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Os Feitos de Jesus

Os Feitos de Jesus

Muitos prodígios e maravilhas são relatados no Velho e Novo Testamentos.

Ante eles, o povo israelita costumava expressar sua admiração.

Quando, por exemplo, Jesus curou o paralítico em Cafarnaum, as pessoas ao
redor exclamaram:

“Hoje vimos prodígios” (Lc. 5 :26).

Se falassem em latim, teriam dito: “Miraculum”, que vem de “mirare” e
significa exatamente prodígio, maravilha, coisa admirável.

Passando para o português, “miraculum” resultou no vocábulo “milagre”.

A palavra milagre, veio, porém, a mudar de sentido, por influência da
teologia católica, passando a significar uma derrogação das leis naturais, pela
qual Deus estaria dando uma demonstração de seu poder. Para ser considerado
milagre, um fato teria de ser sobrenatural (fora das leis da natureza) e, como
conseqüência, inexplicável e insólito (fora do habitual, do comum).

Antigamente a ignorância humana era muito grande; por isso, numerosos fatos
eram tidos como inexplicáveis e, em conseqüência, considerados como
sobrenaturais, milagrosos.

O progresso do conhecimento humano vem contribuindo para esclarecer muitos
desses pretensos milagres. A ciência revelou novas leis que explicam fenômenos
e, assim, foi destruindo lendas, abolindo crendices e superstições.

À medida em que aumenta o rol dos fenômenos e leis conhecidos, o círculo do
maravilhoso vai ficando menor.

Ainda resta muito de “maravilhoso” no que diz respeito à ação do espíritos
sobre a matéria, porque é campo pouco conhecido da ciência, por enquanto, mas o
Espiritismo já nos instrui e orienta sobre esses fenômenos.

À luz da Doutrina Espírita, sabemos que muitos dos feitos admiráveis narrados
na Bíblia:

  • são possíveis e verdadeiros e, ainda hoje, se podem dar, aqui e ali;
  • por mais extraordinários que nos pareçam, não são milagres, no sentido de
    derrogação das leis naturais;
  • explicam-se pela ação dos espíritos sobre os fluidos, com o seu pensamento
    e vontade e através do seu perispírito;
  • são, portanto, fenômenos que obedecem a leis naturais, leis divinas e,
    como tal, sábias, perfeitas e imutáveis (nelas nada muda nem precisa ser
    mudado, nunca).

Quanto mais se vier a conhecer a vida universal, menos se falará em
sobrenatural ou milagres.

Em compensação, cada vez mais se confirmará a presença do elemento espiritual
e os efeitos de sua ação em nós e ao nosso redor.

Nesses fenômenos admiráveis, cada vez mais reconheceremos a grandeza de Deus,
que se revela majestosa na sabedoria com que rege o universo através de suas
leis soberanas, a tudo prevendo e provendo, sem que nenhuma delas precise ser
complementada, corrigida ou anulada.

Os fenômenos que Jesus efetuou

Jesus realizou muitos fenômenos admiráveis e dos tipos mais variados: curas
de enfermos físicos, afastamento de espíritos perturbadores, clarividência,
telepatia, multiplicação de pães e peixes, levitação, transfiguração, profecias,
etc.

Realizou-os por ser um espírito altamente evoluído, que apresentava
faculdades espirituais em elevado grau de desenvolvimento e sabia usar seu
pensamento e vontade de modo superior.

Seu perispírito permitia-lhe mais amplo exercício das faculdades espirituais
porque era formado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres e
constituía um reservatório dos mais puros e ativos fluidos.

A explicação espírita, demonstrando que os feitos de Jesus foram fenômenos
naturais, não diminui a figura do Mestre nem desmerece a sua capacidade de ação;
ao contrário, a confirma; e exalta a qualidade dos fenômenos por ele produzidos.

Kardec examinou de modo geral os chamados “milagres”, nos capítulos XIU e XIV
de “A Gênese” e também os milagres do Evangelho, no capítulo XV.

Nas aulas que se seguirão, abordaremos os diferentes fenômenos espirituais
realizados por Jesus, explicados e classificados conforme o conhecimento
espírita.

Para que os realizava

Geralmente, era para prestar benefícios a necessitados. Ou, então, como
“sinal” de sua missão (para os israelitas, fenômenos transcendentes eram
“sinais” de que a pessoa estava investida de autoridade e poder espiritual, para
falar e agir em nome de Deus, como seu enviado).

Também os fazia como recurso natural necessário ao cumprimento de sua tarefa
missionária.

Exemplificando :

Prestação de benefício a necessitados.

  1. Espontânea

Compadecido, “ressuscita” o filho único da viúva, em Naim (Lc. 7:11/17).

  1. A pedido

Transforma água em vinho, nas bodas de Caná da Galiléia, atendendo a
solicitação de sua mãe (Jo 2: li).

À saída de Jericó, cura um cego, atendendo a seus rogos (Mc, 10:46/52).

  1. Para andamento de sua tarefa

Levita sobre as águas do lago para ir ter com os discípulos, no barco (Mt.
14:22/23).

Profetiza quem os discípulos encontrarão, à entrada de Jerusalém, para
prepararem a páscoa (Lc. 9:28/31).

  1. Como “sinal” de sua missão

Cura leproso “para servir de testemunho ao povo” (Mc. 1:44).

Pedro diz em seu discurso, após fenômeno do Dia de Pentecostes:

Jesus, o Nazareno, homem aprovado por Deus diante de vós, com milagres,
prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre
vós, como vós mesmos o sabeis (Atos. 2:22).

Quando não os realizava, e por quê.

Muitas vezes Jesus foi convidado (e até mesmo desafiado) a realizar fenômenos
para com eles atestar seu poder e autoridade espiritual.

Às vezes atendia, às vezes não; porque nunca efetuava fenômenos se fosse
apenas para satisfazer curiosidade vã ou caprichos alheios.

Também não os realizava se as condições fossem desfavoráveis (falta de
merecimento nas pessoas, exposição desnecessária ante os adversários).

Exemplificando:

Fariseus e saduceus, tentando-o, lhe pediam mostrasse um sinal vindo do céu.

Jesus argumentou : sabem, pelo aspecto do céu, dizer se fará bom ou mau
tempo; como não podem discernir sobre os sinais dos tempos (espirituais)?

. Significava que podiam analisar a situação para entender. (Mt. 16:1/13).

E “arrancou do íntimo do seu espírito um gemido” :

“Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado senão
o de Jonas” (Mt. 16:4/11, Mc. 8 :11/13). (Aludia ao fenômeno de sua
ressurreição, ressurgimento espiritual, no 3° dia.)

Após expulsar os vendilhões do Templo, foi interrogado:

Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas?

Destruam este santuário, e em três dias o reconstruirei.

Falava não do Templo mas do santuário do seu corpo(Jo. 2:18).

Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois há muito queria vê-lo,
por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal
(Lc. 23:8/9). E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia.

Em Nazaré, “não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles”
(Mt. 13:58).

Irmãos de Jesus querem que ele deixe a Galiléia e vá para a Judéia e lá
realize seus feitos, a fim de que todos o vejam e o conheçam. Diziam isso porque
não acreditavam em Jesus. (Jo.7:1/9). Ele responde: “meu tempo não é chegado”, e
continua na Galiléia.

Reação dos que presenciavam os feitos.

Quando Jesus realizou seu 1° fenômeno (transformação da água em vinho)
“manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele” (Jo. 2:11).

Os populares, ante os fenômenos de Jesus, diziam:

Jamais vimos coisa assim Hoje vimos prodígios! (Mc. 2:12, Lc. 5:26.)

Quando vier o Cristo, fará, porventura, maiores sinais do que este homem tem
feito? (Jo. 7:31.)

Os adversários procuravam encontrar, ainda, motivo de acusação.

Quando Jesus curou um cego de nascença, num sábado, disseram:

Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado.

Mas outras pessoas argumentaram:

Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais?(Jo. 9:16.)

Quando afastou de um homem o espírito que o deixava mudo e o homem voltou a
falar, asseguraram:

Ele expele os demônios pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios.

Ao que Jesus respondeu:

Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si mesmo; e o seu reino não
subsistirá. (Mt. 12:22/32, Mc. 3:20/30 e Lc.l1:14/23.)

Sobre os que não acreditaram em Jesus, “embora tivesse feito sinais na sua
presença”, João Evangelista explica que foi porque (Jo. 12:37/43): tinham
endurecido seus corações; ou – tinham medo de serem expulsos da sinagoga
(“amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus”).

Fenômeno e entendimento

Os fenômenos podem ajudar na elaboração da fé, porque ensejam a observação da
vida espiritual, constatando sua realidade, permitindo adquirir conhecimentos
sobre ela.

Mas se não foram entendidos em suas causas e finalidades, poderão ficar
reduzidos a efeitos meramente exteriores e passageiros.

Ex.: Uma cura física sem a renovação moral de quem foi curado nem a
edificação dos que a presenciaram.

Mais importante do que presenciar fenômenos é saber entender a vida
espiritual.

Por isso, a Tomé, que só se convenceu da imortalidade e ressurgimento de
Jesus quando o viu materializado, o Mestre falou:

Por que me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram. (Jo.
20:29.)

Consideremos, também, que há encarnados e desencontrados querendo se fazer
passar por porta-vozes divinos e, para isso, apresentam fenômenos
(anímicos/mediúnicos) ou os imitam fraudulentamente, com o intuito de induzir ao
erro, explorar e dominar as pessoas.

Jesus já nos havia alertado contra esses falsos profetas, avisando que eles
surgiriam “operando grande sinais e prodígios para enganar, se possível fora,
aos próprios eleitos” (Mt. 24:24).

Agradecendo pelos fenômenos

Vendo os feitos admiráveis de Jesus, o povo judeu “dava graças a Deus que
concedera tal poder aos homens “.

E com razão, pois foi Deus quem criou os seres com tais faculdades e, também,
os recursos da vida universal (Mt. 9:8), sobre os quais os seres agem para
produzir os fenômenos.

Aprendamos também a dar graças a Deus, quando alguém ou nós mesmos
realizarmos feitos espirituais bons e admiráveis, porque, em última análise, o
fazemos apenas como intermediários divinos.

Os feitos de quem segue a Jesus

“Aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores
fará, porque eu vou para junto do Pai”. (Jo. 14:12.)

Quem segue Jesus aprende com ele a agir espiritualmente; em conseqüência,
produzirá fenômenos semelhantes; e poderá fazer coisas ainda maiores, porque
Jesus ficou pouco tempo na Terra e só deu algumas demonstrações do que é
possível fazer.

“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja
glorificado no Filho”. (Jo. 14:13.)

E Jesus ainda lhes continuaria dando, do Além, assistência espiritual.

Observação: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome
expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se alguma
coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; (Mc. 16:17/18); se impuserem as mãos
sobre os enfermos, eles ficarão curados”. Quem segue os ensinos de Jesus
consegue autoridade moral e ação sobre os fluidos, podendo afastar maus
espíritos e curar enfermos.

Mas as alusões a “serpentes” e “beber coisa mortífera” devem ser entendidas
como simbolismo. Vide Lucas lo:17/20. Segundo manuscritos antigos, o Evangelho
de Marcos terminava no versículo 8 do capítulo 16, mas a narrativa parecia estar
interrompida abruptamente. Talvez se houvessem perdido os versículos finais e,
para substituí-los foi escrito o fecho atual, que “apresenta-se como um breve
resumo das aparições do Cristo ressuscitado”, mas “cuja redação é sensivelmente
diversa da que Marcos habitualmente usa, concreta e pitoresca. ” Justamente
nesse novo fecho, de versículos de 9 a 20, é que se fala dos “sinais” que tão
estranhos soam no contexto da mensagem cristã.

“E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor
e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam”. (Mc. 16:20.)

A narrativa detalhada do labor dos seguidores de Jesus, bem como dos sinais
com que o Mundo Maior confirmava a missão espiritual deles, é feita por Lucas,
em “Atos dos Apóstolos”.

Aprendendo e servindo com Jesus, teremos sua assistência espiritual e também
realizaremos fenômenos espirituais, embora não no mesmo grau dos que ele
realizava.

Com a nossa evolução, chegaremos a realizar mais e melhor, produzindo “muitos
frutos”, glorificando assim ao nosso Criador, que nos criou exatamente para o
cumprimento desses desígnios. (Jo: 14:8.)

Porém, por mais fenômenos que realizemos, e por mais admiráveis que sejam,
não será por eles que nos categorizaremos como seguidores de Jesus e, sim, pelo
amor com que agirmos, porque:

“Novo mandamento vos dou : que vos ameis uns aos outros assim como eu vos
amei.

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos
outros.” (Jo. 13:34/35.)

Estudos espíritas do Evangelho – EME Editora