O Mandamento do Amor
José Reis Chaves
“Toda verdade é um paradoxo”. Em muitos casos, o desconhecido autor dessa frase parece ter razão.
O sistema filosófico chamado antropocentrismo é uma doutrina que coloca o homem como sendo o centro do universo, e ensina que Deus teria criado tudo em função do homem. Trata-se, sem dúvida, de um princípio filosófico ingênuo. Aliás, é essa a visão que a criança tem do mundo que a cerca. Ela pensa que tudo foi criado em função dela, para seu deleite.
Mas os adeptos do antropocentrismo talvez nunca tenham imaginado que poderiam encontrar dentro da Bíblia um certo apoio para essa tese, pois nela o amor do ser humano a outro ser humano deve chegar às raias de equiparar-se ao amor para com Deus, quando ela não o destaca mais do que o amor a Deus. E isso, é óbvio, é um paradoxo!
E eis algumas passagens bíblicas sobre o assunto.
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O Segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”(Mateus 22, 37-40). Isso encontra-se também no Velho Testamento. E até aí, tudo bem. Mas fica claro que o nosso amor ao próximo depende de nosso amor a nós mesmos, pois tal como nos amamos, devemos amar o nosso semelhante.
O Nazareno diz em João 13, 34: “Novo Mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.”
Aqui Jesus fala de um novo mandamento, não fazendo nenhuma menção ao amor a Deus. E ainda afirma que devemos amar-nos uns aos outros assim como Ele nos amou. Mas Ele nos amou mais do que Ele amou a si próprio. E pouquíssimos indivíduos já têm evoluído o bastante para tal: São Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Chico Xavier, Irmã Dulce da Bahia e outros, além dos anônimos, sem dúvida, por esse mundo afora.
São Paulo, em l Coríntios 13, 3, ensina que mesmo que ele entregasse seu próprio corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso lhe aproveitaria.
Na sua Primeira Carta, 4, 20, São João afirma que quem diz que ama a Deus, mas não ama seu semelhante, é mentiroso.
O amor ao próximo é, pois, causa do nosso amor a Deus, enquanto que, conseqüentemente, o amor a Deus é efeito da causa do amor ao nosso semelhante. Ora, a causa é mais importante do que o seu efeito!
De tudo isso se infere que é mesmo paradoxal o Mandamento do Amor, mesmo porque o próprio amor infinito de Deus para conosco é maior do que o nosso amor finito para com Ele, o que nos torna seres mais amados do que Ele próprio!
Autor de “A Face Oculta das Religiões” (Ed. Martin Claret), entre outras obras. E-mail: escritorchaves@ig.com.br