Suicídio: Fruto do Desconhecimento
O suicídio é um mal individual-social que tanto choca e traumatiza, e que
aumenta sobremodo nas situações de crise. O que pensar disso quando se considera
que a crise econômico-financeira e político-social em que, mais uma vez, nos
debatemos, em nosso País, apresenta-se, igualmente, em menor ou maior escala,
pelo mundo todo?
Tem aumentado muito o número de suicídios nos últimos meses. Só em Brasília,
chega ao assustador número de 30 os casos ocorridos, só neste começo de ano,
incluindo os cometidos em circunstâncias espetaculares, com a visível intenção
de chocar, como um último, desesperado e nem sempre tão eficiente brado contra
as dificuldades ou dores que os seus protagonistas experimentam.
Quais são as causas do suicídio? Não é difícil listar:
- Ruínas financeiras;
- Vergonha e desonra;
- Desilusões amorosas;
- Doenças surgidas, do corpo e da mente;
- Depressão, solidão;
- Medo do futuro, de fatos sabidos ou imaginados…
Mas, se analisarmos em maior profundidade essas principais razões do
tresloucado gesto, veremos, também sem dificuldade, que não são fatos e
ocorrências, em si, que devem ser responsabilizados pela consumação do
autocídio, sim a repercussão deles na pessoa. O que leva ao desespero não é o
fato desditoso, mas a maneira como a pessoa o elabora. Prova disso é que
inúmeras pessoas estão, por toda parte, suportando fardos bem mais pesados que
os que levam tantos ao suicídio e nem se crêem tão infelizes assim. Na verdade,
correspondendo aos itens acima, que desencadeiam os atos extremos, dentre os
quais o crime e o suicídio, poderíamos listar outros que se referem não aos
acontecimentos externos, mas às reações subjetivas perante eles:
- Orgulho pessoal, que se recusa a admitir o fracasso e a repentina ou
gradual mudança do padrão de vida; - Amor próprio exacerbado, que faz acreditar que sua imagem não possa sofrer
nenhum arranhão ou ferimento, que o tempo e o esforço não possam recompor; - Excessivo apego à matéria e esquecimento dos “exercícios da alma”,
expondo-se à sensação de derrocada, do “tudo acabado”, quando um mal físico ou
perda emocional cega a pessoa para os caminhos da reabilitação, ainda quando
trabalhosos e longos.
Em suma, a verdadeira causa do suicídio não está nas ocorrências infelizes,
mas na maneira como a pessoa capitula diante delas, por uma simples questão de
livre arbítrio mal dirigido.
Dizem os Espíritos Superiores, conforme se vê no capítulo V, 14 a 17 de O
Evangelho segundo o Espiritismo, que em última análise, a maior causa do
suicídio vem a ser a covardia moral. De fato, a falta de coragem para enfrentar,
altaneiramente, os revezes da vida é o que se vê em praticamente todos os casos
de suicídio. Daí se conclui que o fator religioso, bem compreendido e exercido,
constitui poderosa profilaxia do suicídio.
É preciso notar, ainda, que a ignorância quanto à vida futura é uma das
razões por que tanta gente se lança ao desconhecido do além, não raro
alimentando idéias distorcidas, como até mesmo de abreviar a entrada num paraíso
que se julgue merecedora. O ser humano – individual e coletivamente – assume
pesada responsabilidade, perante o Senhor da Vida, pelo seu marasmo em explorar
e procurar conhecer, decididamente, a realidade do além-túmulo, as leis que
regem o destino das almas, após a transição para esse outro plano vibratório.
É verdadeiramente incompreensível como o homem do final do século XX tenha
chegado a tão notável conhecimento de tudo quanto o cerca, no mundo exterior, do
micro e do macrocosmo, da delicada informática às potentes tecnologias de
domínio das grandes energias de que se vale, não raro irresponsavelmente e, no
entanto, tenha se conservado tão ignorante quanto ao mundo exterior de si mesmo.
Salvo as honrosas exceções de alguns povos mais voltados para o espiritual,
esse analfabetismo das coisas da alma e a conseqüente falta de instrução às
massas, constitui, inegavelmente, uma das causas de quantos se arrojam,
imprudentemente, ao poço escuro do suicídio.
A Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, revela com segurança a
natureza espiritual do homem, demonstrando que a vida física não é mais que
breve estágio de espíritos mortais, em trânsito pela matéria; explicando as
condições felizes ou desditosas de nossa sobrevivência, no além, segundo os
nossos atos, certamente é uma das forças que coíbem o suicídio, haja vista o
pequeníssimo número de espíritas que se matam. Porque eles sabem ser o
auto-extermínio um dos mais graves erros que o espírito encarnado comete,
perante o grande Doador da Vida, nesta efêmera existência, que mais não é que
simples capítulo, mais ou menos emocionante, da grande novela da evolução que
estamos vivendo!
Libertação – julho/novembro/96
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 1997)