O século atual tem sido considerado o século da comunicação ou da informação. Nunca se falou com tanta gente, de tão variadas regiões e em tão pouco espaço de tempo. A tecnologia vem pesquisando formas cada vez mais avançadas de facilitar o processo de comunicação. De acordo com Hoyos Guevara (2007) em uma sociedade cada vez mais digitalizada, parece que alimentar o cérebro de informação passa a ser tão natural como alimentar o físico para desempenhar as funções fisiológicas.
No entanto, há uma forma de comunicação tão antiga quanto o próprio homem e que necessita ser investigada e compreendida, a comunicação via pensamento. Apesar de toda a tecnologia atual, o homem ainda não compreende como se forma o pensamento, nem tampouco admite que a comunicação mental seja possível. Falta à ciência, instrumentos para averiguar esse processo.
O neurocientista Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores nessa área e revelou que ainda não se conseguiu chegar a uma abrangente teoria do pensar. Segundo esse autor, ainda se atribui ao neurônio, como célula do sistema nervoso, a responsabilidade sobre o processamento de sinais de comunicação em todo o sistema, mas ainda assim não consegue, por si só, emitir sequer um pensamento ou mesmo gerar um comportamento.
Para a ciência materialista, reducionista e cartesiana, as conexões neurais (sinapses) seriam as responsáveis pela formação do pensamento. Entretanto, em livros didáticos de fisiologia médica, autores como Arthur Guyton e outros, admitem não ser possível ainda conhecer os mecanismos neurais do pensamento e da memória.
Sob o ponto de vista espiritual, o Espiritismo, codificado por Allan Kardec há 160 anos vem apresentar elementos científicos que contribuem para essa questão. Hoje já existem vários pesquisadores nessa área, com a edição de vários livros sobre o assunto.
Pesquisadores espíritas como Hermínio Miranda, não acreditam que o pensamento seja gerado no cérebro e pelo cérebro. Para ele o pensamento apenas percorre os circuitos cerebrais, como um reflexo, não como origem.
Diante da presente discussão o trabalho propõe a seguinte questão: a partir do estudo do pensamento, como utilizá-lo de forma eficaz em um trabalho espírita, em especial o trabalho mediúnico?
A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, em livros que abordam pesquisas da ciência tradicional e da ciência espírita de autores como Miguel Nicolelis, Núbor Facure, Hermínio Miranda, Allan Kardec, dentre outros.
O objetivo do trabalho é apresentar a formação do pensamento no indivíduo, sob a perspectiva científica e espiritual, bem como a forma de qualificá-lo para que se torne uma boa via de conexão com outros pensamentos, tornando o trabalho espírita mais profícuo.
O PENSAMENTO SEGUNDO A CIÊNCIA
“Penso, logo existo” disse Descartes em seu livro Discurso do Método, publicado em 1637, dando início ao racionalismo científico que tem, desde então, influenciado gerações e gerações no mundo ocidental, colocando a razão humana como única forma de existência. Uma visão reducionista que, por mais pesquisa se realize, ainda não consegue dar todas as respostas aos fenômenos da natureza, mormente no que se refere à vida.
Segundo Nicolelis (2011) os avanços científicos e clínicos obtidos durante o século passado, aplicando a visão reducionista, não conseguiram atingir o mais cobiçado de todos os objetivos da neurociência: uma abrangente teoria do pensar. Para ele, enquanto o neurônio individual constitui a unidade anatômica como elemento básico de processamento de sinais do sistema nervoso, ele não é capaz, por si só, de gerar nenhum comportamento e, em última análise, nem sequer um pensamento.
Toda essa discussão tem origem em 1810 quando Gall publica sua Anatomia e fisiologia do sistema nervoso em geral e do cérebro em especial. Nesse momento surge, efetivamente, a ciência do cérebro. Ele atribui assim ao encéfalo, mais particularmente aos hemisférios cerebrais, a sede de todas as faculdades intelectuais e morais.
Os livros acadêmicos que se utilizam da pesquisa científica moderna apresentam dificuldade em discutir o fenômeno da consciência, dos pensamentos e da aprendizagem, porque, ainda não é possível conhecer os mecanismos neurais do pensamento e da memória (GUYTON & HALL, 2002). Como ciência de investigação objetiva, as evidências encontradas apontam que a destruição de grandes porções do córtex cerebral não impede a pessoa de ter pensamentos, mas reduz a profundidade dos pensamentos e, também, o grau de percepção do ambiente.
Segundo esses autores, o pensamento é a consequência de um ‘padrão’ de estimulação de muitas partes do sistema nervoso ao mesmo tempo e com uma sequência definida, provavelmente envolvendo de modo mais importante o córtex, o tálamo, o sistema límbico e a formação reticular superior do tronco encefálico.
Jonhson (1994) explica que o cérebro tem sido comparado a um computador. Cada neurônio recebe impulsos elétricos através dos dendritos, cujas milhares de ramificações minúsculas levam sinais para dentro do corpo da célula. Se os sinais excitatórios excederem os inibitórios, o neurônio é estimulado, enviando seu próprio impulso através do prolongamento chamado axônio. Este alimenta, através de junções chamadas sinapses, os dendritos de outras células. Um simples neurônio pode receber sinais de milhares de outros neurônios; seu axônio pode se ramificar repetidamente, enviando sinais para mais outros milhares.
Segundo esse autor, o que se sabe é que o cérebro quando exposto a um novo acontecimento, um único padrão de neurônio é ativado de algum modo. Dentro da vasta rede de células do cérebro, uma constelação é estimulada. Considerada sua unidade anatomofisiológica, estima-se que no cérebro humano exista aproximadamente 15 bilhões destas células, responsáveis por todas as funções do sistema através de trilhões de sinapses.
Miranda (2010) não acredita que o pensamento seja gerado no cérebro e pelo cérebro. Para ele o pensamento apenas percorre seus circuitos a velocidade ultra luminosas, praticamente instantâneas. Ele afirma que o cérebro não trabalha com substâncias materiais e sim com impulsos de energia, embora possa comandar a produção de substâncias em diferentes partes do organismo.
No entanto, embora as pesquisas realizadas pela ciência caminhem no sentido de relacionar o pensamento ao funcionamento dos neurônios, no cérebro, não há ainda evidências suficientes para se comprovar que essa seja a sua origem.
O QUE DIZ O ESPIRITISMO
Denis (2012) ressalta que o pensamento se exterioriza por radiações em harmonia com a sua própria natureza. Que adquirem maior potência e brilho à medida em que essas radiações são mais elevadas.
Ele destaca também que quando um Espírito deseja se comunicar com um encarnado, ele aciona, por suas forças intuitivas, o aparelho vibratório que nele existe. Havendo equilíbrio nos fenômenos a comunhão dos pensamentos será realizada. O pensamento do Espírito, antes de penetrar o cérebro do médium, contorna-o, e, somente quando encontra um ponto vulnerável, é que faz vibrar suas células.
Para Franco (2015) o pensamento não procede do cérebro, sua função é a de registrá-lo e externá-lo. O pensamento é a exteriorização da mente, que independe da matéria e se origina no Espírito. O Espírito expressa o pensamento em todas as direções e utiliza-se do cérebro para comunicar suas ideias com as outras pessoas.
Cerqueira Filho (2010) diz que o pensamento é a estrutura profunda, originado na mente do Espírito, decodificado de uma forma superficial, por meio verbal, que é a mensagem, as palavras usadas para decodificar o pensamento. A energia mental é um atributo do Espírito que, no entanto, necessita do cérebro para se manifestar.
Schubert (2010) explica que, quando se pensa são emitidas vibrações que traduzem os desejos daquele que pensa, tendências e impulsos, vibrações que entram em sintonia com outros que se encontram na mesma faixa. Isso se dá porque os seres humanos encontram-se imersos num imenso oceano de pensamentos e vibrações, ao qual dá-se nome de psicosfera do planeta.
No livro Entre a Terra e o Céu (FEB, 2015) há uma explicação espiritual de que o corpo do Espírito é constituído de matéria rarefeita, sendo regido pelos centros de força que, vibrando em sintonia uns com os outros, com o influxo da mente, criam um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em um circuito fechado. Assim sendo, cada ser vibra em determinada onda, e, dependendo da mente, maior ou menor será o influxo vibratório do pensamento. Esse influxo está sempre de acordo com as experiências adquiridas e arquivadas no Espírito.
Pires (1995) conceitua mente como um centro espiritual de controle e comunicação, que se manifesta através do cérebro. As ideias e sentimentos são permutadas com pessoas que vivem juntas e com espíritos afins. Ele cita a descoberta da antimatéria e dos universos paralelos, que reforçam essa ideia dizendo que o mundo material e o antimaterial se interpenetram.
Em se tratando de comunicação mediúnica o autor afirma que as vibrações psíquicas do Espírito, irradiadas do seu corpo energético, atingem o corpo energético (períspirito) do médium, estabelecendo-se a empatia entre ambos. Essa indução acontece de forma tão intensa que os pensamentos e as emoções do Espírito refletem-se no comportamento mediúnico.
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO EM UM TRABALHO MEDIÚNICO
Em O Livro dos Espíritos, capítulo IX, de acordo com as informações recebidas, Kardec afirma que os Espíritos influem em nossos pensamentos, de tal forma que há situações em que são eles que nos dirigem. Essa afirmação foi obtida dos próprios Espíritos:
Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto, e frequentemente bastante contraditórios. Pois bem; nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas ideias que se combatem. (KARDEC, 2001).
Kardec (1992) faz uma analogia entre as ondas e raios sonoros existentes no ar, com as ondas e raios de pensamento existentes na substância etérea ou nos fluidos, no qual todo o universo encontra-se imerso. Sendo assim, o pensamento seria capaz de criar imagens fluídicas, que se refletem no envoltório do Espírito, como num vidro. Por isso um Espírito pode “ler” o que o outro está pensando, e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo.
Ainda segundo esse autor, os fluidos são influenciados pelo pensamento, podendo estar impregnados de qualidades boas ou más, de acordo com a vibração, pureza ou impureza dos sentimentos. Os fluidos que cercam os maus Espíritos são viciados, enquanto que aqueles que recebem a influência dos bons Espíritos são puros.
“O pensamento do Espírito encarnado age sobre os fluidos espirituais como o dos Espíritos desencarnados; ele se transmite de Espírito a Espírito pela mesma via, e, segundo seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos circundantes”. (KARDEC, 1992, p. 249).
A partir dessa afirmativa é importante enfatizar que os fluidos do ambiente são modificados pela projeção dos pensamentos do Espírito. Sendo assim, numa reunião de pessoas são irradiados pensamentos diversos. Se o conjunto é harmonioso, a impressão é agradável, se é discordante, a impressão é penosa.
Explica Kardec (1989) que cada indivíduo caminha com um grupo de companheiros invisíveis, de acordo com seu caráter, gostos e comportamento. Quando o médium participa de uma reunião mediúnica, leva consigo esses companheiros que influenciam a assembleia e as comunicações. Por isso o autor reforça que uma reunião perfeita seria aquela em que todos os membros, imbuídos de igual amor ao bem e à caridade, conduzissem com eles os bons Espíritos.
“Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são as resultantes de todas as dos seus membros, e formam como um feixe; ora, esse feixe terá tanto mais força quanto for mais homogêneo”. (KARDEC, 1989, p. 392)
Assim, para que uma reunião mediúnica alcance resultados sérios e úteis, deve primar pela homogeneidade de pensamentos. Para isso faz-se mister o recolhimento e a comunhão de pensamentos. Nessas reuniões a afinidade dos pensamentos do médium com o Espírito comunicante é fundamental. Caso contrário, o médium pode alterar as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e inclinações.
Miranda (1998) esclarece que, embora as reuniões mediúnicas contem com a proteção e o amparo de Espíritos de boa vontade, não se pode esquecer da parte que compete aos encarnados. Ele enfatiza que o médium, mais do que qualquer outro, precisa estar vigilante, atento, ligado a algum grupo de trabalho sério, lendo sempre livros doutrinários, observando suas faculdades e se auto corrigindo. Ele é um ser humano ultrassensível, de psicologia complexa, incumbido de interpretar e transmitir o pensamento de um desencarnado, podendo suas faculdades sofrer várias influências.
Xavier e Vieira (1973), sob a inspiração do Espírito André Luiz alertam sobre o fato do desconhecimento, no mundo, da Lei do Campo Mental, que rege a moradia energética do Espírito, possibilitando às criaturas assimilarem as influências afins. Sendo assim, um médium nunca agirá à feição de um autômato, mas como uma consciência limitada às suas possibilidades e às disposições da própria vontade.
Quanto mais o médium se preocupar com o seu aperfeiçoamento e abnegação, com a cultura e o desinteresse, mais lhe serão sutilizados os pensamentos, aguçando as percepções mediúnicas.
Quase toda a exteriorização fisiológica no intercâmbio pertence ao médium, cujos traços característicos assinalam as manifestações. O pensamento do médium age e reage com os pensamentos do Espírito comunicante, irradiando para este seu estado psíquico que varia de acordo com seu estado emocional e de conduta a que se afeiçoe.
No estágio atual em que o ser humano se encontra o seu pensamento sempre capta vibrações subalternas que o assaltam, levando-o à fadiga e à irritação. Para isso forçoso é utilizarem-se do mecanismo da prece, para elevar suas próprias vibrações para planos mais sublimados, a fim de recolherem as ideias transformadoras de Espíritos amigos e benevolentes, que contribuem com a evolução de todos os seres.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a leitura de diferentes autores na área pode-se concluir que ainda são necessárias mais pesquisas sobre o tema, pois, os próprios pesquisadores afirmam que o mecanismo de formação dos pensamentos ainda é desconhecido pela ciência, mesmo com os avanços da neurociência nos últimos tempos.
Enquanto a ciência tradicional continua explicando o pensamento através do funcionamento dos neurônios e suas conexões (ou sinapses) há outros pesquisadores afirmando que o estudo da mente transcende as estruturas tradicionais da biologia, da psicologia e da epistemologia.
Para o espiritismo a mente se origina no Espírito e independe da matéria para se manifestar. O cérebro teria a função de registrá-lo e não de originá-lo.
Mesmo que a ciência não tenha a resposta final sobre o pensamento, é possível identificar alguns pontos em comum, principalmente no que diz respeito a sua imaterialidade e sua emissão por meio de ondas e vibrações, sendo capaz de sintonizar com outras ondas.
Para a questão formulada nesse artigo, conclui-se que o médium, por formar uma “atmosfera psíquica” em volta de si, e, em consequência, ser capaz de criar imagens fluídicas deve estar em constante vigilância consigo mesmo e com os seus pensamentos.
No compromisso de uma atividade espiritual, deve recolher-se na oração e preocupar-se com o seu aperfeiçoamento e abnegação, com a cultura e o desinteresse, para que sejam mais sutilizados os pensamentos, aguçando as percepções mediúnicas. Eis aí a forma, apresentada pelos próprios Espíritos, de se educar os pensamentos para um trabalho mediúnico profícuo.
REFERÊNCIAS
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Autor: Carlos Gomes (Núcleo Espírita Fraternidade e Amor – NEFA, Itajubá, MG)