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Esclarecendo as principais dúvidas sobre o Projeto Cartas de Kardec

Porque devemos recuperar a memória espírita

Em outubro desse ano foi lançado o Projeto Cartas de Kardec, uma parceria da Fundação Espírita André Luiz com o Instituto Canuto Abreu, que tem como objetivo garantir a preservação de um material que guarda a memória do Espiritismo, um acervo com 740 manuscritos inéditos escritos por Allan Kardec e outros nomes relevantes da história do espiritismo como: Amélie Boudet, Léon Denis, Gabriel Delanne e Camille Flammarion. Nesse precioso material, Allan Kardec revela os bastidores, a intimidade, a verdadeira história do espiritismo, sendo possível conhecer o lado humano e familiar de Allan Kardec.

 

Pensando no grande significado desse acervo para a humanidade e nas etapas necessárias para recuperar e tornar público esse extraordinário legado, reunimos detalhes do Projeto Cartas de Kardec esclarecendo as principais dúvidas.

 

 


Quais foram as orientações com este material tão importante?

Canuto Abreu reuniu uma biblioteca de obras raras, algumas do século 16, e muitos livros espíritas e espiritualistas do século 19, inclusive originais de Allan Kardec. Ele recebeu também a missão, antes da segunda guerra, da guarda de quase 800 manuscritos de Allan Kardec, cartas enviadas e recebidas, pensamentos, evocações, preces, mensagens dos espíritos. Em 1958, pediu ao Chico Xavier, seu amigo, a possibilidade da orientação dos espíritos sobre como proceder com esse legado.

Emmanuel mandou-lhe uma mensagem longa, sugerindo que se dedicasse ao menos duas horas por dia até transcrever, traduzir, fazer notas e artigos contextualizando as cartas, para que chegassem ao público esclarecendo, recuperando os ensinamentos originais. Essa missão foi transmitida à sua filha, depois ao neto, Lian. Por fim, a família confiou essa tarefa à FEAL, por meio do Centro de Documentação e Obras Raras.

 


Qual foi a trajetória desses manuscritos e por que eles só vão se tornar públicos agora?

Há uma longa história que será contada a partir dos próprios documentos e declarações encontrados entre os guardados de Canuto Abreu. Allan Kardec, em diversos trechos das Revistas Espíritas, declarou que estava preparando o que chamou de arquivos do Espiritismo, para que os pesquisadores futuros pudessem contar essa história baseada em fatos documentais e não em lendas e tradições. Ele disse que seria preciso dar valor aos verdadeiros precursores e dedicados trabalhadores da doutrina, e denunciar quem entravou o caminho por seu orgulho e ambição. Mas o medo de que esses fatos fossem revelados ao público colocou em perigo esses arquivos. Parte deles foram queimados. Quase foram roubados pelos invasores nazistas em Paris. Salvos por um dedicado pesquisador brasileiro, receberam a dedicação do trabalho de Canuto Abreu para preparar as transcrições e traduções de que foi incumbido. Sabia que no futuro tudo seria revelado. Esse momento chegou! E precisamos nos mobilizar, unir as mãos, reunir esforços e recursos, para dar uma conclusão feliz à essa gloriosa saga!

 


Como podemos acreditar na veracidade das cartas?

Essa questão é muito importante. Já temos documentos dos principais personagens que escreveram as cartas, documentos lavrados em cartório na França, como o testamento manuscrito de Allan Kardec. Essas referências servirão para atestar a identidade autoral pelo exame pericial grafoscópico. Esse procedimento garantirá que se trata de documentos originais.

 


O papel da Fundação Espírita André Luiz neste trabalho?

A FEAL vem se dedicando por décadas à sua missão de divulgar o Espiritismo. Criou a rádio, tv, editora, divulgação pelas redes sociais. Sua diretoria voluntária, não remunerada, não mede esforços para servir aos seus encargos. Podemos dizer que a tarefa aparece quando o trabalhador está pronto. É inevitável constatar que toda essa ampla recuperação do legado espírita está sendo conduzido pela espiritualidade, pois as iniciativas surgem de diferentes pontos, por pessoas livres de qualquer compromisso material, em diverso países. Nos parece que há certa semelhança, em menores proporções, ao evento do surgimento do Espiritismo. União dos dois planos, para restaurar os ensinamentos originais dos espíritos superiores. Cada colaborador é um pequena parte desse todo. Todos são importantes.

 

 

O que representa a recuperação desses documentos?

Há uma certeza que o estudo do Espiritismo nos oferece de forma inequívoca, a de que o nosso planeta Terra será um mundo feliz. Isso não ocorrerá por cataclismos e destruições, mas pela adesão voluntária de cada alma à seara do bem. Recuperar, unidos, o legado de Allan Kardec será um símbolo do poder da solidariedade e da cooperação. Pois essas serão as ferramentas da regeneração da humanidade. Dar as mãos para essa tarefa é o próprio símbolo da caridade. Vamos juntos, somos muitos!

 

O que o projeto engloba?

Além das coordenações de digitalização, catalogação e higienização, o Centro de Documentação e Obras Raras conta com uma coordenação acadêmica, liderada pelo doutor Brutus Abel, professor do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), também Simoni Privato, e muitos outros professores. A tarefa será de conferir o trabalho de Canuto, fazer as transcrições e traduções que faltam, preparar notas, e publicar uma série de livros contento todo o legado de Kardec, em edição bilíngue, acrescentando os manuscritos às obras e Revistas Espíritas, formando assim as obras completas de Kardec, aquisição definitiva do Espiritismo. Esse projeto é de longo prazo, minucioso, pois se trata de um arquivo histórico e doutrinário previsto por Kardec para fazer parte de sua obra.

Todavia, atendendo ao interesse dos espíritas em conhecer o conteúdo dos manuscritos, alguns temas serão escolhidos, cartas separadas, e apresentadas em livros temáticos, contando a história recuperada do Espiritismo e esclarecendo conceitos fundamentais que foram esquecidos no último século.

Por fim, esses fatos inéditos, determinantes para a compreensão da história, precisam chegar ao grande público, por meio de documentários, que registrem os fatos documentados, para que não encontrem concorrência das lendas, que surgem dos boatos, quando não há um esclarecimento sério. Essa tarefa está determinada na constituição do CDOR – FEAL.

 

Um Memorial do Espiritismo faz parte desse projeto?

O acervo de Canuto Abreu e outros materiais espíritas que estão chegando ao Centro de Documentação e Obras Raras precisam de um lugar físico para serem acessados, uma biblioteca especializada, com as obras raras, para isso será criado um Memorial do Espiritismo. Uma casa cultural para divulgação do legado de Allan Kardec. Com local para palestras, cursos, assessoria à pesquisa acadêmica, além de biblioteca e um museu temático.

 

Na série de livros terão todas as cartas?

Os livros de divulgação tratarão de temas específicos, oferecendo as cartas correspondentes. Mas todo o conjunto de cartas fará parte de uma coleção de obras, divididas por anos em seus volumes, para o estudo dos espíritas e interessados. Além disso todo esse material será disponibilizado pela internet.

 

 

Como e quando as pessoas terão acesso a esses manuscritos?

Estamos vivendo um momento histórico, quando parte do legado de Kardec foi recuperado e se estabeleceu o compromisso de tornar tudo público. O acesso, em nosso tempo, quando a rede liga todos os lares, será por meio de um site com mecanismos de busca e pesquisa em todo o acervo. Contará com obras raras digitalizadas, os manuscritos transcritos e traduzidos, com notas e artigos. Também uma biblioteca iconográfica. Tudo servirá de apoio ao estudo, à pesquisa, à elaboração de artigos, aulas, palestras. Quando os lotes de documentos ficarem prontos, cronologicamente reunidos, já será franqueado o acesso ao público, completando-se o acervo progressivamente, até tudo estar disponível. Ao mesmo tempo, serão feitas as publicações em livros.

 

Por que as cartas ainda não foram divulgadas?

As traduções são complexas, pois precisam respeitar os termos próprios da doutrina espírita, o cenário cultural de quando foram escritos, além do conhecimento especializado do francês do século 19. Há também a transcrição do texto manuscrito, que também respeita a forma de se escrever à pena na época. Por fim, sem notas explicativas e artigos, será difícil ao público compreender os valores e informações esclarecedoras dos documentos. Por isso, foi absolutamente necessária a instituição de uma coordenação acadêmica. Todavia, alguns temas serão trabalhados em livros de divulgação, mas todos os documentos serão validados pela coordenação acadêmica. Para respeitar esses fundamentos, precisamos aguardar o tempo necessário. Sempre lembrando que estamos trabalhando num legado que se tornará definitivo quando estiver completo. No futuro, quando o Espiritismo estiver compreendido e o mundo regenerar-se, o interesse por esse legado, os documentos originais e seu conteúdo, será um patrimônio inestimável da humanidade! Aí virá o reconhecimento à obra de Allan Kardec, Amélie Boudet, Berthe Froppo, Gabriel Delanne, Léon Denis, Henri Sausse, e tantos outros pioneiros.

 

 

 

Qual a necessidade de um investimento tão alto, não é somente digitalizar e publicar?

A FEAL, para tornar realidade esse sonho, já fez enormes investimentos em estrutura, especialistas contratados, equipamentos, pessoal de apoio. Há também, além desse investimento inicial, os custos de manutenção mensal dos trabalhos. Quem conhece os bastidores de projetos culturais como esse sabe o custo e a dedicação para instituir a infraestrutura, planejamento e execução necessários para dar os resultados esperados. Quando chegar o momento de publicar, a excelência das traduções, notas, artigos, refletirá o cuidado envolvido nesse preparo anterior. Além disso, todo o acervo está sendo transformado em documento digital, garantindo sua preservação para sempre. Os laboratórios, além disso, serão utilizados para preservar materiais além do inicial, de

Canuto Abreu, como o de Herculano Pires, Jorge Rizzini, Francisco Cândido Xavier, e muitos outros. Uma obra grande, mas exequível, pelo investimento inicial fundamental já despendido pela FEAL, e o apoio de todos que abraçarem essa meta. Muitos voluntários, profissionais especializados, estão chegando ao CDOR, colaborando com seu trabalho para que os objetivos sejam alcançados. Somente um trabalho em grupo, solidário, cooperando com o pouco que cada um puder, faremos valer a vontade de Allan Kardec, reunindo seu legado e levando ao mundo. A própria causa espírita está em promover a solidariedade e cooperação pelo esforço voluntário. Este sonho não poderia seguir por outro caminho, senão esse! É uma obra de todos nós, de todos que decidirem fazer parte dando sua ajuda.

 

 

E a equipe que está neste processo são só voluntários ou temos especialistas?

Os laboratórios são coordenados por profissionais contratados, especializados em documentação digital e tratamento de obras raras. Possuem extensa experiência em projetos museológicos e acervos. Esse passo foi fundamental para qualificar o trabalho, à altura da importância desses documentos. Todavia, aos poucos, a equipe está se formando, com historiadores, professores, tradutores, voluntários especializados, trabalhando de segunda a sexta, das 8 às 18 horas. Todos trabalham com luvas, máscaras, com equipamento especializado. Os documentos estão sendo preparados para chegar adequadamente conservados ao futuro.

 

 

Por que as pessoas devem participar?

Participar desse projeto é uma oportunidade, mesmo uma honra. É difícil perceber os rumos da história no momento em que ela se desenvolve. Mas, neste caso, os caminhos são claros. O Espiritismo originalmente proposto por Kardec, a partir dos ensinamentos dos espíritos superiores está sendo recuperado. E é gratificante verificar que isso está acontecendo pela participação  voluntária de todos que desejarem. Qualquer pequena ajuda será útil e necessária. E temos a garantia da experiência e idoneidade de uma grande instituição sem fins lucrativos, a FEAL, unida às Casas André Luiz, entidades que por décadas deram o testemunho de sua dedicação à causa espírita. Dar as mãos é a tarefa de agora. Para depois usufruirmos da divulgação do Espiritismo como Kardec desejava que fosse feito. Com recursos que nem se imaginava naquela época. Tempos novos, novas tarefas. Levar ao mundo a Doutrina Espírita e sua verdadeira história será uma conquista inevitável, pois é uma tarefa muito maior que todos nós.

 

 

Qual a impacto desse conteúdo para a compreensão do Espiritismo?

Haverá significativo ganho de entendimento não só da história do Espiritismo, base fundamental dessa recuperação, mas também de elementos basilares da Doutrina Espírita. Quase nada se sabia sobre a vida, personalidade, opiniões pessoais, e os diálogos entre espíritas, e com os espíritos. Agora um novo panorama se abre nesse campo do conhecimento. O dia a dia da elaboração de sua obra, o passar dos anos, a dedicação aos que pediam ajuda, os cuidados com a saúde, as dificuldades, sofrimentos, derrotas e vitórias. O ser humano Kardec, expressando sentimentos. Vamos conhecer seu bom humor, seu otimismo inquebrantável, seu rigor absoluto com o método, o respeito pelos simples. A dedicação de quem trabalhou mais de 18 horas por dia. Também vamos conhecer aqueles que entravaram o caminho, seja por ignorância, ambição ou pensamento equivocado. Pois toda grande obra enfrenta grandes obstáculos. Será como se uma janela aberta para o passado, de onde vamos admirar o relacionamento do casal Rivail e Boudet. Todos esses fatos permitirão recontar a história de Kardec e do Espiritismo, seja por artigos, livros, documentários, filmes. Estamos dando os primeiros passos, e todos estão convidados a ajudar.

 

Vai ser possível conhecer com mais profundidade a personalidade do codificador espírita?

Finalmente vamos conhecer Allan Kardec, descobrindo que ele viveu em seu cotidiano a mensagem que escreveu em seus livros. Ele exerceu a solidariedade naturalmente. Trabalhou para ver surgir a regeneração da humanidade por um esforço diário exaustivo. Não foi um pesquisador de gabinete, mas se correspondeu com milhares de pessoas, atendeu em Paris tantas outras, viajou por diversas cidades, enfrentou resistências, esclareceu, auxiliou, dialogou com espíritos. Abandonou o conforto de uma vida familiar, depois de ter cumprido sua missão como educador, para nos legar a doutrina da liberdade. E agora conheceremos os fatos dessa maravilhosa narrativa histórica.

 

como ajudar cartas de kardec


Para contribuir com o projeto Cartas de Kardec acesse: https://www.catarse.me/cartasdekardec e faça a sua doação. 

Para mais informações acesse a fanpage do projeto em facebook.com/cartasdekardec

 

Nota sobre o CDOR – Centro de Documentação e Obras Raras da FEAL

O CDOR é um departamento da FEAL, Fundação espírita André Luiz, entidade sem fins lucrativos, ligado ao Centro Espírita Nosso Lar Casas André Luiz.
O departamento é coordenado pelo pesquisador espírita e voluntário da FEAL, Paulo Henrique de Figueiredo e também conta com uma equipe de colaboradores capacitados e dedicados ao trabalho de restauração e recuperação de um material inédito e histórico.
O acervo está sob a responsabilidade do Instituto Canuto Abreu em parceria com a FEAL e tem como objetivo colocar à disposição do público todo esse material até então desconhecido. São mais de 700 documentos de Allan Kardec, manuscritos originais de Kardec, cartas escritas por personalidades importantes na história do espiritismo como Gabriel Dellane, Léon Denis, Camille Flamarion e Amelie Boudet.