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A obsessão segundo os gentios

O articulista conta, também, que, sentindo esse interesse, uma conhecida Cia.
de Navegação Aérea patrocinou um “tour” pela Grã-Bretanha para que os
componentes do grupo pudessem assistir a sessões espiritualistas, presenciar
curas espirituais e outros acontecimentos congêneres. A escolha daquele país foi
ocasionada pelo grande ressurgimento do Espiritualismo. Ele acrescenta que há,
paralelamente, um ressurgimento de magia negra na Inglaterra, a ponto de as
Igrejas Católica e Anglicana terem recomendado às suas dioceses que nomeiem
exorcistas oficiais para expulsarem os “demônios” – em outras palavras,
praticarem a desobsessão! O mesmo está acontecendo no Continente europeu.

No subtítulo intitulado “O Espiritualismo o articulista explica que seus
adeptos são geralmente classificados como “médiuns”, isto é, “pessoas capazes de
fazer contato com o outro lado, mas que, em verdade, fazem muito mais do que
isto, gastando tanto tempo nas curas espirituais e nos conselhos aos
necessitados como nas sessões propriamente ditas.” A sua descrição das sessões,
porém, mais nos lembra uma central telefônica do que uma reunião espírita, pois
o que parece predominar é o interesse de fazer ligações diretas com os espíritos
amigos e parentes dos assistentes! E a sua opinião sobre o Espiritualismo é que
“Nenhum céptico jamais provou que ele é válido, mas nesses acontecimentos
permanecem alguns incidentes que desafiam as leis da probabilidade ou da mera
coincidência”. Ainda bem…

As fotos são bizarras demais para serem descritas – é preciso vê-Ias para
crer. A última, no entanto, é bastante interessante. Intitula-se “O Povo de
Jesus praticando o exorcismo em grupo para curar uma possessa.” Mostra um grupo
de jovens, profundamente concentrados, dando um passe numa mocinha sentada no
meio do círculo. E o articulista termina dizendo: “ELA CUROU-SE”. Kardec não
teria concordado, com o nosso amigo, pois, no livro “A Obsessão” ele conta o
caso de uma obsediada cuja família havia tentado de tudo na esperança de
curá-la. A medicina foi inútil, o exorcismo não deu certo, as visitas aos
santuários tão pouco, e NEM, também, OS PASSES, pois, apesar dos passes terem
sido aplicados por um espírita, não foi possível evocar o obsessor por falta de
médiuns (pág. 317) .

Falando de obsessão, não poderíamos deixar de comentar um livro que é um
autentico “best-seller” americano “THE EXORCIST” (O exorcista). É um romance,
más como o autor, para escrever a sua obra, consultou uma autoridade da renomada
“Sociedade de Jesus”, em Nova York, o Reverendo Thomas B. Bermingham, o trabalho
adquiriu um cunho de autenticidade no que diz respeito ao que a Igreja Católica
pensa sobre a obsessão e a desobsessão são por meio do exorcismo. Achamos, pois,
que os Espíritas também se interessariam em saber, ainda que de forma ligeira,
como alguns não-Espíritas encaram esse flagelo, os meios que usam para comprovar
a sua autenticidade, o que precisam fazer para iniciar os trabalhos de
desobsessão e as possíveis conseqüências (segundo eles) para os pobres
exorcistas, conseqüências estas que eles parecem conhecer, aceitar, mas que não
podem deixar de temer!

È uma obra que prende a atenção pelo apavorante desenrolar de uma trágica
obsessão. Trata-se de uma menina americana de onze anos de idade, filha única de
um casal separado que, para passar o tempo, brinca com uma prancheta , (Ouija
Board), dialogando, por esse meio, com um companheiro invisível que ela chama de
Capitão Harvey. Este é o prelúdio. A primeira fase começa com os “raps”
(pancadas). As roupas saem dos armários aparecendo em outros locais. O quarto
onde a garotinha dorme torna-se gélido. Os móveis mudam de lugar, móveis pesados
demais para serem arrastados por uma criança. Apesar dos fenômenos tornarem-se
cada vez mais insistentes, estranhos e alarmantes, ninguém, por incrível que
pareça, desconfia do que pode estar acontecendo. Essa primeira fase termina com
a misteriosa morte de um dos amigos da mãe, que é encontrado sem vida, na rua,
logo abaixo da janela do quarto onde a garota dorme. Deduz-se que ele haja,
caído do andar superior, mas, de maneira que ninguém pode explicar como. Entra a
polícia.

Na segunda fase, o terror se intensifica, pois a menina começa a mostrar
fortes sinais de desequilíbrio psíquico. Conversa, também, em línguas estranhas,
comete atos terríveis, fala monstruosidades, mostra uma força descomunal, muda
de personalidade – não uma mas muitas, cada qual pior do que a precedente. Lê os
pensamentos dos que a vistam, demonstrando, enfim, os sintomas de um gravíssimo
caso de obsessão. Mas ninguém pensa nisso. A mãe, como boa e moderna americana,
chama um médico, um psiquiatra, etc. A garota é internada numa clínica
psiquiátrica das melhores e submetida a todos os testes possíveis. – Mas os
testes são negativos e os médicos não atinam com a sua doença.

Começa a terceira fase. Ela volta para casa, onde as coisas pioram de minuto
a minuto. Alguém tem, então, a brilhante idéia de chamar um padre. O que atendeu
o chamado era, não só um sacerdote jesuíta, mas um psiquiatra que conhecia,
também, bastante sobre a obsessão e a possessão. Levaram-no para ver a menina e
ele alarmou-se pois, além de todos os fenômenos já descritos, ela estava
cadavérica, exalava um cheiro nauseabundo, vomitava, etc., e em sua pele
apareceu um pedido de socorro, que não podia ter sido feito por ela mesma, pois
os médicos haviam amarrado seus bracinhos. Em vista de tudo isto, o jesuíta
desconfiou que estava frente a frente com um caso de obsessão mas, em primeiro
lugar, era obrigado a eliminar a possibilidade de desequilíbrio mental. Pediu
para ver os testes feitos na clínica psiquiátrica e os estudou. Levou um
gravador ao quarto da menina e gravou o que ela dizia. Fez testes lingüísticos
para saber se as línguas estranhas que ela falava podiam ter partido de seu
inconsciente. Foi aí que alguém, ao passar uma das fitas de trás para a frente,
descobriu que uma dessas línguas nada mais era que o inglês também falado de
trás para frente! (Será que alguém já experimentou pronunciar uma frase de trás
para a frente? E a garota que as falava, rápida e correntemente, só tinha onze
anos de idade).

Pensar-se-ia que, em vista de todas essas anormalidades, sugerindo claramente
um caso de obsessão, o jesuíta não teria outra alternativa se não a de aplicar o
remédio que conhecia o exorcismo. Mas, segundo o livro, não é fácil fazer um
exorcismo. Para tanto deve-se, primeiramente, conseguir a licença dos
superiores, e, para obter essa licença é preciso convencê-los de que se trata
mesmo de um caso de obsessão o que é um tanto complicado. E o tempo passa, a
menina piorando de hora em hora. É uma agonia. Enfim os superiores se convencem
que se trata mesmo de um caso de obsessão mas, em vez de permitirem que o
sacerdote que acompanhou o caso faça o exorcismo, mandam chamar outro, que tinha
estado em lugar distante. Para encurtar o caso, ambos vão fazer o exorcismo, e
para encurtar ainda mais, ambos morrem… Aquele que veio de longe aparece morto
ao lado da cama da menina, e o que acompanhou o caso aparece morto na rua, no
mesmo local e da mesma forma como morreu o amigo da mãe – caindo janela abaixo
do quarto onde a menina dormia. A pequena curou-se. Imagine-se só se isto
acontecesse cada vez que nós, Espíritas, tratamos dos obsediados. Já não haveria
mais Espíritas no Brasil!

O sucesso desse livro e o artigo do TIME mostram o interesse que os nossos
irmãos de outras terras têm pelos assuntos de fundo espiritual. Mas nos mostram,
também, que pouco conhecem daquilo que nos foi legado por Kardec – o roteiro
seguro do Espiritismo que, através da reforma íntima e do conhecimento das
verdades espirituais, nos conduzem à paz e à duradoura felicidade. Essa nossa
opinião acaba de ser confirmada por uma carta recebida de uma irmã residente nos
EUA. Diz ela, entre outras coisas, “Estivemos novamente na cidade de… e
verificamos que há uma tremenda confusão por parte dos “Espíritas” daqui com
relação às atividades brasileiras… O grande problema é que os “Espíritas”
pensam que eles são os únicos que tomam o Espiritismo como Religião, Ciência e
Filosofia, SEM SABEREM NADA DE KARDEC e que o resto do mundo só trata do
fenômeno mediúnico! Mas é exatamente o contrário. Os médiuns e os chamados
Espíritas só conhecem o fenômeno mediúnico SEM REFORMA ÍNTIMA, e, então, você
pode imaginar que tipo de médiuns e o calibre das comunicações.”

Estamos, pois, convencidos que aqueles que já receberam a luz do Espiritismo
têm por obrigação colocá-la sobre um candeeiro e não escondê-la debaixo de um
alqueire. Isto quer dizer – FAÇAMOS CONHECIDAS AOS NOSSOS IRMÃOS DE OUTRAS
TERRAS AS OBRAS BÁSICAS DE KARDEC, EM SUAS PRÓPRIAS LÍNGUAS. Isto exigirá um
esforço coletivo, um esforço hercúleo de nossa parte, mas não devemos jamais
esquecer que fora da caridade não há salvação e a caridade não consiste só em
alimentar, vestir e cuidar dos corpos. É muito mais importante dar conhecimentos
aos que têm sede e fome de saber.

Revista Internacional de Espiritismo – Outubro de 1972