O Cristianismo é uma filosofia moral que abrange os três momentos existenciais
do ser humano, bem como as transformações deles decorrentes.
Na infância acontece o plantio da semente num terreno novo, de grandes possibilidades
de germinação, porém sujeito a toda sorte de problemas e obstáculos contrário ao
seu desenvolvimento. Mostra-se frágil e promissora.
Na adolescência a semente tornou-se uma planta que já sofreu as provas da exteriorização
e busca firmar-se no ambientem hostil e perigoso. Mostra-se insegura ou agressiva,
porém cheia de esperança no futuro.
Na fase adulta a semente já é uma árvore formada e consciente. Mostra-se adaptada
ao ambiente e considera-se realizada dentro do seu plano existencial. Não busca
mais nenhuma mudança.
Na perspectiva existencial a árvore é ponto ideal e a finalidade última da semente.
A morte representa o fim.
Porém, na perspectiva consciencial, a árvore é o ponto ideal, mas não significa
o ponto final. Além desse ponto abrem-se outras possibilidades de novos pontos ideais.
A morte física e existencial pode ser seguida de uma segunda morte, uma crise ressurreicional
na qual o ser desperta para novas e ilimitadas experiências mentais. Isso vai depender
da sua maturidade e da sua vontade de transformação interior. Para ocorrer a ressurreição
antes deve ocorrer um processo de amadurecimento e renovação através da reencarnação.
A reencarnação é a porta de entrada das existências. A ressurreição é a porta de
entrada da Vida. É por esse motivo que a transformação essencial do ser humano sempre
ocorre na infância, que representa o reinício, um recomeço de outras existências
que passaram e das quais se acumularam experiências mentais. A reencarnação seria
a Porta Larga na qual ingressamos com muitas promessas de renovação e, todavia,
nos acomodamos com as facilidades e ilusões do mundo carnal. Já a Ressurreição é
a Porta Estreita diante da qual quase sempre recuamos, pois representam as provas
e vicissitudes. As duas portas se apresentam constantemente em nosso caminho na
forma de situações contraditórias e nas quais temos que fazer escolhas e usar corretamente
o livre-arbítrio.
Na perspectiva histórica existencial o Catolicismo é a fase adulta do Cristianismo.
O Protestantismo é a fase adolescente e o Espiritismo a sua infância, pois renasceu
recentemente. No entanto, se analisarmos pela perspectiva histórica consciencial,
essas posições se invertem e se nos revela a verdadeira face da transformação e
da evolução espiritual do ser.
No catolicismo filosofia fossilizou-se na perspectiva existencial e bloqueia,
pela tradição dogmática, qualquer possibilidade e interesse pela transformação.
A morte vale mais que a Vida , pois é vista como um martírio que nos livra da culpa
dos pecados.
No protestantismo a filosofia cristã persiste na ótica existencial e agoniza,
não só pela tradição dogmática, mas também pelo medo terrificante do fracasso e
da crença na eternidade do inferno. A morte é vista como uma punição que antecede
o julgamento do Juízo Final. A transformação é superficial e enganosa, alimentada
pela crença de que o arrependimento é suficiente para nos livrarmos dos pecados
e da culpa. Nas duas situações anteriores, a mente humana faz o ser mentir para
si mesmo, como fuga e defesa, negando a relação de causa e efeito entre o erro e
o sofrimento. A religiosidade foi pervertida e tornou-se religião.
No Espiritismo a filosofia cristã reacende a religiosidade, porém rejeita a religião;
aceita a ótica consciencial, reconhece a utilidade existencial, mas não se escraviza
a ela e liberta-se dos dogmas. Ao fazer a necessária relação de causa e efeito entre
o erro e o sofrimento, o ser passa a dar mais valor à necessidade de transformação
interior. Isso não significa que ele consiga realizá-la de imediato, pois é apenas
um entendimento racional e intelectual. A mudança efetiva só ocorre quando se processa
uma compreensão integral da sua condição ( razão, sentimento e ação). Ao aceitar
a realidade consciencial, ou seja, que além do corpo e da morte existem outras experiências,
se estabelece uma harmonia entre a visão existencial e a consciencial, que antes
era conflituosa, dialética. Diminuem então as fugas, os medos irracionais e o caminho
para as escolhas ficam mais abertos às decisões sensatas. As portas largas vão sendo
trocadas pelas portas estreitas, de experiências mais valiosas e qualitativas. Mesmo
estando na infância existencial o Espiritismo goza da maturidade consciencial, pois,
através da compreensão da reencarnação (que não é uma crença, mas uma lei natural)
penetra na essência espiritual do ser, que é a sua verdadeira ressurreição.
Dalmo Duque dos Santos é Bacharel em História, Mestre em Comunicação e
licenciado em Pedagogia. É autor dos livros “A Inteligência Espiritual”
e “Você em Busca de Você Mesmo” , pela DPL e, pela mesma editora,
está lançando uma história do Espiritismo sob o título “O Demolidor de Dogmas
– Allan Kardec e a Reconstrução da Fé no Ocidente”.