“Eis que o semeador saiu a semear”- Jesus (Mateus, 13:3)
O desemprego é um fantasma que ronda a casa de muitos. Em nosso País vemos a
falta de trabalho criando as dificuldades para muitos. Chefes de famílias,
colocados em firmas sólidas, importantes, com um ganho assegurado, de um momento
para outro vêm tudo a desmoronar. E isto ocorre não só aqui, mas em todo mundo,
inclusive nos países chamados ricos, desenvolvidos.
Para os trabalhadores voluntários, nas instituições beneficentes, serviço não
remunerado naturalmente, ocorre um fenômeno oposto. Sempre falta gente para a
realização das tarefas. Muitos são ocupados. Trabalham o dia todo, às vezes de
um emprego, não sobrando tempo para o trabalho voluntário. Mas há pessoas com
disponibilidade de tempo e que poderiam trabalhas em favor do próximo e não
fazem porque ainda não perceberam o valor desse trabalho, para elas próprias,
para o seu próprio bem. Doando-se em favor do próximo. algumas horas por semana,
certamente, muito ganhariam em realização pessoal, sentindo-se úteis. Ajudando o
semelhante, ajudamos a nós mesmos, porque aprendemos a servir, aprendemos a
amar. E quem ama é feliz. Vemos, ao passar por praças da cidade, e nas esquinas,
senhores talvez aposentados, mas não idosos, aparentemente gozando de boa saúde,
e que ali permanecem horas e horas, conversando futilidades, “matando o tempo”,
como dizem, por não terem algo útil para fazer. E há pessoas, com muito
compromissos, e que arranjam tempo para dedicar algumas horas em favor do
próximo. Um cabeleireiro, nosso conhecido, uma vez por semana, num período do
dia, deixa de atender a clientela em seu estabelecimento, e vai cuidar de
crianças excepcionais, em casa beneficente da cidade. Um amigo nos contou certo
dia, em São Paulo, quando saía de uma Entidade Beneficente, alcançou um senhor
de certa idade que ia na mesma direção. Parou o carro e lhe deu carona,
entabulando conversa. Não se tratava de um assistido,como pensava nosso amigo, e
sim de alguém que ali ia, uma vez por semana, para fazer a contabilidade da
Entidade, como voluntário. Nosso amigo ficou sabendo, no decorrer da conversa,
que aquele senhor, após as tarefas que ali desenvolvia, se dirigia a um
hospital, onde passava o período da tarde, ajudando os enfermeiros a cuidar dos
doentes.Nosso amigo aplaudiu sua dedicação, dizendo-lhe que ele vivia os
princípios espíritas, servindo o próximo. Porém, para sua surpresa, o bem
samaritano lhe informou que não era espírita. Admirava o trabalho caritativo dos
espíritas, mas pertencia a outra escola religiosa. Sentia prazer em ser útil, e
onde encontrava oportunidade de trabalho, procurava atender. Temos muito que
aprender com pessoas assim. Já compreenderam o valor do trabalho no bem. Não
estão preocupadas com teorias, nem em aparecer. não gastam tempo com conversas
inúteis.
O trabalho voluntário deve ser realizado com amor e responsabilidade. No
momento em que o voluntário assume o compromisso de comparecer em tais dias e
horas é necessário honrar o compromisso, com disciplina e dedicação. Não é
porque o serviço não é remunerado que pode não ser levado a sério. não se deve
faltar, chegar atrasado, enfim por qualquer motivo deixar de comparecer, o que
acaba comprometendo a execução das tarefas. Por esse motivo, há instituições
beneficentes que preferem não trabalhar com voluntários.
O compromisso é o mesmo. O voluntário não recebe pagamento em dinheiro, mas
não é por isso que o dever pode deixar de ser cumprido. Não há a figura do
patrão material, mas os mentores espirituais nos observam e avaliam nosso
desempenho. O compromisso, seja para um trabalho voluntário, seja na realização
de tarefas administrativas, na divulgação, ou na participação das atividades
doutrinárias da casa precisa ser tratado com a mesma responsabilidade, e até com
mais seriedade, que dedicamos aos compromissos materiais.
Emmanuel, analisando o versículo do evangelho citado de início (lição 64, do
livro “Fonte Viva”), lembra que Jesus “não nos fala que o semeador deve agir,
através de contrato com terceiras pessoas, e sim que ele mesmo saiu a semear”.
Necessária a participação direta no trabalho. E fazendo que aprendemos.Enquanto
ficamos na teoria, na conversa, nada acontece. Não ocorrem mudanças em nosso
íntimo. Precisamos encontrar o nosso lugar de trabalho. Não ficarmos só
criticando o que os outros fazem. Necessário abrir mão de nossos pontos de vista
pa- ra nos devotarmos ao serviço do próximo, diz Emmanuel.
Conta-se que Gandhi foi procurado por dois Homens que lhe manifestaram o
desejo de aprender com ele. Que riam se iniciar na ciência do Espírito,
compreender as Leis Divinas. O missionário os acolheu, disposto a atender-lhes.
No primeiro dia mandou-os ajudar na limpeza da casa, nos servi;os domésticos. No
dia seguinte deu- lhes tarefas semelhantes. No terceiro dia os candidatos á
iniciação espiritual procuraram o mestre e indagaram: Quando vai começar o
curso? e Gandhi respondeu: já começou há três dias, desde que vocês chegaram.
Semear, como fala o Evangelho, não é só ensinar. Semeamos mais pelo atos, por
atitudes, do que pelas palavras. O que fazemos tem uma força persuasiva muito
maior do que as palavras. A diferença entre Jesus e outros mestres que vieram
antes e depois é exatamente esta: Jesus só ensinou, mas sobretudo viveu o que
ensinou. Conclui Emmanuel, na lição citada: “Segundo observamos, o semeador do
Céu ausentou-se da grandeza a que se acolhe e veio até nós, espalhando as
claridades da revelação e aumentando-nos a visão e o discernimento. Humilhou-se
para que nos exaltássemos e confundiu-se com a sombra a fim de que a nossa luz
pudesse brilhar, embora lhe fosse fácil fazer-se substituído por milhões de
mensageiros, se desejasse. Afastemo-nos, pois, das nossas inibições e aprendamos
com o Cristo a “sair para semear”.
“José Argemiro da Silveira – (de Ribeirão Preto, SP) “