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A música e a mediunidade

A música e a mediunidade

Vê-se, através destes fatos narrados, e como as lições do Esteta afirmam, que
o poder das vibrações sonoras revela-se sob mil formas. À medida que o homem vai
penetrando no conhecimento do universo e de sua estrutura íntima, a lei que o
rege, que é a da harmonia musical, aparece-lhe em seu princípio assim como em
seus maravilhosos efeitos. É através dela que é edificada e perpetuada toda a
arquitetura dos mundos, todas as formas da vida universal. Podemos perceber isto
através de uma simples experiência. Não é curioso, por exemplo, seguir sobre uma
placa de vidro ou de metal salpicada de areia, e posta em contato com um
instrumento de corda, as formas geométricas, os delicados e complicados desenhos
que resultam de cada nota e de cada acorde?

No estudo da arte não nos devemos deixar desgostar por causa de uma aridez
aparente e superficial. O exame atento, a firme análise de todo tema estético,
revela-nos atrativos insuspeitáveis e contribui para nossa iniciação à lei geral
do belo. Pode-se comparar esse exercício mental à escalada de uma montanha de
aspecto rude e íngreme, mas onde cada sinuosidade de terreno contém maravilhas
ocultas e de cujo altaneiro cume descobrimos o conjunto harmônico das coisas que
se descortinam ao nosso olhar.

Todo homem pode e deve interessar-se por essa questão, pois ela reserva
alegrias intelectuais bastante superiores a tudo o que os falsos prazeres lhe
dão.

O mais humilde operário possui em seu pensamento uma possível via em direção
à compreensão do belo, e lá encontrará recursos sempre novos para o
aperfeiçoamento de sua própria obra. A arte da profissão é uma preparação para
uma arte superior. Cada um trabalha um tipo particular de beleza, porém dentro
de sua finalidade de ascensão todas as almas desabrocham numa radiosa concepção
da universal e eterna beleza.

A dissociação da matéria, o jogo das forças intra-atômicas fazem nasceu uma
nova ciência que se desenvolvendo abre para o espírito humano mais amplas
perspectivas sobre a obra do cosmo.

Reconhecer-se-á em breve o misterioso laço que une o pensamento, a vontade, à
vibração, e que faz desta o agente daquelas a fim de se constituírem as formas
inumeráveis que povoam a imensidão.

Em resumo, o som, o ritmo e a harmonia são forças criadoras. Se pudéssemos
calcular o poder das vibrações sonoras, medir sua ação sobre a matéria fluídica,
seu modo de agrupar os turbilhões de átomos, penetraríamos em um dos segredos da
energia espiritual.

No entanto, ao menos é preciso que observemos, na experiência que acabamos de
citar, as figuras geométricas traçadas pela voz humana ou pelo arco de um
violino sobre a placa de vidro recoberta por areia fina, para compreendermos,
por comparação, como o pensamento divino, que é a vibração mestra e a suprema
harmonia, pode agir sobre todos os planos da substância e construir as colossais
formas das nebulosas, dos sóis, das esferas, e fixar-lhes a trajetória através
dos espaços.

O espetáculo da vida universal mostra-nos por toda parte o esforço da
inteligência para conquistar e realizar o belo. Do fundo do abismo da vida o ser
aspira e sobe em direção ao infinito das concepções estéticas, à ciência divina,
à perfeição eterna, onde reina a beleza perfeita. O esplendor do universo revela
a inteligência divina, assim como a beleza das obras de arte terrestres revela a
inteligência humana!

(do capítulo 6 do livro O espiritismo na arte)