“Como distinguir se o Espírito que responde é o do médium ou se é outro
Espírito?
– Pela natureza das comunicações. Estuda as circunstâncias e a linguagem e
distinguirás. ”
O Livro dos Médiuns – Allan Kardec (Cap. XIX, questão 223. § 3)
Em se definindo animismo como a narrativa de fatos atuais ou passados que
repontam do inconsciente do médium para o consciente, podemos dizer que, a
princípio, quando não educados, os candidatos ao exercício da mediunidade são
anímicos, em sua grande maioria.
Como somos Espíritos imortais em longa excursão pelos cenários terrestres,
alternando a vestimenta carnal entre o feminino e o masculino, assimilando
diversos hábitos regionais e lingüísticos, vivendo tempos de paz c de discórdia,
é natural que muitos eventos nos marquem emocionalmente, registrando-se de
maneira férrea nos arquivos do inconsciente. Sob a influência de um indutor, um
estímulo que se assemelha ao que foi gravado, gera-se uma ponte
inconsciente/consciente, podendo, através dessa evocação, ser externado com
aparência de realidade atual, aquilo que foi vivido mas não esquecido ou
superado.
Conheci um médium que, havendo praticado o suicídio por duas encarnações
seguidas, passou anos na mesa mediúnica a transmitir psicofonicamente as
comunicações de dezenas de suicidas. –Apenas animismo- diziam-nos em segredo os
mentores espirituais. O companheiro praticava a catarse dos longos sofrimentos
que lhe cristalizaram na mente os esgares, a sufocação, o fogo na pele, a dor
superlativa dos dois gêneros de suicídios pelos quais passara. A doutrinação era
exercida como se realmente ali estivéssemos em cantata com um comunicante
desencarnado trazido para o atendimento fraterno. No entanto, sabíamos estar
falando diretamente ao Espírito do médium, que, portando cristalizações de
difícil neutralização, sofria, através das reminiscências afloradas, o drama a
que estava vinculado.
Esse período de animismo varia de aprendiz para aprendiz, conforme sejam as
marcas emocionais que transporta. O gênero não influi muito. Um estigma é sempre
um estigma. Doloroso ou terno, depende do indutor que o faça aflorar, sendo
justo que os sofrimentos, pela ulceração que imprimem na alma, sejam evocados
com freqüência, pelo caráter peculiar do mundo de provas e expiações em que
vivemos, onde a dor é o inquilino pontual e assíduo na convivência com os
terrícolas. Acontecimentos ditosos, mas que deixaram saudade, nostalgia,
ansiedade, misto de ternura e tristeza, também são arrancados do inconsciente
pela idéia indutora que estabeleça uma sintonia com o que foi vivenciado. Até
mesmo uma emoção mais fome cultivada na atual encarnação, tal como a admiração
profunda por santos e heróis a traduzir-se em fanatismo, pode gerar idéias
obsidentes ou cristalizações duradouras, que, nesta ou em outras encarnações,
retornam à cena via catarse, para que o médium possa produzir favoravelmente,
desobstruindo o canal mediúnico para mensagens dos Espíritos e não de suas
mensagens próprias ou espirituais ainda mescladas de personalismo.
Saliente-se que, se o médium, ao receber a mensagem do comunicante, a traduz
em linguajar mais culto ou menos intelectual, sem prejuízo da sua essência, não
é anímico.
Há de se analisar o nível cultural, o estudo, a fluência, o
grau de evolução enfim, de cada indivíduo, encarnado ou desencarnado.
Concluímos afirmando que nem todos os médiuns são anímicos. Alguns o são por
idéias e emoções cristalizadas no passado, enquanto outros o serão por idéias e
emoções cristalizadas no presente.
Será assim, enquanto o amor não constar como regra de convivência e remédio
salutar para os dramas do mundo.
Retirado de “Mediunidade. Tire suas dúvidas” – Editora EME