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O Que Nos Pertence?

O Que Nos Pertence?

Não é de hoje que se observa a luta titânica do ser humano para reunir bens e
valores, móveis, imóveis, semoventes, jóias, dinheiro, obras de arte etc., com a
finalidade de garantir-se e, particularmente, com o objetivo de garantir o seu
futuro.

Importante frisar, desde logo, que a busca do bem-estar é absolutamente
legítima, se legítimos e morais forem os meios empregados na sua obtenção.

Convém não perder de vista, entretanto, que não é preciso muito para ter-se
uma vida boa e digna.

Com efeito, engana-se quem imagina ser proprietário, verdadeiramente, dos
bens materiais que tenha amealhado.

Trata-se de um mordomo, de um administrador desses bens, cabendo-lhe a tarefa
de sua preservação, que será obrigatoriamente temporária, uma vez que, por
ocasião de sua morte física, de sua desencarnação, tais bens serão transferidos
a seus herdeiros ou sucessores.

Seus herdeiros ou sucessores, por sua vez, recebendo os bens materiais
deixados, passam a ser, também, seus mordomos, seus administradores, igualmente
em caráter transitório, eis que, por ocasião da morte de seus corpos físicos,
verificar-se-á o mesmo procedimento, isto é, os bens materiais serão
transferidos, por igual, aos seus herdeiros ou sucessores, que, de sua parte,
passam a ser os seus administradores,, os seus mordomos, e assim sucessivamente.

Em outras palavras, em verdade, apenas estamos tomando conta dos bens
materiais integrantes de nosso patrimônio.

Fica muito fácil entender, portanto, que os bens da Terra na Terra ficarão.
Ninguém os levará como parte de sua bagagem para o outro lado da vida, a
verdadeira vida, a vida espiritual, de onde todos proviemos e para onde todos
voltaremos.

O ser humano, uma vez criado, passa a ser imortal, jornadeando pela
Eternidade, vivenciando em uma só vida diversas existências físicas, como a
presente, aprendendo, crescendo, progredindo, corrigindo-se e aperfeiçoando-se,
na busca permanente da perfeição relativa e da felicidade suprema, seu destino
final, que será alcançado em mais ou menos tempo, dependendo do esforço, do
empenho, da disciplina que empregue.

Logo, é de se perguntar: o que, então, verdadeiramente, nos pertence?

Pertencem-nos tão-somente o conhecimento adquirido e as virtudes
conquistadas.

O conhecimento obtido, das ciências, das artes, seja do que for, permanecerá
conosco para sempre e nos proporcionará, cada vez mais, incontáveis
oportunidades de ampliá-lo, uma vez que é cumulativo.

Assim, o conhecimento conquistado passa a fazer parte integrante e
inseparável de cada um de nós, individualmente, e que não se transfere, por mais
que se queira, nem mesmo aos nossos amores.

Também nos pertencem as virtudes que tenhamos conquistado, de que são
exemplos a paciência (verdadeira ciência da paz), o altruísmo, a caridade, a
honestidade, a ética, a humildade, a honradez e, sobretudo, o amor, lei maior da
vida, que constitui o ensinamento máximo do Cristo, modelo e guia da humanidade,
mestre e amigo de todas as horas, consubstanciado na expressão “amar ao
próximo como a si mesmo”
, ou seja, aconselhando que façamos ao próximo
aquilo que gostaríamos que ele nos fizesse, porque quem assim procede estará
amando a Deus sobre todas as coisas.

Não há ladrão que roube o conhecimento que adquirimos e as virtudes que
conquistamos; a traça não os come, a ferrugem não os corrói e a morte de nosso
corpo físico não os transfere a ninguém.

Pertencem-nos, pois, individual, verdadeira e definitivamente!

(Jornal Mundo Espírita de Fevereiro de 1998)