar em castigo longamente. Entretanto, ninguém deseja, em sã consciência, deixar de viver. Logo, a vida não é um castigo. Pelo contrário, a vida humana é o maior bem natural que possuímos.

Se a alma se reencarna para pagar os pecados de uma vida anterior, dever-se-ia perguntar quando se iniciou esta série de reencarnações. Onde estava o homem quando pecou pela primeira vez? Tinha ele então corpo? Ou era puro espírito? Se tinha corpo, então já estava sendo castigado. Onde pecara antes? Só poderia ter pecado quando ainda era puro espírito. Como foi esse pecado? Era então o homem parte da divindade? Como poderia ter havido pecado em Deus? Se não era parte da divindade, o que era então o homem antes de ter corpo? Era anjo? Mas o anjo não é uma alma humana sem corpo. O anjo é um ser de natureza diversa da humana. Que era o espírito humano quando teria pecado essa primeira vez?

Se a reencarnação fosse verdadeira, com o passar dos séculos haveria necessariamente uma diminuição dos seres humanos, pois que, à medida que se aperfeiçoassem, deixariam de se reencarnar. No limite, a humanidade estaria caminhando para a extinção. Ora, tal não acontece. Pelo contrário, a humanidade está crescendo em número. Logo, não existe reencarnação.

Respondem os espíritas que Deus estaria criando continuamente novos espíritos. Mas então, esse Deus criaria sempre espíritos em pecado, que precisariam sempre se reencarnar. Jamais cria ele espíritos perfeitos?

Se a reencarnação dos espíritos é um castigo para eles, o ter corpo seria um mal para o espírito humano. Ora, se ter corpo é necessário para o homem, cuja alma só pode conhecer através do uso dos sentidos. Haveria então uma contradição na natureza humana, o que é um absurdo, porque Deus tudo fez com bondade e ordem.

Se a reencarnação fosse verdadeira, o nascer seria um mal, pois significa cair num estado de punição, e todo nascimento deveria causar-nos tristeza. Morrer, pelo contrário, significa uma libertação, e deveria causar-nos alegria. Ora, todo nascimento de uma criança é causa de alegria, enquanto a morte causa-nos tristeza. Logo, a reencarnação não é verdadeira.

Vimos que se a reencarnação fosse verdadeira, todo nascimento seria causa de tristeza. Mas, se tal fosse certo, o casamento – causador de novos nascimentos e reencarnações – seria mau. Ora, isto é um absurdo. Logo, a reencarnação é falsa.

Caso a reencarnação fosse uma realidade, as pessoas nasceriam de determinado casal somente em função de seus pecados em vida anterior. Tivessem sido outros os seus pecados, outros teriam sido seus pais. Portanto, a relação de um filho com seus pais seria apenas uma casualidade, e não teria importância maior. No fundo, os filhos nada teriam a ver com seus pais, o que é um absurdo.

A reencarnação causa uma destruição da caridade. Se uma pessoa nasce em certa situação de necessidade, doente, ou em situação social inferior ou nociva – como escrava, por exemplo, ou paria – nada se deveria fazer para ajudá-la, porque propiciar-lhe qualquer auxílio seria, de fato, burlar a justiça divina que determinou que ela nascesse em tal situação como justo castigo de seus pecados numa vida anterior. É por isso que na Índia, país em que se crê normalmente na reencarnação, praticamente ninguém se preocupa em auxiliar os infelizes párias. A reencarnação destrói a caridade. Portanto, é falsa.

A reencarnação causaria uma tendência à imoralidade e não um incentivo à virtude. Com efeito, se sabemos que temos só uma vida e que, ao fim dela, seremos julgados por Deus, procuramos converter-nos antes da morte. Pelo contrário, se imaginamos que teremos milhares de vidas e reencarnações, então não nos veríamos impelidos à conversão imediata. Como um aluno que tivesse a possibilidade de fazer milhares de provas de recuperação, para ser promovido, pouco se importaria em perder uma prova – pois poderia facilmente recuperar essa perda em provas futuras – assim também, havendo milhares de reencarnações, o homem seria levado a desleixar seu aprimoramento moral, porque confiaria em recuperar-se no futuro. Diria alguém: “Esta vida atual, desta vez, quero aproveitá-la gozando à vontade. Em outra encarnação, recuperar-me-ei” Portanto, a reencarnação impele mais à imoralidade do que à virtude.

Ademais, por que esforçar-se, combatendo vícios e defeitos, se a recuperação é praticamente fatal, ao final de um processo de reencarnações infindas?

Se assim, fosse, então ninguém seria condenado a um inferno eterno, porque todos se salvariam ao cabo de um número infindável de reencarnações. Não haveria inferno. Se isso fosse assim, como se explicaria que Cristo Nosso Senhor afirmou que, no juízo final, Ele dirá aos maus: “Ide malditos para o fogo eterno”?

Se a reencarnação fosse verdadeira, o homem seria salvador de si mesmo, porque ele mesmo pagaria suficientemente suas faltas por meio de reencarnações sucessivas. Se fossem assim, Cristo não seria o Redentor do homem. O sacrifício do Calvário seria nulo e sem sentido. Cada um salvar-se-ia por si mesmo. O homem seria redentor de si mesmo. Esse é uma tese fundamental da Gnose.

E conseqüência, a Missa e todos os Sacramentos não teriam valor nenhum e seriam inúteis ou dispensáveis. O que é outro absurdo herético.

A doutrina da reencarnação conduz necessariamente à idéia gnóstica de que o homem é o redentor de si mesmo. Mas, se assim fosse, cairíamos num dilema: Ou as ofensas feitas a Deus pelo homem não teriam gravidade infinita; Ou o mérito de homem seria de si, infinito. Que a ofensa do homem a Deus tenha gravidade infinita decorre da própria infinitude de Deus. Logo, dever-se-ia concluir que, se homem é redentor de si mesmo, pagando com seus próprios méritos as ofensas feitas por ele a Deus infinito, é porque seus méritos pessoais são infinitos. Ora, só Deus pode ter méritos infinitos. Logo, o homem seria divino. O que é uma conclusão gnóstica ou panteísta. De qualquer modo, absurda. Logo, a reencarnação é uma falsidade.

Se o homem fosse divino por sua natureza, como se explicaria ser ele capaz de pecado? A doutrina da reencarnação leva, então, à conclusão de que o mal moral provém da própria natureza divina. O que significa a aceitação do dualismo maniqueu e gnóstico. A reencarnação leva necessariamente à aceitação do dualismo metafísico, que é tese gnóstica que repugna à razão e é contra a Fé.

É essa tendência dualista e gnóstica que leva os espíritas, defensores a reencarnação, a considerarem que o mal é algo substancial e metafísico, e não apenas moral. O que, de novo, é tese da Gnose.

Se reencarnando-se infinitamente, o homem tende à perfeição, não se compreende como, ao final desse processo, ele não se torne perfeito de modo absoluto, isto é, ele se torne Deus, já que ele tem em sua própria natureza essa capacidade de aperfeiçoamento infindo.

A doutrina da reencarnação, admitindo várias mortes sucessivas para o homem, contraria diretamente o que Deus ensinou na Sagrada Escritura.

Por exemplo, São Paulo escreveu: “O homem só morre uma vez” (Heb. IX, 27).

Também no Livro de Jó está escrito: “Assim o homem, quando dormir, não ressuscitará, até que o céu seja consumido, não despertará, nem se levantará de seu sono” (Jó, XIV, 12).

Finalmente, a doutrina da reencarnação vai frontalmente contra o ensinamento do Cristo no Evangelho. Com efeito, ao ensinar a parábola do rico e do pobre Lázaro, Cristo Nosso Senhor disse que, quando ambos morreram, foram imediatamente julgados por Deus, sendo o mau rico mandado para o castigo eterno, e Lázaro mandado para o seio de Abraão, isto é, para o céu. (cfr. Lucas XVI, 19-31).

E, nessa mesma parábola Cristo nega que possa alguma alma voltar para ensinar algo aos vivos.

Em adendo a tudo isto, embora sem que seja argumento contrário à reencarnação, convém recordar que na, Sagrada Escritura, Deus proíbe que se invoquem as almas dos mortos.

No Deuteronômio se lê: “Não se ache entre vós quem purifique seu filho ou sua filha, fazendo-o passar pelo fogo, nem quem consulte os adivinhos ou observe sonhos ou agouros, nem quem use malefícios, nem quem seja encantador, nem quem consulte os pitões (os médiuns) ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas e por tais maldades exterminará estes povos à tua entrada” (Deut. XVIII, 10-12).

NOSSOS CONTRA-ARGUMENTOS

Tendo em vista que logo de início se fala que a reencarnação é comum a vários sistemas religiosos, todos de fundos gnóstico, cabe-nos definir o que é gnóstico para que possamos entender bem o que o autor quer levar os outros a concluir. Queremos antes ressaltar que, na verdade, o autor não tem nenhuma preocupação de argumentar contra o princípio da reencarnação, pois se assim fosse, não necessitaria citar o Espiritismo, haja vista que, conforme ele mesmo coloca, a reencarnação não é princípio exclusivo nosso, mas de muitas outras correntes filosóficas. E, ao citar o Espiritismo, vemos apenas que tem a intenção específica de combatê-lo, caso contrário falaria o que pensa contra esse princípio sem citar-nos, não é mesmo? Mas, vamos à definição.

A Enciclopédia Encarta define:

“Gnosticismo como um movimento religioso esotérico que floresceu durante os séculos II e III e trouxe um desafio para os cristãos ortodoxos. A maioria das seitas gnósticas professavam o cristianismo, mas suas crenças eram diferentes da dos cristãos dos primeiros tempos da Igreja. Para seus seguidores, o gnosticismo prometia um conhecimento secreto do reino divino. Segundo os gnósticos, sementes do Ser Divino caíram até o universo material – que, em sua totalidade, é mau – e foram encarceradas nos corpos humanos. O conhecimento ou gnose poderia despertar estes elementos que voltariam à própria casa, isto é, reino espiritual”.

“Para explicar a ordem do universo material, os gnósticos desenvolveram uma complicada mitologia. Do Deus original, não cognoscível, uma série de divindades menores tinham sido geradas, por emanação. Assim nasceu um Deus mau, criador do Universo e identificado com o Deus do Antigo Testamento”.

“Os cristãos gnósticos se negavam a identificar o Deus do Novo Testamento, pai de Cristo, com o Deus do Antigo Testamento. Para se justificarem, escreveram evangelhos apócrifos (como os evangelhos de Tomás e de Maria) afirmando que Jesus expôs a seus discípulos a interpretação gnóstica de seus ensinamentos. Ou seja, Cristo, o espírito divino, habitou o corpo do homem Jesus mas não morreu na cruz. Desta maneira, os gnósticos rejeitavam o sofrimento, a morte e a ressurreição do corpo terreno. Os gnósticos também não aceitavam outras interpretações literais e tradicionais do Evangelho”.

“Por volta do século II, o gnosticismo começou a ocultar-se diante da oposição e perseguição cristãs. Além disto, conforme a teologia e o dogma cristãos iam se desenvolvendo, os ensinamentos gnósticos começaram a parecer estranhos e muitos seguidores converteram-se às crenças ortodoxas”.

Vejam bem, a afirmativa de que a reencarnação tenha fundo gnóstico, não procede, pois esse princípio já existia muito antes do movimento gnóstico, surgido nos séculos II e III, uma vez que se tem notícia dela deste 1.500 a.C, época que se presume iniciou-se o Hinduísmo. Também no Budismo (cerca de 550 a.C) existe a idéia da reencarnação.

Muito interessante é o que diz Elizabeth Clare Prophet([ii]), a respeito do Gnosticismo. Dá até para a gente perceber que os tempos mudam, mas as pessoas parecem sempre usar dos mesmos ultrapassados argumentos. Vejamos, então, o que ela diz:

“Acusar alguém de perversão sexual é geralmente uma boa forma de desacreditar suas idéias. Foi justamente isto que os Patriarcas da Igreja fizeram aos gnósticos. Ao caracterizá-los como insanos, depravados, seres anormais que odiavam a vida e praticavam orgias, o amor livre e o homossexualismo, que alimentavam-se de fetos e recusavam-se a ter filhos, os teólogos primitivos conseguiram convencer as pessoas de que os ensinamentos dos gnósticos eram absurdos e insensatos”.

(….)

“Existia provavelmente uma grande variedade de práticas entre os grupos gnósticos. Alguns eram licenciosos e outros ascetas. Alguns eram celibatários e outros optaram por ter filhos. Os gnósticos divergiam em relação a várias coisas, inclusive se Jesus era um ser humano ou um ser divino que tinha apenas aparência humana. Mas costumavam concordar a respeito de temas como o significado da ressurreição, o processo de salvação [da alma] e a existência da reencarnação”.

(…)

“Tudo indica que os Patriarcas da Igreja exageraram ou inventaram detalhes a respeito das práticas religiosas dos gnósticos com o objetivo de ocultar as verdadeiras diferenças entre sua teologia e o Gnosticismo. Os gnósticos tinham algo que poderia destruir toda a estrutura da Igreja: uma interpretação das Escrituras que rivalizava com a sua. Os gnósticos afirmavam que as interpretações dos Patriarcas da Igreja, como, Irineu (130-200) e Tertuliano (150-225), eram simplistas e incompletas, pois baseavam-se num entendimento parcial. Os gnósticos diziam possuir a interpretação completa – baseada nos ensinamentos secretos de Jesus que lhes foram transmitidos pelos apóstolos”.

Vê-se bem que o Espiritismo, se o quiserem, pode até ter princípios gnósticos, mas não os buscou no gnosticismo. De qualquer forma, temos que convir que o fato de duas ou mais correntes filosóficas possuírem princípios comuns, não implica necessariamente que uma tenha originado da outra, já que é muito comum uma mesma idéia surgir em vários lugares ao mesmo tempo. É o que acontece com o Espiritismo, a respeito da reencarnação. Kardec, não buscou esse princípio nas filosofias já existentes. Disse, a esse respeito, que a aceitou por dois motivos. Um por se apoiar na lógica e o outro por ter sido revelada pelos espíritos superiores.

Entraremos agora, na refutação feita pelo autor do artigo.

A reencarnação é somente para pagarmos os nossos pecados anteriores? Essa é a pergunta clássica sob o objetivo da reencarnação. O principal motivo de reencarnarmos é para progredirmos, pois, somente através de inúmeras vidas é que teremos condições de progredir: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial”. O espírito, criado simples e ignorante por Deus, de acordo com o seu livre-arbítrio, vai através de suas várias vidas se aperfeiçoando moral e espiritualmente. É sua caminhada na senda do progresso, rumo ao Pai. A perfeição que o espírito pode conseguir é relativa, não absoluta, pois se assim fosse estaria a criatura se igualando ao criador, e isso nos colocaria diante do absurdo do ser criado se tornar um Deus.

Entretanto, por falta de conhecimento é que muitos dizem ter a reencarnação somente o objetivo de expiação. E, diga-se de passagem, esse pensamento ocorre até mesmo entre muitos espíritas.

Assim, a vida no corpo físico é uma oportunidade que Deus dá a cada um de nós para evoluirmos, e, ao mesmo tempo, nos harmonizarmos perante Sua justiça.

Se um espírito rebelde acha que sua reencarnação é uma punição, é problema dele e não da justiça divina, que quer apenas recuperá-lo.

Se, por algum motivo, estamos expiando algo que fizemos no passado, mesmo sem lembrarmos do que fizemos, não quer dizer que isso seja injusto, uma vez que o esquecimento é um fato temporário que acontece quando estamos ligados a um corpo físico, ou seja, no plano espiritual lembramos de tudo, muito embora, para alguns, isso demore um tempo mais longo para se perceber. Injusto mesmo é pagarmos por algo que nós não fizemos, como é o caso do tal pecado original. Pregam algumas correntes religiosas, que toda a humanidade vem pagando pelo pecado de Adão e Eva, apesar disso estar contrariando a passagem bíblica: “Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais. Cada um será executado por causa de seu próprio crime” (Deut. 24, 16). Mais contundente ainda fica a contradição, quando analisamos as palavras de Jesus: “a cada um segundo suas obras” (Mt. 16, 27)

Aos que acreditam que a nossa existência é uma só, gostaríamos que nos respondesse: Por que algumas crianças nascem aleijadas, cegas, mudas, surdas, idiotas, etc? Explique-nos com base em que justiça isso se processa. Mas, não nos venham com a esdrúxula explicação que isso é mistério de Deus. Como explicar também que muitas crianças sabem fazer determinada coisa sem a terem aprendido, como por exemplo, pintar sem ter feito nenhum curso de pintura?

Se para Deus “mil anos é como se fosse um dia” (Sl 90, 4) como explicar uma pena eterna diante disso? E mais, como conciliar a pena eterna com: “O Senhor é misericordioso e compassivo, longânimo e assaz benigno” (Sl 103, 8). Se Deus é infinitamente misericordioso, como explicar Ele castigando alguém eternamente por erros de menos de “um dia”?

Acreditar na reencarnação pressupõe aceitar a pré-existência do espírito. E a pré-existência do espírito nós podemos comprovar pela passagem: “Eu era um jovem de boas qualidades e tive a sorte de ter uma boa alma, ou melhor, sendo bom, vim a um corpo sem mancha” (Sabedoria 8, 19-20). Confirma também a questão do carma, se o personagem bíblico teve um corpo sem mancha porque era uma boa alma, isto implica dizer que se fosse o contrário teria um corpo deformado. Isso, ou seja, o carma, faz parte dos ensinamentos de Jesus. Certa feita Ele vê um paralítico perto da piscina de Betezatá que ansiava ser curado, Jesus, condoído pelo sofrimento dele, o cura. Mais tarde, Jesus o encontra no Templo e disse-lhe: “Vê, ficaste curado. Não peques mais, para que te não aconteça coisa pior”. O que podemos concluir disso? Concluímos, com certeza, que a paralisia daquele homem tinha como origem um “pecado” que ele havia cometido anteriormente, embora, pelo texto, não possamos dizer que tal “pecado” fosse da vida atual ou de uma vida anterior. Podemos supor que ele tenha feito algo grave, pois estava doente havia 38 anos, conforme se pode ler na narrativa bíblica (João 5, 1-18).

O homem vive como se fosse um ser eterno, na maioria das vezes não pensa que um dia estará morto. E este tipo de visão, é que leva o homem a não se preocupar com sua morte, que enfeitiçado pelos prazeres mundanos, vive despreocupado com o seu amanhã. Assim, passa toda uma vida sem se preparar para o inevitável. Faz de tudo para viver até o seu último minuto, pois o instinto de sobrevivência que Deus sabiamente colocou em todos os seres vivos, faz com que o homem instintivamente lute para se manter vivo, apesar de todas as adversidades que a vida possa trazer.

Antigamente, os teólogos diziam que Deus criava o espírito no momento do nascimento da criança. Entretanto, a contragosto dos teólogos, as pesquisas vêm confirmar que, já no útero da mãe, a criança tem vários tipos de percepções. Inclusive, é muito comum que o sentimento de rejeição, que algumas pessoas sentem em relação aos seus pais, tenha se iniciado no período em que ela ainda era apenas um feto. Não sei o que eles dizem hoje sobre isso, mas se ainda não mudaram de opinião é por puro fanatismo. Com isso queremos provar que nem tudo o que os teólogos do passado acreditavam ser uma verdade, aceitamos, nos dias de hoje, como ainda sendo uma verdade.

O espírito ao ser criado simples e ignorante, necessita passar pelo ciclo das encarnações para se tornar um espírito puro. Assim, não foi criado puro como pode alguém pensar, pois se tivesse sido criado puro não precisaria evoluir e, tampouco, poderia retrogradar. Na sua caminhada evolutiva, é que, usando de seu livre-arbítrio, toma o caminho que, naquele momento, lhe parece melhor. Pode seguir tanto o caminho do bem quanto o do mal, é opção livre e exclusiva dele. Assim, seus “pecados” se iniciam, quando, utilizando desse livre-arbítrio, passa a transgredir as leis de Deus. E somente a partir daí, é que irá começar a sofrer as conseqüências negativas de suas ações.

Um espírito, após atingir a sua condição de espírito puro não estará mais sujeito ao ciclo das reencarnações sucessivas, já que não tem mais nenhum tipo de vício, possuindo somente virtudes, e, assim, viverá na sua plenitude espiritual.

O anjo não é um ser de natureza diversa do homem. A ignorância humana é que o tem colocado como de natureza diversa. Jesus em certa oportunidade disse: “Porque, na ressurreição, seremos todos como os anjos no céu” (Mt 22, 30), portanto está nos igualando aos anjos. Percebe-se, também, que todos os nomes dos “anjos” que aparecem na Bíblia, são nomes comuns a seres humanos. E mais, muitos estudiosos da Bíblia dizem exatamente isso, ou seja, que os anjos são espíritos de humanos que já morreram. Isso também fica evidente em algumas passagens bíblicas, que entre outras, podemos citar:

a) Cornélio teve uma visão de um anjo e ao contar a Pedro essa visão, diz: “Faz três dias que, enquanto rezava em minha casa, lá pelas três da tarde, um homem com roupas muito claras apareceu na minha frente,”… (Atos 10, 30).

Vejam bem, um anjo sendo identificado como um homem com roupas muito claras.

b) Herodes havia mandado decapitar a Tiago, irmão de João. Como viu que isso agradou aos judeus ordenou que também prendessem a Pedro. Só que, na noite anterior que Pedro ia ser apresentado ao público, veio um “anjo” e o soltou. Depois disso ele se dirige à casa de Maria, mãe de João, onde estavam reunidas várias pessoas. Então, Pedro bate à porta. Uma empregada, chamada Rosa, foi atender. Ela reconheceu a voz de Pedro, mas ao invés de abrir a porta, correu para dentro para contar aos outros que Pedro estava lá fora. Os outros disseram: “Estás delirando!” Mas ela insistia, dizendo que era verdade. Observaram então: “Deve ser o anjo dele!”… (Atos 12 1-17).

Ora, àquela altura dos acontecimentos, pensavam que Pedro já deveria estar morto, por ordem de Herodes. Assim, imaginaram que, ali à porta, só poderia estar o espírito dele, daí é que disseram: o anjo dele!.

O que se pensa de anjos é que são seres criados perfeitos por Deus. Se assim fosse, onde estaria Sua justiça ao criar seres já perfeitos e outros que deveriam lutar para se tornarem perfeitos?

Um problema sério para os que não acreditam na reencarnação é supor que Deus tenha apenas criado espíritos para viverem aqui na Terra. Mas, se Jesus disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”, para que serviriam os outros planetas? Somente para apreciação dos seres que habitam a Terra? Pura ingenuidade. A verdade é que existe uma emigração de espíritos que, de acordo com a evolução que vão adquirindo, passam de um planeta a outro. A Terra não é o primeiro planeta na escala evolutiva por onde o espírito deve passar todo o seu progresso moral e espiritual. Assim, como vários espíritos que habitaram a terra podem reencarnar em planetas de um grau de evolução superior ao da Terra, também a Terra, por sua vez, recebe de outros mundos, que lhes são inferiores, espíritos que necessitam reencarnar aqui para aprendizado e evolução.

No corpo físico, o espírito ao viver uma vida de relação com outros espíritos, é que vai aprendendo e evoluindo. Portanto, o corpo físico é importante para o aprendizado do espírito, mas não mais importante que ele. É só analisarmos essas palavras de Jesus, que chegaremos a essa conclusão: “O espírito é que dá vida; a carne de nada serve” (Jo 6, 63).

Se nos enxergarmos como espíritos eternos, iremos perceber que a vida espiritual é que é a nossa verdadeira vida, no dizer de Jesus: “Meu reino não é desse mundo” (Jo 18, 36). Se tivéssemos uma visão mais ampla dessa realidade espiritual, com absoluta certeza choraríamos diante de um nascimento e alegraríamos com a morte, já que no corpo físico estaríamos entrando numa espécie de prisão, enquanto que na morte estaríamos nos libertando dela. Temos notícia que existem alguns povos que pensam desta forma. Os que ainda choram com a morte, a maioria das vezes, choram por puro egoísmo, já que não querem abrir mão de viver sem a pessoa que está a seu lado, e, em algumas situações, nem mesmo a ama, é apenas por um sentimento de posse, nada mais. Por outro lado, os líderes religiosos nada fazem para mudar este quadro.

O casamento é uma instituição divina. É através dele que o homem se torna co-criador com Deus, fornecendo um corpo (o que é nascido da carne é carne) para que um ser espiritual criado por Deus possa evoluir. E mais, é através dele que nossas relações de amizade fortalecem, pois é muito comum nascermos junto com os espíritos que nos sãos afins. Importante salientar, que é junto ao mesmo grupo familiar que recebemos de Deus a oportunidade de reconciliação com os nossos adversários, já que algozes do passado podem estar, numa nova encarnação, ligados pelos laços familiares, para que o amor de pai, mãe ou irmão possa vencer o ódio existente entre os antagonistas. Aliás, sem o casamento isso não poderia ocorrer, e pessoas, que partiram desta vida para o outro plano, continuariam odiando umas às outras, assim nunca mais teriam oportunidade de se reconciliarem e estaria, desta forma, perpetuando o ódio. Ora, se Deus é amor, nada neste universo que não esteja dentro deste princípio irá subsistir. De uma forma ou de outra, Deus faz com que tudo se volte para a sua essência: o amor.

A reencarnação nada mais faz que fortalecer os laços de família, pois, os que aqui nesta vida viveram ligados por laços familiares, voltarão um dia a viverem juntos aqui na Terra, até que um dia todos possam estar juntos no mundo espiritual. Entretanto, a falsa teoria do inferno, proposta pelos que querem dominar seus adeptos, é que destrói os laços de família. Ainda não pensam assim os que acham que ele e todos os seus familiares irão para o céu, mas a realidade da vida terrestre não nos mostra isso. Na verdade ocorrerá que muitos pais e mães serão afastados para sempre de seus filhos, já que irão para o céu e os seus filhos fatalmente irão para o “inferno”, por não merecerem o céu. Se a reencarnação não existir, aí sim é que os laços que nos unem aos nossos filhos seriam de casualidade, só não vê quem não quer.

A máxima do Espiritismo, tirada dos ensinamentos de Jesus, é: “fora da caridade não há salvação”. Somos conscientizados da necessidade de fazer o bem incondicional e indistintamente, pois não há como amar a Deus sem fazer o bem ao próximo. Enganam-se os que acham que, pelo fato de acreditarmos que algumas pessoas estejam sofrendo em conseqüência de seus atos passados, não devemos fazer nada para ajudar. Ocorre que aprendemos exatamente o contrário, pois ajudando podemos ser o instrumento de Deus para a libertação dessa criatura de suas dores ou seus sofrimentos. Mesmo sabendo que sofremos como conseqüência de nossos erros (“Vê, ficaste curado. Não peques mais, para que te não aconteça coisa pior”) Jesus não deixou de curar os que iam ao seu encontro em busca de alívio. E como seguimos o Seu exemplo, procuramos fazer tudo o que Ele fez, sem nos preocuparmos com que os outros pensam, já que prestaremos contas de nossos atos somente a Deus.

Se a reencarnação for o incentivo a imoralidade, por mais forte razão diremos que a teoria do “inferno” também o é, já que podemos passar a vida toda na imoralidade e deixarmos para pedir perdão a Deus pelos nossos pecados no último minuto de nossa vida. Por outro lado, mesmo apregoando que o inferno é eterno, quantos se preocupam em não ir para lá?

O fato de sabermos que podemos pagar pelos nossos erros em outra vida não induz a todos os espíritas a deixarem para amanhã o pagamento da dívida. A nossa percepção da vida, quando regressamos ao mundo espiritual, muda completamente quer tenhamos sido espíritas ou não. Lá, sentimos a necessidade de resolvermos os nossos compromissos, contraídos perante a justiça divina, o mais rápido possível, pois antevemos a situação em que iremos futuramente nos encontrar, e isso faz com que passemos a dar pouco valor às vicissitudes do caminho, pois o “prêmio” compensará tudo o que tenhamos sofrido para chegar até o ponto máximo de nossa evolução.

Onde estaria a justiça de Deus que dá ao ser humano uma pena eterna por um erro que não foi praticado eternamente? Temos estudado constantemente a Bíblia e, cada vez mais, ficamos perplexos diante de tantas interpretações e traduções equivocadas ou de conveniência. A questão do inferno eterno, por exemplo, é uma delas. Vejamos o Salmo 103, 9-10, pela narrativa da Bíblia – Editora Mundo Cristão: Nãorepreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem retribui consoante as nossas iniqüidades. Vejam bem, se Deus não repreende perpetuamente onde fica o inferno eterno? Se Deus não conserva para sempre a sua ira, por que motivo irá nos manter para sempre no inferno? Onde a eternidade das penas já que não nos trata segundo os nossos pecados? Erro crasso dos teólogos é acharem que o ser infinito possa ser ofendido por um ser finito. Um ser infinito só pode ser “ofendido” por outro ser infinito. Ora, se existir outro ser infinito, então Deus não é o único Deus. Absurdo teológico que o tempo acabará por derrubar, como já derrubou outros, como a teoria da Terra ser o centro do universo.

Muitos por não entenderem que algumas passagens do Evangelho devem ser tomadas em seu simbolismo, querem que Jesus tenha sancionado o inferno como coisa real e concreta. Se tudo que Ele disse, fossemos tomar ao pé da letra, como fica: “Não pensem que eu vim trazer a paz à terra; eu não vim trazer a paz, e sim a espada. De fato, eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra” (Mt 10, 34-35), poderíamos entender que Jesus tenha vindo para separar o filho dos pais? Não, pois não é este o sentido que tiramos dessa passagem, apenas que pelo fato de uns O seguirem e outros não, iria, por causa disso, ser motivo de divisão entre os familiares, a própria evolução espiritual de cada um é que os coloca uns contra os outros. Será que é dessa passagem que a Igreja Católica tomou para justificar a inquisição e as cruzadas?

Sempre aparecem pessoas com argumentos procurando taxar os que não pensam como eles de heréticos. Se esquecem que Jesus também foi considerado, pelos líderes religiosos de seu tempo, um herético. Jesus não instituiu nenhum ritual. Os rituais praticados pela Igreja Católica não são mais que cópia de rituais de cultos pagãos, apenas isso. O que para nós não faz a menor diferença, e nem os condenamos, pois cada um deve seguir a seu próprio caminho.

Disse Jesus: “Vós sois deuses”, por que não acreditar que somos em essência divinos? Além do mais, não dizem que fomos criados a semelhança de Deus? Não diz o livro de Sabedoria que: “O teu espírito incorruptível está em todas as coisas” (12, 1)? O mal provém do uso que o homem faz do seu livre-arbítrio, não é portanto, de origem divina.

A questão de o homem ser salvador de si mesmo, realmente é um problema grave, pois a partir daí os líderes religiosos poderão ser completamente dispensáveis. Se Jesus disse: “a cada um segundo as suas obras”, fica claro que nossa salvação não está na benção de um padre ou pastor. Em momento algum, Jesus se colocou como redentor da humanidade, se o enxergarmos desta forma “comamos e bebamos”conforme diz S. Paulo, pois já estamos salvos. Essa idéia de Jesus se tornar o cordeiro de Deus que expia os pecados do mundo, é fruto da cultura da época. Uma vez por ano, ofereciam em sacrifício um bode como ritual de expiação dos pecados, daí o nome de bode expiatório, pensando que, com isso, Deus os perdoaria de seus pecados. Mas, se o perdão é assim tão simples, como ficam essas passagens: “Seabsolvermos o malvado, ele nunca aprende a justiça; sobre a terra ele distorce as coisas direitas e não vê a grandeza de Javé” (Isaías 26, 10) e “É sinal de grande bondade não deixar por muito tempo sem castigo aqueles que cometeram injustiça, mas aplicar-lhes logo a merecida punição” (2 Macabeus 6, 13)?.

O que sabemos que Jesus disse foi: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6). Ora, caminho indica a necessidade de se andar por ele, ou seja, nosso esforço próprio, algo que somente nós podemos fazer, ninguém o fará por nós. Coloca-se Jesus como redentor da humanidade no sentido de resgatar o homem da morte, pena imposta ao homem, por causa do pecado de Adão e Eva. Se os homens morrem pela culpa de Adão e Eva, inclusive, já provamos anteriormente que isso é contraditório com outras passagens bíblicas, então como explicar o porquê tudo na natureza morre? E, se considerarmos que o“tu és pó e ao pó hás de tornar” foi dirigido especificamente ao homem, por que, é a pergunta que fazemos, as mulheres, os animais e as plantas também morrem?

Por outro lado, vemos que algumas passagens bíblicas só podem ser entendidas aceitando-se o princípio da reencarnação, vejamos, por exemplo, a passagem do livro Sabedoria (12, 2): “Por isso, castigas com brandura os que erram. Tu os admoestas, fazendo-os lembrar os pecados que cometeram, para que, afastando-se da maldade, acreditem em ti, Senhor”.

A reencarnação faz parte dos ensinamentos de Jesus, só os cegos é que não a vêem. Quando ele disse: “Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram com ele o que quiseram” (Mt. 17, 12) para, em outra oportunidade, confirmar: “E, se quiserdes compreendê-los, João é o Elias que estava para vir. Quem tiver ouvidos, que escute bem” (Mt 11, 14-15).

Contrária à reencarnação é colocada, algumas vezes, a questão da ressurreição da carne, dogma católico, esta sim é falsa e nem é bíblica, antes ao contrário, já que nela encontramos: “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem o que é destrutível herdar a indestrutibilidade” (1 Cor 15, 50).

Apresentam sempre contra a reencarnação a passagem Hebreus 9, 27. Mas, é bom irmos com ela um pouco mais à frente, vejamos: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo”. O autor bíblico na verdade não está condenando a reencarnação “a intenção de S. Paulo é tão-somente acentuar o fato de que, apesar de o sacrifício de Jesus ser representado por uma só morte, foi, no entanto, plenamente eficaz para o seu objetivo, qual seja, ajudar o homem a se livrar do pecado”, conforme argumenta o escritor José Reis Chaves([iii]). O que não entendemos é que se logo depois vem o juízo, para que o juízo no final dos tempos? Será que seremos julgados duas vezes, já que se diz que no juízo final serão julgados os vivos e os mortos? A parábola do rico e Lázaro, que falaremos mais à frente, já coloca os dois personagens no “inferno” e no “seio de Abraão” imediatamente após a morte, confirmando o juízo, digamos, imediato. Então para que o juízo final? Entretanto, para que fosse alguma coisa específica contra a reencarnação dever-se-ia ter dito: ao homem está destinado viver só uma vez! Mas, de qualquer forma, mesmo da maneira que foi dita, o autor não está errado, pois neste corpo físico só morremos uma vez, não haverá mais que uma morte em cada uma das nossas reencarnações. Será que isso é tão difícil de entender assim? É fato comprovado, pois não há nenhuma prova que alguém que já tenha morrido, voltou a viver novamente no mesmo corpo físico. E que fique bem claro que a morte para nós é quando o espírito se desliga completamente do seu corpo físico.

A passagem citada do Livro de Jó é uma afirmativa contra a ressurreição e contra qualquer tipo de percepção que o espírito possa ter até o dia que o céu seja consumido. Mas, não se preocupe, pois o Livro de Jó é apenas uma lenda para tentar explicar o inexplicável, diante da unicidade da existência, ou seja, que mesmo sendo um homem bom, Jó sofria por justiça. Mas, que justiça é essa que faz alguém sofrer mesmo que não tenha cometido crime algum? E, vejam é contrário ao: “Consideras incompatível com o teu poder condenar alguém que não mereça castigo” (Sabedoria 12, 15). E aí doutores teólogos como é que ficamos?

Alguém poderá dizer é um absurdo alguém dizer que o livro de Jó seja uma lenda. Então nos digam: em que época viveu Jó?; quem foi sua mulher?; qual o nome de seus dez filhos? E, mais interessante deste livro é como se inicia a história de Jó: “Era uma vez um homem chamado Jó, que vivia no país de Hus”, vejam bem, é igualzinho ao início das histórias infantis que nossa professora primária nos contava, que, invariavelmente, iniciavam como essa: Era uma vez três porquinhos… Mas, para que não fiquemos só nisso, leiam, nesse livro, do versículo 25 do cap. 40 ao versículo 25 do cap. 41, e observem atentamente qual ser está descrito nesta passagem. (Oi! Aqui bem baixinho, em seu ouvido: é um dragão cuspidor de fogo!).

Já falamos anteriormente que a reencarnação é um princípio que foi ensinado por Jesus. A parábola do rico e do pobre Lázaro, que muitas vezes é tomada como argumento contrário à reencarnação, não procede, pois o sentido da parábola é que os ricos egoístas que não ajudarem aos necessitados serão responsabilizados por isso, e que os pobres que sofrerem com resignação serão recompensados com uma melhor situação no mundo espiritual. Fogo eterno deverá ser entendido como um período de purificação, período esse, longo, onde não se sabe o fim, mas nunca para toda a eternidade, já que eterna é a misericórdia de Deus. É, pois uma parábola onde teremos que buscar o sentido figurado que ela contém.

É incrível como distorcem as interpretações da Bíblia. Falam que nesta parábola Cristo nega que alguma alma possa voltar para ensinar algo aos vivos, vejamos como esta narrada por Lucas (16, 27-31): “O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não acabem também eles vindo para este lugar de tormento. Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os profetas: que os escutem! O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão! Se um dos mortos for até eles, eles vão se converter. Mas Abraão lhe disse: Se eles não escutaram a Moisés e aos profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos’”. Ora, não se diz que os mortos não podem se comunicar com os vivos, mas que mesmo que eles fossem se comunicar, os irmãos de Lázaro não os dariam ouvidos, já que não deram ouvidos aos vivos, muito menos dariam ouvidos aos mortos. Esta passagem está mais é para afirmar a possibilidade da comunicação dos mortos com os vivos. Se fosse o contrário por que Abraão não disse: Lázaro não poderá ir avisar aos seus irmãos porque isso não é possível de ocorrer, ademais eles já foram avisados por Moisés e os profetas?

Esta passagem é tão verdadeira, que hoje os mortos querem de qualquer jeito avisar a seus irmãos vivos sobre o que lhes ocorreu, para que os vivos não tenham que ir para o lugar onde se encontram no mundo espiritual mas, a maioria dos vivos não lhes dá ouvidos! É o fato incontestável dessa parábola, não é mesmo?

E quanto à citada proibição da evocação dos mortos, podemos, primeiramente, falar que ficamos espantados diante de tanta incoerência. Perguntamos: existe algum santo vivo? Então, por que ficam a evocá-los? Os pedidos, que os fiéis fazem a eles, e diga-se de passagem são atendidos, só têm algum sentido porque de alguma maneira existe a comunicação entre os dois planos da vida, o plano dos vivos e o dos mortos. A não ser que alguém nos prove biblicamente que somente os santos católicos podem se comunicar, já que acreditamos que todos os espíritos desencarnados o podem.

E ao citar a passagem de Deuteronômio 18, 10-12, com Deus proibindo a comunicação com os mortos, fazemos mais uma pergunta: Deus proibiu a comunicação com os mortos mesmo sabendo que ela não pode existir? Responda a esse absurdo teológico. Assim, a própria proibição de evocar os mortos é a prova definitiva que eles podem se comunicar.

Mas, podemos acrescentar o episódio do rei Saul indo até a pitonisa de Endor, onde pede a ela para evocar um espírito de um morto. Disse até mesmo quem queria que ela evocasse, no caso, o espírito de Samuel, que, atendendo à evocação, se apresentou e conversou com Saul. Este acontecimento poderá ser encontrado no capítulo 28 do primeiro livro de Samuel. Também não podemos nos esquecer que o próprio Jesus conversou com os espíritos Moisés e Elias, junto ao monte Tabor, na presença de Pedro, Tiago e João (Mt 17, 1-9). Assim, estamos fazendo o que Jesus fez, não foi Ele quem disse: “Tudo o que eu fiz vós podeis fazer” (João 14, 12). Neste episódio, de alguma forma, Jesus nos libera de cumprir a determinação de Moisés de não evocar os mortos.

Afirmamos, que se tratar de uma determinação de Moisés, pois se fosse de Deus deveria constar dos Dez Mandamentos. Mas, já que nos exigem cumprir a não evocação dos mortos, perguntamos sobre a proibição de fazer e adorar a imagens, não se esqueçam que ela consta dos Dez Mandamentos, por que vocês católicos não a cumprem? E por falar em cumprir, sempre exigem que cumpramos a que proíbe a comunicação com os mortos, entretanto se esquecem que existem muitas outras determinações que constam da Bíblia que não fazem a menor questão de cumprir, como por exemplo:

Gêneses 17, 9-11Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência: todo macho entre vós serás circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós.

Gêneses 17, 14: – O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança.

Êxodo 21, 12: – Quem ferir a outro de modo que este morra, também será morto.

Êxodo 21, 15: – Quem ferir a seu pai ou a sua mãe, será morto.

Êxodo 21, 16: – O que raptar a alguém, e o vender, ou for achado na sua mão, será morto.

Êxodo 21, 17: – Quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãeserá morto.

Êxodo 22, 2: – Se um ladrão for achado arrombando uma casa, e, sendo ferido, morrerquem o feriu não será culpado do sangue.

Êxodo 31, 14: – Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós outros; aquele que o profanar morrerá; pois qualquer que nele fizer alguma obra será eliminado do meio do seu povo.

Levítico 11, 7-8: – Também o porco, porque tem unhas fendidas, e o casco dividido, mas não rumina; este vos será imundo, da sua carne não comereis, nem tocareis no seu cadáver; estes vos serão imundos.

Levítico 11, 21-22:– Mas de todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, cujas pernas traseiras são mais compridas, para saltar com elas sobre a terra, estes comereis. Deles comereis estesa locustasegundo a sua espécie, o gafanhoto devorador segundo a sua espécie, o grilo segundo a sua espécie, e o gafanhoto segundo a sua espécie.

Levítico 19, 26: – Não comereis cousa alguma com o sangue; não agourareis nem adivinhareis.

Levítico 20, 9: – Se um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãeserá morto: amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue cairá sobre ele.

Levítico 20, 10: – Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera.

Levítico 20, 13: – Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram cousa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles.

Deuteronômio 21, 18-21: – Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à de sua mãe, e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos, pegarão nele seu pai e sua mãe e o levarão aos anciãos da cidade, à sua porta, e lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz: é dissoluto e beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim eliminarás o mal do meio de ti: todo o Israel ouvirá e temerá.

Deuteronômio 23, 1 – Aquele a quem forem trilhados os testículosou cortado o membro viril, não entrará na assembléia do Senhor.

Isto é o que basta para provarmos a incoerência em que vivem.

Devemos também, para um maior esclarecimento ao leitor, colocar o estudo que Severino Celestino([iv]) fez da passagem de Deuteronômio que proíbe a comunicação com os mortos. É o seguinte:

“E acompanhe agora, a análise do Deuteronômio 18, o mais citado dos textos contra o Espiritismo”:

Texto Hebraico Transliterado:

“ki ata ba él-haaréts asher Iahvéh Eloheichá noten lach lô tilmad la’assôt kto’avôt hagoim hahém. Lô-imatzê bechá ma’avir benô-uvitô baêsh kôssen ksamim me’onem umnachêsh umchashêf: vchover chaver vshoêl ôv veid’oni vedorêsh el-hametim”.

Tradução Literal:

ki = quando; atá = tu; bá = fores, chegares ou entrares; él-haárets = na terra; asher = a qual; Iahvéh = nome próprio dado a Deus; Eloheichá = teu Deus; noten lach = te dá; lô tilmad = não aprendas;la’assôt = fazer; kto’avôt = sujeiras, manchas, abominações; hagoim hahém = daquelas nações estrangeiras; lô-imatzê bechá = não se achará em ti; ma’vir benôuvitô = quem faça passar seu filho ou sua filha; baêsh = pelo fogo; kossen = nem encantador; ksamim = nem feiticeiros; me’onem = nem agoureiro; umnachêsh = nem cartomante; umchashêf = e nem mágico, bruxo ou feiticeiro; vchovêr = nem mago; vechavêr = e semelhante; vshoêl ôv = nem quem consulte o necromante, o mágico ou feiticeiro; veid’oni = e o mágico e o adivinho; vedorêsh = e quem exija a presença; el-hametim = dos mortos.

Expressão Traduzida Resultante do Original Hebraico:

“Quando entrares na terra que Iahvéh, teu Deus, te dá, não aprendas a fazer as abominações daquelas nações. Não se achará entre ti quem faça passar seu filho ou sua filha pelo fogo, nem adivinhador, nem feiticeiros, nem agoureiro, nem cartomante, nem bruxo, nem mago ou semelhante, nem quem consulte o necromante e o adivinho, nem quem exija a presença dos mortos

Observe agora, as traduções feitas pelas seguintes Bíblias:

* 35ª Edição da Bíblia, realizada pelo Centro Bíblico Católico, Editora Ave Maria

“Quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não te porá a imitar as práticas abomináveis da gente daquela terra. Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou a evocação dos mortos.”

* Testemunhas de Jeová:

“Quando tiveres entrado na terra que Jeová, teu Deus, te dá, não deves aprender a fazer as coisas detestáveis dessas nações. Não se deve achar em ti alguém que faça seu filho ou sua filha passar pelo fogo, alguém que empregue adivinhações, algum praticante de magia ou quem procure presságios, ou um feiticeiro, ou alguém que prenda outros com encantamentos, ou alguém que vá consultar um médium espírita, ou um prognosticador profissional de eventos, ou alguém que consulte os mortos.”

“Analise o versículo 10 e responda: Onde é que, no texto acima traduzido, estão as palavras ‘médiuns, espiritismo, ou espírita ou espírito’ que tantos tradutores encontram? Uma vez que essas Palavras não constam do original em Hebraico???”

Se não tem o menor escrúpulo em adulterar o texto da Bíblia, imaginem sobre outras questões que não constam dela!

Podemos concluir, dizendo que não existe a menor lógica nos argumentos apresentados refutando a reencarnação, somente servindo-se de sofismas é que tentam incutir nos outros que estão com razão. Aliás, passam longe do que poderemos chamar de coisas racionais. Apelam sempre para interpretações equivocadas, ou, em algumas vezes, interesseiras, para sustentarem suas idéias distorcidas. Mas, como diz um velho ditado popular: “Só se joga pedras em árvore que dá frutos”, é o que percebemos por detrás de todos estes ataques contra o Espiritismo.

Ficamos na expectativa de que um dia possam acordar e enxergar a verdade que liberta.

Por outro lado, não devemos nos preocupar muito com o que dizem nossos opositores, pois os espíritos superiores já alertavam a Kardec: “Não vos inquieteis, com a oposição, tudo o que se fizer contra vós tornará para vós, e vossos maiores adversários servirão à vossa causa sem o querer. Contra a vontade de Deus a má vontade dos homens não prevalecerá” (L.E.([v]), Conclusão, item V).

Kardec completa: “Vós todos que o atacais, quereis um meio de o combater com sucesso? Eis aqui: Substitui-o por qualquer coisa melhor, encontrai uma solução MAIS FILOSÓFICA a todas as questões que ele resolve; dai ao homem uma OUTRA CERTEZA que o torne mais feliz e compreendei bem a importância dessa palavra certeza, porque o homem não aceita como certo senão o que lhe parece lógico. Não vos contenteis em dizer que isso não é assim, pois é muito fácil. Provai, não por uma negação, mas por fatos, que isso não é, jamais foi e não PODE ser. Se não o é, dizei, sobretudo, o que haveria em seu lugar. Provai, enfim, que as conseqüências do Espiritismo não são de tornar os homens melhores e, portanto, mais felizes, pela prática da mais pura moral evangélica, moral que se glorifica muito, mas que se pratica pouco. Quando houverdes feito isso tereis o direito de atacá-lo” (L.E.([vi]), Conclusão, item V) (grifos do original).

Jun/2002.

 

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