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Aristocracias

O esquecido livro Obras Póstumas, publicado em 1890 e que reúne escritos  de Allan Kardec encontrados após sua desencarnação, possui precioso acervo de informações para estudos da Doutrina Espírita. Além de detalhes da vida pessoal e do trabalho da própria Codificação, reunidos na segunda parte da obra, a primeira parte reúne igualmente notáveis reflexões e estudos do Codificador que muito ampliam o entendimento do Espiritismo.

É na citada obra que se encontra o importante documento As aristocracias, de poucas páginas e largo conteúdo, que o leitor poderá conferir para entender a velha questão das classes dominantes na sociedade, em todos os tempos, desde os chefes de família – com a preponderância masculina no passado – até os atuais sistemas políticos vigentes na sociedade atual.  Significando, em acepção literal, o poder dos melhores, as aristocracias sofreram sucessivas modificações através do tempo ocasionadas pelas próprias transformações sociais. Caminhando dos patriarcas à força bruta – que submeteu classes sociais durante bom tempo, inclusive com a escravidão –, desta para a inteligência e depois para o poder temporário trazido pelo dinheiro que ainda domina a sociedade muitas vezes com crueldade, conforme estudo apresentado no texto do Codificador e para o qual encaminhamos o leitor, as aristocracias progridem agora para uma nova fase.

E pergunta Allan Kardec em seu precioso texto: Será a última? Será a mais alta expressão da Humanidade civilizada? Não! responde o próprio Codificador.

Pondera Kardec que a inteligência nem sempre vem acompanhada da moralidade e que esta, isolada, pode muitas vezes ser incapaz. E acrescenta que “(…)A reunião dessas duas faculdades,  inteligência e moralidade, é, pois, necessária a criar uma preponderância legítima, a que a massa se submeterá cegamente, porque lhe inspirará plena confiança, pelas suas lutas e pela sua justiça. (…)”, conforme palavras transcritas da obra em questão e com negritos do original.

Será de muita oportunidade que o leitor leia o texto na íntegra, especialmente a conclusão após o trecho acima transcrito e longo para o caso de transcrever no pequeno espaço da presente reflexão. É que o Codificador, com toda sua lucidez e bom senso tão característicos, leva à reflexão sobre as lutas próprias da evolução humana no combate ao egoísmo feroz que ainda nos caracteriza a evolução e as lutas aí decorrentes, justamente pela presença do orgulho, da vaidade e seus derivados.

É importante citar, todavia, que, em todos os tempos – dada a diversidade que caracteriza o gênero humano – sempre foi preciso a presença dos líderes; por outro lado, há por toda parte criaturas fragilizadas, incapazes, que necessitam de proteção e paixões que exigem repreensão, daí a necessidade da autoridade em todas as áreas de atuação.

Mas o assunto estimula buscar O Livro dos Espíritos. A obra estrutural da Doutrina Espírita oferece conteúdo que relaciono ao leitor para ampliar referido entendimento:

  1. Como primeira fonte de pesquisa é oportuno buscar a questão 71 que traz abordagem sobre a inteligência;
  2. Pesquise-se também as questões 629 a 646, com respostas dos espíritos sobre a velha questão de O Bem e o Mal;

Propositalmente não transcrevemos os ensinos das questões propostas, exatamente para estimular a pesquisa do leitor, face ao conteúdo que seria prejudicado com transcrições parciais. Na questão 629, por exemplo, acima indicada, abre imensa perspectiva de entendimento sobre as situações históricas vividas e em andamento na sociedade, e que se ampliam de maneira expressiva nas seguintes.

Todo o acervo de reflexões abre espaço gigantesco no tema Civilização, também contemplado por Kardec nas questões 790 a 793; Progresso da Legislação Humana – nas questões 794 a 797 e Influência do Espiritismo sobre o Progresso nas questões 798 a 802.

É que todos esses estudos levam a concluir com o próprio Kardec sobre o que escreveu no final de seu texto As Aristocracias, em Obras Póstumas, quando, com muita propriedade afirmou:

“(…) tal estado de coisas não pode ser obra de um dia, mas, se há uma causa capaz de apressar-lhe o advento, essa causa é, sem nenhuma dúvida, o Espiritismo. Fator, por excelência, da fraternidade humana, por mostrar que as provas da vida atual são a conseqüência lógica e racional dos atos praticados nas existências anteriores, por fazer de cada homem o artífice voluntário da própria felicidade, a vulgarização universal do Espiritismo dará em resultado, necessariamente, uma elevação sensível do nível moral da atualidade. (…)”

E conclui: “(…) Com bom direito, pois, podemos considerar o Espiritismo como um dos mais fortes precursores da aristocracia do futuro, isto é, da aristocracia intelecto-moral”. (negrito do original).

Será, pois, muito útil estudar o texto de Kardec, na íntegra, constante de Obras Póstumas, para compreender essa trajetória histórica do poder dos melhores – explorado, deturpado ao longo do tempo, fomentador também do progresso  por mais paradoxal que possa parecer e agora caminhando para corresponder à sua própria significação, fazendo a humanidade viver em paz e continuando sua destinação progressista.

Por isso é importante também saber mais sobre moral, sobre o bem, sobre o mal e compreender melhor a presença providencial do Espiritismo no planeta.

Afinal se unirmos a inteligência e seus desdobramentos, vistos amplamente na atualidade, com a moralidade inatacável do Evangelho de Jesus – que preconiza o respeito ao próximo em toda sua extensão – alcançaremos mesmo uma nova fase de luz e justiça plena.

É o poder que une amor e sabedoria, pois que conforme responderam os Espíritos à questão 791 de O Livro dos Espíritos, a civilização se depurará de maneira a fazer desaparecer os males que tenha produzido quando a moral estiver tão desenvolvido quanto a inteligência.

 

Nota: As transcrições de Obras Póstumas foram feitas da 21ª. edição FEB, tradução de Guillon Ribeiro; de O Livro dos Espíritos da 169ª. edição IDE, tradução Salvador Gentille.