Uma música espírita, chamada “Em Outro Lugar”, diz que “quando uma luz se
apaga na terra, acende em outro lugar”, transmitindo a mensagem de que a vida
continua. E lembramos desta música ao termos que escrever um editorial sobre a
desencarnação de Chico Xavier (1910-2002), pois ele é realmente uma luz que se
acende em outro lugar – uma luz que se acende no Céu !
Chico marcou uma era na história do Espiritismo e, como demonstram todas as
homenagens que recebe, na história do Brasil também. Não encontramos palavras
que possam transmitir toda a admiração que sentimos por ele e por sua obra; não
encontramos palavras que possam expressar o agradecimento sentido por todos nós,
que tivemos nossas vidas influenciadas e mudadas por ele; não encontramos
palavras que possam expressar o quanto sentiremos sua falta e por outro lado o
quanto estamos felizes por saber que no plano espiritual o estão recebendo com
festas e homenagens dignas de quem volta ao lar depois de ter tão
extraordinariamente cumprido sua missão.
Por não encontrarmos palavras, preferimos transcrever um dos lindos casos de
Chico Xavier, narrados por Ramiro Gama (“Lindos Casos de Chico Xavier”, editora
LAKE). Este caso singelo mostra como ele, discípulo de Jesus, sempre soube
colocar a felicidade do próximo em primeiro lugar – em primeiro lugar mesmo !
Quantos de nós, na mesma situação abaixo, conseguiríamos proceder com a mesma
caridade, e caridade no seu sentido mais verdadeiro ?
Editorial GEAE
A BARATA NA SOPA …
D. Josefina era uma senhora cega, muito estimada nos arredores de Pedro
Leopoldo, e tinha uma verdadeira adoração pelo Chico.
Seu desejo maior era o de que seu conterrâneo, um dia, jantasse com ela.
Tanto pediu, que o filho de D. Maria João de Deus a atendeu. Foi marcado o
dia e o Chico compareceu.
A mesa estava posta. Numa ponta, sentou-se o convidado de honra, na outra,
sua admiradora e, nos lados, duas amigas, conhecidas de ambos.
Por ser pobre, D. Josefina apenas fez uma sopa substanciosa. No prato fundo,
diante de cada convidado, achava-se a sopa, contendo ingredientes apetitosos.
O Médium, emocionado com o tratamento afetuoso, devagar, dando atenção à
palavra da dona da casa, foi tomando a sopa, quando de repente, dá com uma
barata preta no meio do prato… Afasta-a para o lado, no momento em que D.
Josefina lhe pergunta:
– Então, Chico, está gostando da minha sopa ? Olhe que a fiz com cuidado e
carinho em sua homenagem.
– Está ótima minha irmã. Sou-lhe grato pela sua bondade. Não mereço tanto,
respondeu-lhe o Médium, e, para que ninguém observasse seu achado, foi
conversando e tomando a sopa …
D. Josefina ria de contente. O humilde homenageado sentia-se contrafeito.
Mas, diante da alegria da irmã querida, que se sentia tão honrada com sua
presença, esqueceu-se da barata e começou a conversar, animadamente, contar
casos e a comer…
No fim, quando todos acabaram, olhou para o prato: estava vazio. Havia tomado
a sopa e a barata também …
Mas concorrera para alegrar o coração de uma velha e sincera admiradora.
Valeu o sacrifício …
(Publicado no Boletim GEAE Número 440 de 2 de julho de 2002)