Realizando petitórios infindáveis, na tentativa de barganhar com o Criador,
nas áreas da cura de enfermidades, dos romances mal resolvidos, dos empregos e
das posições sociais, o ser se envolve no mundo mágico dos pajés e xamãs
arcaicos, que acreditavam que a finalidade da relação com o transcendente era a
solução das questões materiais cotidianas. Ao invés de orar, muitas vezes
utiliza-se da reza (recitare),
que nada possui de interior, repetindo louvaminhas memorizadas sem conteúdo
plenificador.
Procedimentos desse jaez efetuam-se, hodier-namente ainda, pela ignorância
dos que se julgam religiosos e acreditam estar realizando ato piedoso quando, em
verdade, estagnam-se em atitude de finalidade mágica perturbadora, instaurada
devido à interferência da mentalidade pagã na “religião oficial” de antanho.
Sendo a prece ação do pensamento humano, dá-se em nível mental, não se
tornando imperiosa a observância de posturas corporais, nem havendo a
necessidade de que as mãos estejam aqui ou ali, tampouco de que as pernas
permaneçam ou não encruzadas, porquanto não se corre o risco de “cortar” nenhuma
“corrente” ou interromper qualquer conexão com o divino.
A voz daquele que ora pode estar serena, não chorosa; pode externar
sentimentos que proponham ternura e harmonia contagiantes, nunca, porém,
apresentar teatralidade exacerbada, geradora de inquietação e desconforto.
Sob esse ângulo, divisamos a prece como atitude sublime de todo aquele que
busca religar-se ao Pai, genuflexando-se em espírito e alteando-se em
sentimentos de arrependimento, gratidão ou plenitude, abrindo mão de figurações
exteriores dispensáveis.
Aquele que ama pensa em Deus, louvando-O; o avarento, lembra-se Dele de
acordo com as conveniências.
O religioso pede ao Criador o necessário para a jornada terrena; o
interesseiro procura com Ele “negociar”.
O ser consciente eleva-se em agradecimentos pela vida; o insciente realiza
promessas, costumeiramente de cunho material, cumpridas de acordo com a dádiva
alcançada.
Oremos, portanto, conforme a finalidade religiosa, na certeza de que
alçaremos vôo rumo aos Cimos Luminescentes, onde nutriremos nosso psiquismo com
esperança, entusiasmo e amor estesiantes, espraiados por Deus, Universo afora.
(Jornal Mundo Espírita de Dezembro de 2001)