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O Porquê da Vida

O Porquê da Vida

O mundo invisível não é em realidade senão o prolongamento do mundo visível.
Além dos limites traçados por nossos sentidos, há formas de matéria e de vida
das quais a ciência cada vez mais admite a possibilidade, depois que a
descoberta da matéria radiante, a aplicação dos raios X, os trabalhos de Hertz
sobre a telegrafia sem fio, de Lockyer sobre as nebulosas, aqueles de Becquerel,
Curie e de Lebon sobre a radioatividade dos corpos, lhe abriram todo um domínio
ignorado da natureza.

Os fatos espíritas, como se vê, longe de serem desprezíveis, constituem umas
das maiores revoluções intelectuais e morais que se tem produzido na história do
globo. Eles são o mais sério argumento que se pode opor ao materialismo. A
certeza de viver do lado de lá do túmulo, na plenitude de nossas faculdades e de
nossa consciência, faz perder o temor da morte. O conhecimento das situações
felizes ou penosas, vividas pelos Espíritos por suas boas ou más ações, tem uma
poderosa ação moral. A perspectiva dos progressos infinitos, das conquistas
intelectuais, que esperam todos os seres e os conduz para destinos comuns, pode,
por si só, aproximar os homens, unindo-os por laços fraternais. A doutrina do
Espiritismo experimental é a única filosofia positiva que responde a todas as
necessidades morais da humanidade.

IX – RESUMO E CONCLUSÃO

Em resumo, os princípios que decorrem do Espiritismo, princípios ensinados
pelos Espíritos desencarnados – em muito melhor posição do que nós para
discernir a verdade – são os seguintes:

Existência de Deus, inteligência diretriz, lei vivente, alma do universo,
unidade suprema para onde se destinam e harmonizam todos os relacionamentos,
foco imenso das perfeições de onde se irradiam e expandem ao infinito todas as
potências morais
: Justiça, Sabedoria e Amor!

Imortalidade da alma, essência espiritual que encerra, no estado de germe,
todas as faculdades, todos os poderes; que está destinada a desenvolvê-los pelo
seu trabalho, encarnando sobre mundos materiais, elevando-se por existências
sucessivas e inumeráveis, de degrau em degrau, até a perfeição.

Comunicação dos vivos e com os mortos; ação recíproca de uns sobre os
outros: permanência das relações entre os dois mundos; solidariedade de todos os
seres, idênticos na sua origem e nos seus fins, diferentes somente pela sua
situação transitória: uns no estado de Espírito, livres no espaço, os outros,
revestidos de um envelope perecível, mas passando alternadamente de um estado ao
outro, a morte não sendo senão um período transitório entre duas existências
terrestres.

Progresso infinito, Justiça eterna, sanção moral; a alma, tendo liberdade
nos seus atos é responsável, cria para si mesma seu porvir; segundo seu estado
normal, os fluidos grosseiros ou sutis que compõem o perispírito, e que têm sido
atraídos para ela por seus hábitos e tendências; esses fluidos, submetidos à lei
universal de atração e de gravidade, a arrastam para os globos inferiores, para
os mundos de dor, onde ela sofre, expia, resgata o passado, ou para onde a
matéria tem menos supremacia, onde reinam a harmonia e a felicidade. A alma, na
sua vida superior e perfeita, colabora com Deus, forma os mundos, dirige suas
evoluções, vigia o progresso das humanidades, o cumprimento das leis eternas.

Tais são os ensinamentos que o Espiritismo experimental nos traz. Não são
outros que os do Cristianismo primitivo, desapegado das formas de culto
material, despojado dos dogmas, das falsas interpretações, dos erros, sob os
quais o homem tem ocultado, mantido irreconhecível, a filosofia do Cristo.

A nova doutrina, revelando a existência de um mundo espiritual invisível, tão
real e tão vivo quanto o nosso, abre horizontes ao pensamento humano diante dos
quais hesita ainda, interdito, ofuscado. Mas as relações que esta revelação
facilita entre os mortos e nós, as consolações, os encorajamentos que daí
decorrem, a certeza de encontrar todos aqueles que acreditávamos perdidos para
sempre, de receber deles os supremos ensinamentos, tudo isso constitui um
conjunto de forças, de recursos morais que o homem não poderia desconhecer ou
desdenhar sem perigo para ele.

Todavia, malgrado o alto valor desta doutrina, o homem deste século,
profundamente cético, embotado com seus preconceitos, quase não teria dela feito
sentido, se fatos não tivessem vindo apoiá-la. Para atingir o espírito humano,
superficial, indiferente, foram necessárias as manifestações materiais,
ruidosas. É por isso que, em 1850 e por diversos meios, móveis de todas as
formas se balançavam, paredes retiniam golpes sonoros, corpos pesados se
deslocavam contrariamente às leis físicas conhecidas; mas, após esta primeira
fase grosseira, os fenômenos espíritas se tornaram cada vez mais inteligentes.
Os fatos de ordem psíquica (do grego psuckè, alma) sucederam-se às
manifestações físicas, médiuns, escritores, oradores, sonâmbulos, curandeiros,
se revelaram, recebendo, mecânica ou intuitivamente, inspirações cuja causa
estava fora deles, aparições visíveis e tangíveis se produziam, e a existência
dos Espíritos tornou-se incontestável para todos os observadores a quem não
fascinava mais a opção tomada.

Assim apareceu para a humanidade a nova crença; apoiada de um lado sobre as
tradições do passado, sobre a universalidade de princípios que se encontram na
fonte de todas as religiões e da maioria das filosofias, de outro sobre
inumeráveis testemunhos psicológicos, sobre fatos observados em todos os países
por homens de todas as condições.

Coisa notável, esta ciência, esta filosofia nova, simples e acessível a
todos, livre de todo aparato ou forma de culto, esta ciência chega na hora em
que os costumes se corrompem, os laços sociais se relaxam; em que o velho mundo
erra à deriva, sem freio, sem ideal, sem lei moral, como um navio privado de
governo flutuando ao sabor dos ventos.

Todo homem que observa e reflete não pode dissimular que a sociedade moderna
atravessa uma crise ameaçadora. Uma profunda decomposição a corrói surdamente. O
ódio que divide as classes, o engodo do lucro, o desejo dos gozos, tornam-se a
cada dia mais rudes, mais ardentes. Quer-se possuir a todo preço. Todos os meios
são bons para adquirir o bem-estar, a fortuna, único objetivo que se julga digno
da vida. Tais aspirações não podem produzir senão duas conseqüências: o egoísmo
impiedoso entre os felizes, o desespero e a revolta entre os infortunados. A
situação dos pequenos, dos humildes é dolorosa, e muito freqüentemente,
mergulhados em uma noite moral onde nenhuma consolação ilumina, são levados a
procurar no suicídio o fim de seus males.

O espetáculo das desigualdades sociais, os sofrimentos de uns, em oposição às
aparentes alegrias e a indiferença de outros, atiçam entre os deserdados
ardentes cobiças. Daí então a reivindicação de bens materiais se acentua. Basta
que as massas inferiorizadas se levantem, e o mundo estará perto de ser abalado
por atrozes convulsões.

A ciência é impotente para conjurar o mal, recuperar caracteres, curar
ferimentos dos combates da vida. Na realidade, em nossa época, quase que só
existem ciências especializadas em certos aspectos da natureza, reunindo fatos,
trazendo ao espírito humano uma soma de conhecimentos que lhe é própria. Foi
assim que as ciências físicas tornaram-se prodigiosamente enriquecidas após meio
século, mas a essas construções esparsas faltam o laço de união e de harmonia. A
ciência por excelência, aquela que da série de fatos remonta à causa que os
produziram, que deve religar, unir essas diversas ciências em uma grande e
magnífica síntese, fazendo brotar uma concepção geral da vida, fixando nossos
destinos, destacando uma lei moral, uma base de melhoria social, esta ciência
universal, indispensável, ainda não existe.

Se as religiões agonizam, se a fé vigilante morreu, se a ciência está
impotente para fornecer ao homem o ideal necessário, para regulamentar sua
marcha e melhorar as sociedades, ficaremos todos, então, sem esperança?

Não, porque uma doutrina de paz, fraternidade e progresso se eleva sobre o
mundo conturbado, vindo apaziguar os ódios selvagens, acalmar as paixões,
ensinar a todos a solidariedade, o perdão e a bondade.

Ela oferece à ciência esta síntese, aguardada, sem a qual tudo permaneceria
para sempre estéril. Triunfa da morte e, para adiante desta vida de provas e de
males, abre ao espírito as perspectivas radiosas de um progresso sem limites na
imortalidade.

Diz a todos: Venham a mim, eu os aquecerei, os consolarei, tornarei suas
vidas mais doces, a coragem e a paciência mais fáceis, as provas mais
suportáveis. Aclararei com uma poderosa razão seus obscuros e tortuosos
caminhos. Àqueles que sofrem darei a esperança; aos que buscam, darei a luz ;
aos que duvidam e desesperam, darei a certeza e a fé.

Diz ainda: « Sejam irmãos, ajudem-se, socorram-se em sua marcha coletiva.
Seus objetivos estão além desta vida material e transitória; será nesse porvir
espiritual que vocês se reunirão como membros de uma só família, ao abrigo das
preocupações, das necessidades e dos inúmeros males. Mereçam-no então por seus
esforços e seus trabalhos! »

A humanidade se erguerá grande e forte no dia em que esta doutrina, fonte
infinita de consolações, for compreendida e aceita. Nesse dia, a inveja e a
raiva se extinguirão no coração dos pequeninos; o poderoso, compreendendo que
tem sido fraco, e que pode redimir-se, que sua riqueza é apenas um empréstimo do
alto, tornar-se-á mais caridoso e mais doce com seus irmãos infelizes. A
ciência, concluída, fecundada pela nova filosofia, verá cair diante dela as
superstições e as trevas. Não mais ateus e céticos. Uma fé simples, grande,
fraterna, se estenderá sobre as nações, fazendo cessar seus ressentimentos e
suas rivalidades profundas. A Terra, liberta dos flagelos que a devoram,
prosseguirá sua ascensão moral, elevar-se-á um degrau na escala dos mundos.


(1) Após alguns anos, uma certa escola se esforçou em substituir o dualismo
da matéria e do espírito pela teoria da unidade de substância. Para ela a
matéria e o espírito são estados diversos de uma só e mesma substância que, na
sua evolução eterna, se afina, se depura, tornando-se inteligente e consciente.
Sem abordar aqui a questão de fundo, que necessita de longos desenvolvimentos, é
preciso reconhecer que a idéia que até agora se fazia da matéria estava errada.
Graças às descobertas de Crookes, Becquerel, Curie, Lebon, a matéria nos aparece
hoje sob estados muito sutis e, nesses estados, reveste-se de propriedades
infinitamente variadas. Sua flexibilidade é extrema. A um certo grau de
rarefação, transforma-se em energia. G. Lebon pode dizer, com aparente razão,
que a matéria não é mais que a energia condensada e a energia, a matéria
dissociada. Quanto a deduzir desses fatos que a energia inteligente, em um
momento dado de sua evolução, torna-se consciente, é ainda uma hipótese. Para
nós, há, entre o ser e o não ser, uma diferença de essência. Por outro lado, o
monismo Haeckelien, recusando ao espírito humano uma vida independente do corpo
e rejeitando toda noção de sobrevivência, termina logicamente nas mesmas
conseqüências que o materialismo positivista e incorre nas mesmas críticas.

(2) Salomon de Caus. Engenheiro francês (1576-1626). Devemos considerá-lo
como o verdadeiro inventor da máquina a vapor normal”>.

(3) Harvey Médico inglês (1578-1657). Descobriu a circulação do sangue.

(4) Galvani Físico italiano (1737-1798).

(5) Tache: Poeta italiano (1544-1595).

(6) Germe Cardan: matemático, médico e filósofo italiano (1501-1576).


É preciso lembrar que em cada um de nós dormem inúteis e improdutivas,
riquezas infinitas. Daí, nossa indigência aparente, nossa tristeza e, por vezes
mesmo, nosso desgosto pela vida. Mas abra seu coração, deixe descer o raio, o
sopro regenerador, e então uma vida mais intensa e mais bela o despertará. Você
passará a se interessar por milhares de coisas que lhe eram indiferentes, mas
que farão o encanto de seus dias. Sentir-se-á crescer; caminhará na existência
com passos mais firmes e seguros, e sua alma tornar-se-á um templo pleno de luz,
de esplendor e de harmonia.

Léon Denis

Extraído do livro «Joana d’Arc médium».


O Espiritismo expandiu-se, invadiu o mundo. De início menosprezado,
amaldiçoado, acabou por atrair a atenção e despertar interesse. Todos os que não
se conservaram nas raias dos preconceitos e da rotina e que o abordaram com
sinceridade, foram por ele conquistados. Agora, penetra por toda parte, senta-se
em todas as mesas, toma lugar em todos os lares. A seus apelos, as velhas
fortalezas seculares, a Ciência e a Igreja, até aqui, por si mesmas,
herméticamente fechadas, abaixam suas muralhas, entreabrindo seus resultados.
Logo se imporá como um mestre.

Léon Denis

Extraído do livro «No Invisível».

 

Edição eletrônica original :
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