Chico Xavier Psicografou Livros de Verdade?
Nessa era da informática em que atualmente vivemos, com os computadores se proliferando
por todos os lados unindo as pessoas, trouxe, via de conseqüência, entre os internautas
inúmeros debates sob os mais variados assuntos. Assim, podemos constatar uma enorme
quantidade de sites onde existem os Fóruns, local desses debates. Embora louvável
a idéia, estranhamos ver que alguns desses Fóruns estão na verdade servindo para
que determinadas pessoas tenham a oportunidade de ficarem atirando pedra em telhado
de vizinho.
Muitos participantes estão mais preocupados em fazer os outros verem as coisas
sob sua ótica que realmente fazer um debate sério, onde deveria, primordialmente,
prevalecer a cortesia e o respeito ao pensamento alheio. Têm aparecido muitos donos
da verdade, que querem que os outros pensem exatamente como eles, ficam até irritados
quando não conseguem isso, descambam para as agressões, ocorrência comum aos que
não possuem argumentos convincentes. É um paradoxo, não oferecem base lógica e racional
em apoio a seu ponto de vista, mas mesmo assim acham que os outros devem aceitar.
Por outro lado, nesses Fóruns, indivíduos têm se apresentado sem o mínimo conhecimento
daquilo que se propõem a debater, demonstrando categoricamente não terem as imprescindíveis
condições para o debate, já que não conhecem o mínimo do assunto em foco.
Estão eles, nos casos de assuntos religiosos, se tornando porta aberta aos fanáticos,
estes cegos que não suportam que as pessoas pensem diferente deles, daí ficam a
vociferar contra a opção religiosa das outras pessoas, o que a nosso ver, é um desrespeito
ao direito sagrado de cada indivíduo em seguir o que achar melhor para si. Direito
esse tão importante que está consagrado na Constituição Brasileira. “Tudo
o que vocês desejam que os outros
façam a vocês, façam vocês também a eles”
(Mt 7, 12) disse-nos Jesus, numa clara alusão a que o direito de cada um vai até
onde começa o do outro.
Vejamos, então, o que foi colocado num desses Fóruns, na Internet.
A questão proposta
Postaram o seguinte:
Autor: Thiago em 01/08/2003, 14:29:25 (e-mail não disponível)
Se os espíritos de luz podem psicografar livros, como Allan Kardec psicografou
um monte, pq os Espíritos de luz como a Virgem Maria, os Apóstolos, o próprio Jesus
nunca psicografou um livro por que? Onde está na Bíblia algo sobre livros psicografados?
Primeiramente identificamos nessa fala que o autor realmente nada conhece de
Espiritismo, pois se conhecesse saberia que Kardec não psicografou sequer um só
livro. Os livros que publicou além de respostas dadas pelos Espíritos por meio de
vários médiuns, provenientes de vários lugares, contêm também sua opinião pessoal,
fruto da observação e da experimentação. Kardec sempre separou o que provinha dele
próprio daquilo que veio por via mediúnica através dos médiuns que utilizou para
obter as respostas aos seus questionamentos. Como pedagogo, discípulo de Pestalozzi,
imprimiu nessa obra seu caráter de professor e homem de ciência que era.
A pergunta “pq os Espíritos de luz como a Virgem Maria, os Apóstolos, o próprio
Jesus nunca psicografou um livro por que?”, devemos esclarecer, se entendemos bem
o questionamento, que, em verdade, os Espíritos não psicografam, eles transmitem
seu pensamento ao médium, esse sim é quem psicografa. Mas é bom que se diga, que
a mediunidade não se restringe apenas ao fenômeno da psicografia, assim, podemos
afirmar, com base na Bíblia, que os fenômenos mediúnicos estão lá para quem tiver
olhos de ver. O que não acontece com os fanáticos, é claro.
Se entre os que se encontram vivos existe a telepatia, por que não poderia haver
entre os espíritos e nós? Ou será que após a nossa morte deixamos de pensar? Mas
não foi Jesus quem afirmou ser o Pai “Deus de vivos”
(Mt 22,32). Se assim for, teremos que conservar a nossa individualidade como
ser pensante após passarmos para o outro lado.
Aos estudiosos da Bíblia é fácil citar o episódio em que o rei Saul vai a Endor
e pede a uma pitonisa para evocar o Espírito Samuel, que aparece e lhe diz de sua
eminente derrota frente aos filisteus, inclusive que nessa batalha o rei e seus
filhos pereceriam, o que de fato ocorreu (1 Sm 28). E aos que possam argumentar
que foi o demônio que se manifestou, pedimos que nos provem isso. Entretanto, na
própria Bíblia encontramos a confirmação do fato, é só ler em Eclesiástico a afirmativa
que Samuel mesmo depois de morto profetizou (46, 20), abstraindo-se de que na narrativa
anterior isso já está confirmado.
E talvez a passagem mais importante, normalmente nunca mencionada pelos fanáticos,
é aquela sobre a transfiguração de Jesus no monte Tabor, onde na companhia de Pedro,
Tiago e João, conversa com os Espíritos Moisés e Elias (Mt 17, 1-9). E como em certa
oportunidade Jesus disse que poderíamos fazer o que ele fez e até mais, então de
que lado reside a incoerência?
Poderemos também, para confirmar a comunicação com os espíritos, afirmar o fato
que sempre alegam de que Deus proibiu a evocação dos mortos, daí podemos concluir
que existe a possibilidade, caso contrário, estaremos afirmando que Deus está proibindo
algo que não pode acontecer, um absurdo não é mesmo?
Agora se a Virgem Maria, os Apóstolos e Jesus não querem utilizar um médium para
se comunicarem conosco através da psicografia, com certeza devem ter lá os seus
motivos. O primeiro deles acreditamos seria que não lhes dariam créditos. Uns falariam
que os mortos não se comunicam, outros que só pode ser obra de satanás, enfim, fora
os espíritas, quase ninguém mais acreditaria. Mas se não houvesse preconceito e
nem fanatismo, os que têm olhos de ver veriam que isso já ocorreu, é só estudar
os livros da codificação Espírita, que se encontrarão mensagens assinadas por algum
deles.
A pergunta seguinte: “Onde está na Bíblia algo sobre livros psicografados?” é
típica de fanático religioso que pensa que o que não está na Bíblia não existe.
Se seguirmos essa mesma linha de raciocínio, podemos dizer que a clonagem não existe,
que uma sonda espacial não pousou em Marte, que a Internet é ilusão demoníaca, que
só doido acredita que uma pessoa possa falar com outra a milhares de quilômetros
de distância, etc e muitos etc mais.
Apesar disso, podemos dizer que existe sim. Na Bíblia podemos citar livro psicografado,
entretanto só o perceberá quem tiver conhecimento suficiente dos fenômenos mediúnicos
para poder identificá-lo. Como nem todos podem fazer isso, permitimo-nos apresentá-lo.
Trata-se do livro Apocalipse, escrito por João. Reportemos a LOEFFLER: “Basta um
único corvo branco para provar que nem todos são negros”. Leiamos:
“Eu, João, irmão e companheiro de vocês neste tempo de tribulação, na realeza
e na perseverança em Jesus, eu estava exilado na ilha de Patmos, por causa da Palavra
de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor, o Espírito tomou conta de
mim. E atrás de mim ouvi uma voz forte como trombeta, que dizia:
‘Escreva num livro tudo o que você está vendo. Depois mande para as
sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia’”
(Ap 1, 9-11).
Mais à frente, vamos encontrar João afirmando: “Depois de escrever as cartas
às igrejas, eu, João, tive uma visão. …” (Ap 4.1).
Perguntamos como uma pessoa “simples e sem instrução”,
como está dito de João (At 4,13), pode escrever alguma coisa? Obra do Espírito Santo?
Ótimo: incontestavelmente um fenômeno mediúnico, seja lá ele quem for. Mas a narrativa
bíblica nos fala que foi o próprio Jesus, obviamente em espírito, quem estava fazendo
as revelações a João.
“O Espírito tomou conta de mim”,
em outras palavras o Espírito sintonizou ou, como se diz popularmente, incorporou
em mim. “Escreva num livro”, quer dizer psicografa um livro.
Entretanto, alguém poderá dizer: mas na minha Bíblia não está dessa maneira.
É um fato. Só que achamos muito curioso que “a palavra” de Deus tenha versões diferentes,
já que as Bíblias apresentam narrativas divergentes para o versículo 10. S. Jerônimo,
o autor da Vulgata declarou: “A verdade não pode existir em coisas que divergem”,
deixando-nos numa situação difícil para sabermos onde está de fato a narrativa verdadeira.
Assim, é que poderemos encontrar “fui arrebatado em espírito”,
“fui arrebatado em êxtase”, “fui levado em
espírito” e “fui movido pelo Espírito”. Essa
última levando ao leitor acreditar que talvez esse Espírito seja o Espírito Santo,
em que acreditam. As outras narrativas diz-nos da realidade do afastamento do espírito
de João, com a conseqüente posse de seu corpo pelo Espírito revelador, Jesus. Daí
ser fácil entender porque João mesmo sendo iletrado escreveu, já que essa ocorrência
mediúnica se caracteriza como uma mediunidade mecânica, onde o espírito do médium
é afastado do corpo, para que o espírito comunicante o utilize para dar a sua mensagem.
Nesse tipo de mediunidade o médium produz até mesmo coisas além de seu conhecimento
atual, entretanto não guarda lembrança dos fatos ocorridos nesse período, pois não
ficam gravados em sua memória física.
Chico Xavier psicografou?
Aos que não sabem o mineiro do século, Chico Xavier, cursou apenas até o antigo
quarto ano primário, e numa análise do conteúdo do que produziu, por sua mediunidade,
podemos encontrar conhecimento muito além de sua cultura escolar. Conseguiu, em
sua primeira obra mediúnica, Parnaso do Além Túmulo, psicografar 256 poesias de
56 autores. Poesias essas perfeitamente identificáveis com o estilo que conhecemos
dos poetas autores da mensagem. Talvez quem sabe um gênio conseguiria fazer isso,
o que não era o caso de Chico.
Um perito em grafoscopia, Carlos Augusto Perandréa, após analisar uma mensagem
recebida em italiano, língua que Chico não conhecia, em comparação com escritos
dessa pessoa quando viva, atesta: “A mensagem psicografada por Francisco Cândido
Xavier, em 22 de julho de 1978, atribuída a Ilda Mascaro Saullo, contém, conforme
demonstração fotográfica (figs. 13 a 18), em ‘numero’ e em ‘qualidade’, consideráveis
e irrefutáveis características de gênese gráfica suficientes para a revelação e
identificação de Ilda Mascaro Saullo como autora da mensagem questionada” (pág.
56).
É bom que se diga que após “700 laudos técnicos, sem uma única contestação em
25 anos de atuação, proporcionam ao professor Perandréa, conhecimento, capacidade
e alta credibilidade para estudar imparcialmente e cientificamente a psicografia”
(Appoloni, C. R).
Um trecho interessante narrado no livro Nosso Amigo Chico Xavier:
“O outro caso de xenoglossia ocorreu após visitar, em companhia do Dr. Rômulo
Dantas, a fazenda de propriedade do Dr. Louis Ensch, engenheiro luxemburguês, fundador
da Usina de Monlevade da Companhia Belgo-Mineira, em Monlevade (MG). Após o regresso,
numa das suas preces, recebe uma mensagem em luxemburguês, endereçada ao engenheiro,
que ao lê-la foi tomado de grande surpresa e admiração: estava escrita em sua língua
nacional, com tamanha perfeição, que somente os intelectuais de sua pátria estariam
aptos a compreendê-la.”
“Se faz necessário notar que pouquíssimas pessoas em nosso país falam o luxemburguês.
Seria necessário catá-las a dedo, pois esta língua é falada em um país europeu que
possui uma população total de 340.000 habitantes, o equivalente à de nossa cidade
litorânea, Santos”.
Nesse mesmo livro é citado um caso em que Chico psicografou em inglês ao inverso,
fato pouco comum e inusitado para quem não fala esse idioma.
São os fatos que apontam para a veracidade da psicografia de Chico Xavier, cuja
obra perfazem para mais de 400 livros, inclusive alguns foram publicados em vários
idiomas. Se não são obras dos Espíritos deveríamos então ter colocado o Chico para
ocupar um lugar na Academia Brasileira de Letras.
Conclusão
O que percebemos claramente é que por detrás de tudo isso o que está se questionando
realmente é a possibilidade da comunicação entre vivos e mortos. Conforme já o dissemos
“Deus é Deus dos vivos”, assim por que
não poderia haver a comunicação entre os dois planos da vida? Só porque alguns teólogos
acham que não? Mas e as pesquisas sobre o assunto não valem nada?
Poderíamos citar as pesquisas de Sr. Willian Crookes e inúmeros outros sábios,
entretanto poderão apresentar objeções relativamente à época de quando foram feitas
e outras mais. Mas não iremos tão longe. Buscaremos, para acrescentar ao que já
dissemos, o testemunho de um padre católico. Exatamente, por ser um padre é que
sua opinião é importante, pois sabemos que embora possa não ser a posição oficial
da Igreja Católica, quase todos os padres dizem que a comunicação com os “mortos”
não é possível. O que achamos muito estranho, pois não conhecemos nenhum santo vivo,
mas apesar disso os católicos ficam a evocá-los, pedindo-os para resolver seus problemas
do dia-a-dia. Apelam aos santos para intercederem por eles junto a Deus, como nós
muitas vezes buscamos a ajuda de uma pessoa para obter favor de uma outra mais influente.
Diz-nos o Pe. François Brune, pesquisador católico da Transcomunicação Instrumental
– comunicação com os espíritos por meio eletrônico:
“Interrogarsobre as origens, no pensamentoocidental, desta recenteideologia do
nada, não é o meupropósito. O maisescandaloso é o silêncio, o desdém, atémesmo a
censura exercida pelaCiência e pelaIgreja, a respeito da descobertaincontestemaisextraordinária
de nossotempo: o apósvida existe e nós podemos noscomunicarcomaquelesque chamamos
de mortos”.
“Escrevi estelivroparatentarderrubaresseespessomuro de silêncio, de incompreensão,
de ostracismo, erigido pelamaiorparte dos meiosintelectuais do ocidente. Paraeles,
dissertarsobre a eternidade é tolerável; dizerque se pode vivê-la torna-se maisdiscutível;
afirmarque se pode entraremcomunicaçãocomela é considerado insuportável”.
“O padre e teólogoque sou quis, como se diz, certificar-se completamente da verdade.
Porquetodosessestestemunhos deveriam ser, a priori, considerados suspeitos? Quando
o conteúdo das mensagens e das comunicações gravadas reúne, comoeu demonstro, os
maiorestextos místicos de diversas tradições, existe nisso maisque uma simplescoincidência.
Eu acompanhei, pois, e estudei apaixonadamente os resultados das pesquisasmaisrecentes
nesse campo. As conclusões deste trabalho ultrapassaram minhasprevisões: nãosomente
a credibilidadecientífica das experiências de comunicaçãocom os mortos encontra-se
confirmada e não pode maisserpostaemdúvida, mas a prodigiosariqueza dessa literatura
do além reanimou emmim o queséculos de intelectualismoteológico haviam extinguido”.
“Vox ‘patris’ Vox Dei”. E ponto final.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Autor do livro: A Bíblia à Moda da Casa.
Fev/2004.
Referências bibliográficas:
- Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
- Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, São Paulo,
Paulus, 1990. - BRUNE, Pe. F. Os Mortos nos Falam, Sobradinho-DF,
Edicel, 1991. - CHAVES, J.R. A Face Oculta das Religiões, São
Paulo, Martin Claret, 2001. - COSTA E SILVA, L. Nosso Amigo Chico Xavier, São Paulo,
Editora ALF, 1995. - LOEFFLER, C. F. Fundamentação da Ciência Espírita,
Niterói, Lachâtre, 2003. - PERANDRÉA, C. A. A Psicografia à Luz da Grafoscopia,
São Paulo, Editora Fé, 1991.