Vício Radical
Ele reside em nossa casa interior e o conhecemos muito bem!…
Acompanha-nos desde prístinas eras e estamos, portanto, familiarizados com
ele: é o árbitro impiedoso das paixões dissolventes: alucina e envilece… É
herança do primarismo animal e constitui-se no maior adversário de nossa
evolução. É sombra em nosso entendimento em forma de vaidade, e tóxico em nosso
raciocínio na feição de orgulho. É veneno em nosso coração, sob a máscara do
ciúme, e fogo em nossa Alma, sob a agressiva capa da revolta. Antítese da
solidariedade, constitui-se nosso estrênuo adversário, corroendo-nos as “carnes”
da alma e fomentando a hecatombe coletiva, asfixiando os mais nobres ideais da
Vida. Alimenta-se no campo fértil da ignorância com os ingredientes venenosos da
revolta e da insensatez.
Ele é velha roupa, inútil, conservada no lar do orgulho. É verdugo cruel, a
pior chaga da Humanidade. Respinga fluxos lacrimais como larvas ardentes.
Ele é a alma do orgulho, seiva de todos os males e dificuldades maior que
existe em nós. É tão violento quão generalizado mal. Não nos permite ajudar a
ninguém. Guardamo-lo à semelhança de ferida oculta no coração.
Enquanto ele governar os grupos humanos e espalhar as suas torpes sementes,
em forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo,
a Humanidade provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas
lágrimas…
Ele é a causa preponderante nos desajustes conjugais. É a gênese de todos os
vícios e mazelas da Alma. Jamais atingiremos o desiderato assinalado pelo Pai
Celestial para todos nós, se não o erradicarmos de nossa Vida. Para alijá-lo,
devem tender todos os nossos esforços.
Ele é incompatível com a justiça, o amor e a caridade, e neutraliza todas as
outras qualidades. Funda-se no sentimento do interesse pessoal e muitas
instituições humanas o entretêm e excitam. Algumas religiões o estimulam,
chegando ao cúmulo de transferi-lo até mesmo para as regiões celestiais.
A educação e o Espiritismo dão-lhe combate incessante. Porém, sendo inerente
à espécie humana e prendendo-se à inferioridade dos Espíritos encarnados na
Terra, constitui vigoroso adversário e obstáculo ao reinado do bem absoluto.
Longe de diminuir , ele cresce com a civilização, que, até parece, o excita,
mantém e acoroçoa. Mais hediondo se torna quanto maior é o mal que lhe é
caudatário.
“De todas as imperfeições humanas ele é a mais difícil de desarraigar porque
deriva da influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde
liberar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização
social, sua educação.”
Ele só se debilitará à proporção que a Vida moral for predominado sobre a
Vida material e, sobretudo, com a compreensão que o Espiritismo nos faculta, do
nosso estado futuro real e não desfigurado por facções dogmáticos
geradoras da acampsia do raciocínio.
Nossa personalidade oferece trono onde se assenta soberano e tirânico.
Verme roedor, é um mal real, que se alastra como terrível metástase vitimando
por inteiro a quem, invigilante, o acoroçoa, tornando-se mister combatê-lo como
se uma enfermidade epidêmica fora…
Ele é encontrado em todas as partes do organismo social, desde a família aos
povos, da choupana miserável ao mais suntuoso palácio.
Dentre as causas das misérias e males humanos, ele se levanta como o mais
significativo de todos. Ele é o útero onde são gerados: o orgulho, a ambição, a
cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme e tudo o que, a cada momento, provoca mágoa e
perturbação às relações sociais, induzindo as criaturas às dissensões,
aniquilando a confiança, obrigando a se postarem em constante defensiva umas
contra as outras. Transforma o amigo, em inimigo soez e visceral. É um vício
incompatível com a felicidade, com a paz, com a segurança e tranqüilidade.
Afinal de contas, qual é o nome desse flagelo terrível?
Como nomear esse vício radical?
Chama-se: E G O Í S M O.
Emmanuel e Pascal, juntos, conclamam (1):
“O egoísmo tem de desaparecer da Terra, a cujo progresso obsta. Ao
Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-lo ascender na hierarquia dos
mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem
apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem. Digo: coragem,
porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si mesmo, do que para
vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo
em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho
do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da
caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade do homem.
O egoísmo é a negação da caridade. Ora, sem a caridade não haverá descanso
para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o
orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira que vencerá o
mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas
afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito.
Se as criaturas se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria a
caridade, mas, para isso, mister fora vos esforçásseis por largar essa
couraça que vos cobre os corações, a fim de se tornarem eles mais sensíveis aos
sofrimentos alheios.”
Afinal de contas, qual é o nome desse flagelo terrível?
1 – Kardec, A. in “O Evangelho Segundo o Espiritismo”- Capítulo XI, itens 11
e 12
Bibliografia
- Estudos Espíritas – Capítulo 12 – Joanna de Ângelis/Franco, D.P.
- Meditações – Capítulo 4 – Joanna de Ângelis/Franco, D.P.
- Repositório da Alma – André Luiz/Xavier, F.C.
- O Livro dos Espíritos – Kardec, A. – Capítulo XI, Questões 913 a 917
- O Evangelho Segundo o Espiritismo – Kardec, A. – Capítulo XI, itens 11 e
12
(Jornal Mundo Espírita de Julho de 1998)