Tamanho
do Texto

Espiritismo e evolução

Espiritismo e evolução

 

Aristóteles (384-322 a.C.) classificava os animais em duas categorias: inferiores
esuperiores. Os animais superiores (aves,peixes, mamíferos) nascem de seus semelhantes,

os inferiores (insetos, crustáceos, moluscos) surgem por geração espontânea. Mosquitos
e sapos brotariam nos pântanos. De matérias em putrefação apareceriam as larvas.

Na Idade Média, a Bíblia era misturada a teorias fantasiosas que diziam que da
carcaça de um cavalo morto nasciam vespas, de uma mula geravam vespões e os ratos
nasciam do queijo.

Havia uma receita que dizia: Tome um vitelo. Mate o animal e enterre-o, deixando
somente os chifres fora da terra. Deixo-o assim durante um mês. Serre depois os
chifres e sairão centenas de abelhas.

O naturalista inglês, Rose, anunciava eruditamente: “Duvidar que as vespas e
abelhas nascem do estrume das vacas, é duvidar da experiência, da razão e do bom-senso.
Mesmo animais complicados, como ratos, não precisam de pai e mãe. Se alguém tiver
dúvidas, vá ao Egito, e lá verá as quantidades de camundongos que infestam os campos
– nascidos da lama do rio Nilo – para grande calamidade dos habitantes!”

Em 1668, o italiano Francesco Redi com dois frascos de vidro, um pedaço de gaze
e alguns pedaços de carne provou o engano da teoria da geração espontânea, mas,
infelizmente foi esquecido.

Na questão 46 de “O Livro dos Espíritos” a chamada geração espontânea é explicada
com a existência do gérmen primitivo que, em estado latente, espera o momento próprio
para desabrochar, o que convenhamos, reforça as experiências científicas realizadas
pelo embriologista alemão Kaspar Friedrich Wolff em 1759, que mostrou que em embriões
em ovos de galinha não havia nenhuma estrutura pré-formada, mas sim, massa de matéria
viva, o que foi um golpe fatal na teoria da pré-formação, que dizia que a anatomia
estava pré-formada dentro do óvulo (ou do espermatozóide). Diziam alguns teólogos
da douta Igreja que no ovário de Eva havia 200.000.000 gerações pré-formadas para
posteridade.

O criacionismo que advogou a tese de que as espécies são fixas, isto é, imutáveis
e criadas por um ato especial da criação, ficou cada vez mais desacreditado pela
Ciência que avançava com os estudos e experiências de Lamarck (1744-1829) e de Charles
R. Darwin (1809-1882).

Em 1864,o químico e biologista francês Louis Pasteur, reabilita o italiano Francesco
Redi, com suas experiências em frascos com “pescoço de cisne” provando que no ar
ou nos alimentos, não há nenhum “princípio ativo” e conclui que a vida não é gerada
espontaneamente, pois a vida se origina de outro ser vivo preexistente.

Em 1936, Alexander Oparin propõe que a partir de gases da atmosfera primitiva
formam-se os primeiros compostos orgânicos que evoluem naturalmente até originarem
os primeiros seres vivos. Anos depois, Oparin diz que as moléculas protéicas existentes
na água se agregam na forma de coacervados (complexos de proteína). Essas estruturas,
apesar de não serem vivas, têm propriedades osmóticas e podem se unir, formando
outro coacervado mais complexo. Da evolução destes coacervados, surgem as primeiras
formas de vida.

Nas questões 43, 44 e 45 de “O Livro dos Espíritos”, a Quimiossíntese e a teoria
dos coacervados de Alexander Oparin é prenunciada pelos Espíritos superiores, com
palavras diferentes, mas com a mesma idéia. No livro “A Gênese”, no cap. X, item
25, Allan Kardec com a maestria pedagógica de sempre, enriquece as questões com
exemplos esclarecedores.

Hoje são reconhecidos cinco processos para a dinâmica evolutiva: mutação genética,
variação na estrutura e número de cromossomos, recombinação genética, seleção natural
e isolamento reprodutivo. As mutações e recombinações fornecem material para a variabilidade
de características. A seleção natural elimina os mutantes inaptos. O isolamento
reprodutivo limita a direção evolutiva criando barreiras de infertilidades entre
indivíduos de espécies muito diferentes.

A evolução do homem é estudada pela Paleoantropologia, disciplina científica
que tem origem no século passado, com as descobertas de pedra e fósseis e com a
Teoria da Evolução das Espécies apresentada por Charles R. Darwin.

Um dos fatores essenciais para o desenvolvimento da Paleoantropologia é a demonstração
das semelhanças anatômicas entre o homem e macacos, como gorilas e chimpanzés, feita
por Darwin e discípulos como Thomas Henry Huxley (1825-1895) e Ernest Haeckel (1834-1919).
Surge assim a noção de que ancestrais humanos teriam formas parecidas com as dos
símios. Não há, porém, apenas um “elo perdido” (um animal a meio caminho entre o
homem e o macaco) ancestral entre homens e macacos, como rapidamente foi popularizado.
Os pesquisadores descobriram muitos fósseis de antigos primatas (ordem de mamíferos
em que se incluem homens e macacos) e sua ordenação em uma seqüência evolutiva é
complexa.

Comentando sobre esta questão, Allan Kardec no livro “A Gênese”, no cap. XI,
item 15, analisa a “Hipótese sobre a origem do corpo humano”:

“Da semelhança que há nas formas exteriores entre o corpo do homem e do macaco,
concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transformação do segundo.
Nada aí há de impossível, nem o que, se assim for, afete a dignidade do homem. Bem
pode dar-se que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos primeiros Espíritos
humanos, forçosamente pouco adiantados, que viessem encarnar na Terra, sendo essa
vestidura mais apropriada às suas necessidades e mais adequadas ao exercício de
suas faculdades, do que o corpo de qualquer outro animal. Em vez de se fazer para
o Espírito um invólucro especial, ele teria achado um já pronto. Vestiu-se então
da pele do macaco, sem deixar de ser Espírito humano, como o homem não raro se reveste
da pele de certos animais, sem deixar de ser homem.

Fique bem entendido que aqui unicamente se trata de uma hipótese, de modo algum
posta como princípio, mas apresentada apenas para mostrar que a origem do corpo
em nada prejudica o Espírito, que é o ser principal, e que a semelhança do corpo
do homem com o do macaco não implica paridade entre o seu Espírito e o do macaco.”

No séc. XX, a teoria darwinista foi sendo adaptada a partir de descobertas da
Genética. Essa nova teoria, chamada de sintética ou neo darwinista, é a base da moderna
Biologia. A explicação sobre a hereditariedade das características dos indivíduos
deve-se a Gregor Mendel (1822-1884), em 1865, mas sua divulgação só ocorre no séc.
XX. Darwin desconhecia as pesquisas de Mendel. A síntese das duas teorias foi feita
nos anos 30 e 40. Entre os responsáveis pela fusão estão os matemáticos Jonh Burdon
Haldane (1892-1964) e Ronald Fisher (1890-1962), os biólogos Theodosius Dobzhansky
(1900-1975), Julian Huxley (1887-1975) e Ernest Mayr (1904-). A teoria neo darwinista
diz que mutações e recombinações genéticas causam as variações entre indivíduos
sobre as quais age a seleção natural.

E para concluir, voltaremos ao livro “A Gênese”, cap. 11, item ’16, nas palavras
do mestre Allan Kardec:

“Admitida essa hipótese (que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos
primeiros Espíritos humanos), pode-se dizer que, sob a influência e por efeito da
atividade intelectual do seu novo habitante, o envoltório se modificou, embelezou-se
nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto.melhorados os corpos,pela
procriação, se reproduziram nas mesmas condições, como sucede com as árvores de
enxerto. Deram origem a uma espécie nova, que pouco a pouco se afastou do tipo primitivo,
à proporção que o Espírito progrediu. O Espírito macaco, que não foi aniquilado,
continuou a procriar, para seu uso, corpos de macaco, do mesmo modo que o fruto
da árvore silvestre reproduz árvores dessa espécie, e o Espírito humano procriou
corpos de homem, variantes do primeiro molde em que ele se meteu. O tronco se bifurcou:
produziu um ramo, que por sua vez se tornou tronco.”

Natura non facit saltus!

(Publicado no CORREIO FRATERNO DO ABC, Ano XXX, Nº 319, Agosto de 1997)