Integração do Centro Espírita na Sociedade
Temos visto Centros Espíritas insistirem em se colocar numa atuação
intra-muros, desvinculados até mesmo da rua em que se localizam, completamente
alheios à comunidade que os envolve. Erro fatal para divulgação da própria
Doutrina Espírita, que dirá para o esclarecimento do ser humano!
Sendo o Centro Espírita uma estrutura social humana, embora com ascendente
espiritual, insere-se que ele faça parte – e o faz – da sociedade dos homens.
Está, portanto, na dinâmica de relacionamento dos seres que vivem em
coletividade. Se assim não fosse, seu isolamento o igrejificaria, tornando-o
apenas um ponto de convergência religioso que, historicamente, já sacrificou
diversas religiões que transcende o aspecto meramente religioso, e que ele deve
ser entendido como um doutrina, um conjunto de princípios norteadores da vida.
Sua base filosófica é mesmo sua força, mas que não se perde no labirinto confuso
dos sofismas, porque tem por razão a pesquisa científica. Acreditamos na
reencarnação pela lógica, pelo bom-senso e pelos fatos comprovados. E a
religião, que deve esclarecer o homem quanto à sua origem, destinação e ligação
com Deus, no Espiritismo ganha vida prática, porque entranha-se no dia-a-dia do
cotidiano humano. Só compreendemos a paternidade divina se a vivenciarmos em nós
e para os outros.
O isolamento é sempre um mal que devemos combater. Ninguém se forma em
medicina pelo simples fato de cursar teoria médica na universidade. E a prática?
O mesmo raciocínio devemos aplicar no Espiritismo. Não basta freqüentar um
Centro Espírita para tornar-se Espírita. É preciso aprender na teoria e
vivenciar na prática. Essa conjugação deve ser propiciada pelo Centro Espírita
dentro de sua organização e também para fora desta.
O Centro Espírita que se isola da sociedade não participando das
problemáticas desta, tende a se distanciar dos interesses da mesma, pois não
estará colocando o Espiritismo ao nível das aspirações humanas.
São de dois tipos a forma de participação na sociedade: interior e exterior.
Comecemos pela forma interior.
A programação de estudo doutrinário do Centro Espírita não pode obedecer a
padrões rígidos, inflexíveis e mesmo cegos, de abordagem das obras da
Codificação. “O Livro dos Espíritos” é dinâmico e contém temas que se prestam à
análise das vicissitudes do homem na Terra. Sua leitura deve ser feita com duplo
interesse: conhecer o Espiritismo e esclarecer o homem quanto ao uso que faz de
sua potencialidade intelectual e moral. Em outras palavras: o estudo das obras
da Codificação deve estar associado à discussão dos temas cotidianos da vida,
para que o freqüentador do Centro Espírita saiba colocar em prática a doutrina
que aprende. É por isso que Kardec se preocupou em agrupar perguntas e respostas
por temas, e nos coloca tanto diante do “aborto” quanto do “conhece-te a ti
mesmo”. Preparar o homem para bem viver na sociedade é tarefa do núcleo
espírita.
Exteriormente temos a ação espírita nos setores da assistência social, do
evangelho no lar, da aplicação domiciliar do passe, da utilização das artes e
mesmo das realizações beneficentes para angariação de fundo financeiro. Todas
essas demonstrações da prática espírita envolvem o elemento social. São feitas
com a participação do homem no seio da sociedade. Destinam-se a estar com ele no
que ele é, onde está e com suas necessidades imediatas. As atividades externas
do Centro Espírita devem se adequar ao público que irá atingir, o que requer
planejamento, organização e trabalhadores conscientes, o que só poderá ocorrer
se estes forem bem assistidos no interior do Centro Espírita.
Quando visitamos alguém para aplicação do passe ou pequena leitura
evangélica, estamos colocando em prática, vivenciando, o aprendizado espírita
que o Centro nos forneceu. Estamos agindo na sociedade e sendo porta-voz do
Espiritismo através da ação mais contundente que existe: o próprio exemplo.
Nossa conduta, muito além que nossas palavras, dirá da nossa convicção e
retratará a doutrina e a instituição que representa.
O Centro Espírita não é uma igreja parada no tempo. É um lar/escola dinâmico
que visa carinho e afeto, estudo e trabalho, sempre preocupado em colocar o
Espiritismo ao alcance de seus freqüentadores e respondendo às dúvidas e
observações as mais diversas, tendo por base a codificação kardeciana. Não lhe
cabe agir como instrumento político, mas cabe-lhe fazer a política da educação
espiritual das almas que lhe comungam os ideais.
Temos visto Centros Espíritas insistirem em se colocar numa atuação
intra-muros, desvinculados até mesmo da rua em que se localizam, completamente
alheios à comunidade que os envolve. Erro fatal para divulgação da própria
Doutrina Espírita, que dirá para o esclarecimento do ser humano!
As reuniões públicas de estudo, como o nome já indica, são feitas para a
população, para todos os interessados, seja qual for o motivo que os levou ao
Centro, pois procuram o Espiritismo e devem ser atendidos. Entretanto, como pode
o público acorrer ao Centro Espírita se não é informado do que neste acontece?
Uma placa na entrada com os dias e horários das atividades. Uma recepção com
distribuição de mensagens avulsas, jornais e revistas espíritas, além de prestar
todas as informações aos visitantes. Um boletim informativo que possa ser
distribuído gratuitamente. Um cartaz nas associações de moradores da localidade.
Pequenos exemplos de serviços que podem ser executados para a boa integração do
Centro Espírita na sociedade, além de outro serviço muito importante: o exemplo,
o ir em socorro ao próximo, não esperando apenas que este venha à procura.
A falta de renovação dos trabalhadores do Centro Espírita, quando não
ocasionada por distorções administrativas, pode ter sua origem no isolacionismo
em que se acomoda o núcleo representante da Doutrina, fazendo um Espiritismo
fechado em quatro paredes.
Que um grupo familiar não se renove é compreensível, afinal trata-se de um
grupo restrito e de caráter domiciliar, mas um Centro Espírita deve obedecer a
uma organização ativa e participativa, integrada no conhecimento e solução dos
problemas sociais, mesmo que para isso o trabalho tenha de ser de longo curso,
até a conscientização dos que freqüentam as atividades realizadas em seu
interior.
A todo freqüentador deve ser mostrada a diferença existente entre ele e um
trabalhador, pois sentar e ouvir uma palestra e depois tomar o passe, sem nenhum
vínculo de responsabilidade, não o pode categorizar como um trabalhador sincero
do Centro Espírita, que dedica seu tempo, voluntariamente, para a causa que
abraça. Para isso, deve o Centro Espírita permitir a participação de todos os
que o procuram, nos diversos serviços existentes, dando a cada um segundo o seu
conhecimento e experiência.
Assim temos que a integração do Centro Espírita na sociedade é inevitável e
inadiável.
Se o Espiritismo existisse apenas para os desencarnados, o Centro Espírita
não teria razão de existir, pois é de todos os tempos sabido que o intercâmbio
mediúnico não é privilégio de ninguém, podendo ser praticado em qualquer lugar,
embora reconheçamos que o Centro Espírita é o local melhor indicado, pela
seriedade, reconhecimento e estudo que o caracteriza.
O Espiritismo está no mundo para interagir como todo o conhecimento humano, e
o Centro Espírita existe para conviver com toda a sociedade humana.
(Publicado no Dirigente Espírita no 66 de julho/agosto de 2001)