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Trabalho e Evolução

Trabalho e Evolução

 

É conhecida uma estória de certo cidadão que, havendo partido desta vida,
demorava-se na Erraticidade em absoluta e prolongada ociosidade, nada lhe sendo
exigido que fizesse. Conta-se que tudo lhe sorria mas que, a certa altura dos
acontecimentos, já implorava aos bons gênios que o retirassem daquele paraíso de
contemplação, pois que se enfadara do ócio e da inutilidade. Só então soube que
estava a rigor, mesmo nas estâncias do Inferno. A ociosidade era lhe o
suplício…

– Meti Pai trabalha cem cessar E Eu também trabalho.” – terá dito o Mestre
dos Mestres. E em “O Livro dos Espíritos” (questão 676) muito apropriadamente
lemos: “Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância intelectual.”

Se for verdade que Deus prove as necessidades vitais de todos os seres,
consoante o estágio evolutivo, a partir dos mais ínfimos, ria série irracional,
preservando-lhes a vida dentro da lei da conservação, executam-nos por sua vez
tarefas de indeclinável importância no balanço ecológico, integrando-se na
grande equação da vida planetária, por desígnio providencial. Se os lírios não
tecem a sua túnica nem os pássaros aram ou ceifam, nem por isso se furta à
grande Harmonia que atesta a presença de Deus tia Natureza. A, palavras de Jesus
não são um endosso à inação ou à imprevidência como se fossemos esperar o maná
do Céu, ante, tinia advertência à avidez e a insofreguidão de quer, não confia
rias benção do trabalho.

Trabalho é lei soberana em toda à parte. Através dele ,e equilibrara os
Mundos. Espíritos soberanamente sábios, co-criadores divinos, regera a orquestra
incessante tio infinito do, Espaço,. “- Meti Pai trabalha sem cessar. E Eu
também trabalho”- Desçamos, roa entanto, da Paz das Estrela, ao no minguado
plano terreno. Para mis, trabalho é toda a atividade produtiva material ou
intelectual. Ocupação, esforço. Em física, a produção de movimento em um corpo
por meio de unia força, a medir-se em quilogrâmetros o produto da intensidade
dessa força pelo espaço percorrido.

Os homens, como se sabe, passaram do nomadismo para o sedentarismo há já
tantos séculos. Com isso ao, pouco, se institucionalizou a atividade laborativa
com a divisão do trabalho por nível e especialização. Costuma-se reconhecer u
trabalho material (dispêndio de energia física) e o intelectual ou mental. Ainda
no primeiro diz-se braçal (força brita do organismo) e/ou mecânico, quando
passamos a associar a máquina, a partir da piai, simples dela,, a alavanca. Ou
colocamos ainda, a nosso serviço, a força bruta dos irracionais. Sob outro
sentido, temos ainda a considerar: o trabalho escravo; o servil; e o
assalariado.

Muitos romances focalizam com ênfase o conceito que vigia antigamente com
relação ao trabalho material. Para os patrícios romanos, por exemplo, constituía
humilhação a contingência de ter que executar qualquer atividade laborativa.
Viviam nas pelejas do campo esportivo, quando irai, Com o advento do Cristo
nasceu uma mentalidade nova que deu dignidade ao trabalho. Paulo de Tarso marcou
fundo a sua transformação quando renunciou aos bens de herança e se dedicou a
tecer as próprias vestes. E o Espiritismo, por ser o próprio Cristianismo
Redivivo, institui o dever do serviço por princípio. asseverando que ninguém é
imune a esse dever. Nasce cota o Cristianismo e esplende com o Espiritismo o
sentido ético do trabalho. Erige-se conto urna das leis naturais em seu alto
valor social. A dignidade não está mais com o homem fátuo, sem trabalho. E a do
trabalhador, do operário mais humilde em suas condições pessoais ao diretor de
indústria ou ao intelectual da peita. Não advoga lucro imediato corri vistas ao
supérfluo. Os bens decorrem do trabalho honesto, não mais da exploração do homem
pelo homem. Não condena a riqueza bem constituída quando posta a serviço da
coletividade. gerando empregos e contribuindo para a dignidade do homens. A
igualdade absoluta de riqueza não é possível,cria para logo se rompida Tentada.
Contrariaria a lei do mérito, do esforço próprio da, criatura, era contrafacção
corria do menor esforço. O egoísmo, siri, é a chaga social a condenar-se.
Herculano Pire, na tradução que fez de “O Livro dos Espírito em nota de rodapé
(pág 275) declara: – O paraíso terrestre do marxismo equivale ao paraíso celeste
dos beatos. O Espiritismo não aceita um extremo nem outro, colocando a, cousas
em seu devido lugar”.

A divisão em classes, era grupos de atividade,, em especialidades, com Ford e
Ta Taylor à frente. dá muita importância ao sentido cooperativista, à integração
do trabalhador rio campo e sobretudo da indústria. Mas o Cristianismo do Cristo.
diferente do Cristianismo dos homens, aquele que o Espiritismo procura reviver,
dá um outro destaque, sem apelo, à luta de classes, serra ambições de supremacia
a hegemonias de grupos. Essa ética pede agora respeito aos direito, individuais
e das classes, abrangendo trabalhadores e dirigente,, com a solidariedade
fraterna. Lembra a todos que junto aos direitos alegados estão também deveres
recíprocos. “O Livro dos Espíritos”, há mais de um século, fala dos direito, ao
repouso, à aposentadoria, da assistência to desemprego. Chega a classificar de
flagelo o desemprego. O trabalho não visa apenas à subsistência do lar, a nutrir
os corpos e dar-lhes abrigo e lazer. Ele educa o homem, explicitando deveres, em
se constituindo no melhor remédio contra toda sorte de pensamentos corrosivos da
mente. É fundamental na vida do homem e da sociedade, com vistas à própria
evolução. Evolvemos mesmo, podemos dizer, do trabalho material ao intelectual. A
Humanidade como um todo e as gerações, no tempo, à medida que avançam, vêem cair
percentualmente o índice de esforço material em favor da contribuição da
inteligência. Na “Revue Spirite” (março 11564) encontramos a afirmação de
Vaucansen – Espírito: “O homem é um agente espiritual que deve chegar, em
período não distante, a submeter ao seu serviço e para todas as operações
materiais a própria matéria, dando-lhe como único motor à inteligência, que se
expande nos cérebros humano”. E isso tem acontecido.

O Clarim – Junho de 1986