Parábola Acerca da Previdência
“Qual de vós, querendo edificar uma torre, não se põe primeiro a fazer conta
dos gastos que são necessários, para ver se tem com que acabá-la? Com isso evita
expor-se a que, depois de haver assentado os alicerces, e não a podendo terminar,
todos os que a virem comecem a fazer zombaria dele, dizendo: Este homem principiou
o edifício, mas não o pôde concluir. Ou que rei há que, estando para sair em campanha
contra outro rei, não tome primeiro muito pensadamente as suas medidas, a ver se
com dez mil homens poderia ir a encontrar-se com o que traz contra ele vinte mil?
De outra maneira, ainda quando o outro está longe, enviando sua embaixada, pede-lhe
tratados de paz. Assim, pois, qualquer de vós que não renuncie a tudo quanto possua,
não pode ser meu discípulo. O sal é bom, porém, se o sal perder a força, com que
outra coisa se há de temperar? Ficará sem servir, nem para a terra nem para o monturo,
mas lançar-se-á fora. O que tiver ouvidos de ouvir, ouça”( Lucas, 14:28-35).
Esta parábola encerra uma advertência muito séria a todos quantos pretendam iniciar-se
no discipulado de Jesus.
A finalidade de sua estada entre nós, e pela qual continua ainda a trabalhar,
é a redenção humana, é o estabelecimento do “reino de Deus” em cada coração.
Malgrado, porém, a sublimidade de seu ministério, sua vida terrena foi uma sucessão
de acerbos sofrimentos físicos e morais. Suportou contínuas perseguições daqueles
cujos interesses mesquinhos sua doutrina contrariava; recebeu insultos, açoites
e flagelações; padeceu a humilhação de carregar a própria cruz em que seria pregado
entre malfeitores; e, mais que isso, sofreu a incredulidade de seus parentes, que
não confiavam nele; a pusilanimidade de seus seguidores, que fugiram, espavoridos,
quando a oposição se fez mais furiosa; a traição de Judas; a negação de Pedro e
a rejeição daquele mesmo povo que, uma semana antes, o aclamara festivamente, querendo
fazê-lo seu rei!
Quem se disponha, em nossos dias, a coadjuvá-lo nesse trabalho e colocar-se a
serviço do ideal cristão, tem que arrostar, a seu turno, provas igualmente muito
difíceis: a risota escarninha dos indiferentes, a incompreensão da família. os ataques
dos que se arvoram em senhores da Religião, e, acima disso tudo, o fascínio das
posses materiais e as mil e uma formas de convite para deixar o caminho árduo e
estreito da honradez, da virtude, da moralidade enfim, para tomar a estrada larga
e deleitosa da corrupção e dos prazeres mundanos.
Destarte, os principais requisitos a serem adquiridos por aqueles que aspiram
a esse apostolado são a caridade no sentido mais amplo e a disposição de servir
à Humanidade, tal qual ‘ ela é, com suas misérias e torpezas, sem se deixar envolver
pelas seduções do mundo.
Achamo-nos muito longe, porém, de tal qualificação; portanto, não nos imponhamos
sacrifícios superiores às nossas forças, nem assumamos compromissos que não possamos
cumprir. Procuremos, antes realizar apenas as tarefas que possamos levar a cabo
com êxito. Se, superestimando nossas possibilidades, metermos ombros a missões elevadas,
e falharmos, desmoralizamo-nos e de servimos o Mestre, pois nosso fracasso fará
que aumente a desconfiança e o pessimismo no mundo.
“Renunciar a tudo quanto se possua”, condição sem a qual não se pode ser verdadeiro
discípulo de Jesus, não significa, certamente, pôr fora os nossos bens, porquanto,
se assim o fizéssemos, teríamos que recorrer à ajuda de outrem; o que isso quer
dizer é que não devemos ter por eles um apego tal que nos impeça de dar-lhes a justa
aplicação para que nos foram confiados.
Os que se devotam à evangelização dos povos, procuram praticar o bem e se empenham
em proporcionar alívio a todos os que sofrem são “o sal da terra” (Mateus, 5:13);
todavia, se se deixarem contaminar pelo meio ambiente, e passarem a cuidar apenas
de si mesmos e de seus interesses pessoais, assemelhar-se-ão ao sal que perde a
força, tornando-se insípido, e para nada mais se aproveita.
Impossível servir a dois senhores. . .