Porque Creio Que Chico foi Kardec
Os motivos que me levam a uma convicção pessoal de que Chico Xavier tenha
sido a reencarnação de Allan Kardec tão numerosos e distintos são que passarei a
expor alguns deles, sem o menor propósito de polemizar em torno do assunto.
- Tendo convivido com o médium por mais de 25 anos, não observei diferença
significativa entre a sua personalidade e a do Codificador. Consideremos,
segundo nos é dado depreender das informações prestadas pelos principais
biógrafos de Kardec e dos escritos de sua própria lavra, que ambos eram,
quando necessário, austeros e amáveis, determinados e bons. - Chico Xavier – creio que todos concordam a respeito – foi o legítimo
continuador de Kardec, no que tange ao desdobramento da codificação e à tarefa
de difundi-la, através da palavra e do exemplo. - Após o 2 de Abril de 1910, data do nascimento de Chico, o espírito de
Allan Kardec não mais estabeleceu, ele mesmo, qualquer contato mediúnico
confiável com os encarnados. - O Espírito Verdade, coordenador espiritual de imensa equipe que o
assessorava e um dos seus Protetores, havia lhe informado, em mais de uma
ocasião, que, dentro de pouco tempo, ele tornaria a reencarnar para dar
seqüência à obra encetada. - O próprio Kardec, elaborando os cálculos, deduziu que a sua volta à Terra
se daria no final daquele século ou no começo do outro. - Chico Abraçou a mediunidade aos 17 anos de idade; os Espíritos haviam dito
a Allan Kardec que, quando ele voltasse à Terra seria em condições que lhe
permitissem trabalhar desde cedo. - Emmanuel, um dos Espíritos Codificadores, foi, ao lado do Dr. Bezerra de
Menezes e tantos outros, o coordenador da tarefa mediúnica de Chico Xavier. - O Mentor da “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas” fundada por
Kardec, era São Luis; o do Centro Espírita de Pedro Leopoldo, fundado por
Chico Xavier, é São Luis Gonzaga. - Se Chico não foi a reencarnação do Codificador, conclui-se naturalmente
que ele não reencarnou e que, portanto, o Espírito Verdade se enganou no que
lhe disse, o que – convenhamos – colocaria em questão a sua condição
espiritual. - Se a espiritualidade superior tivesse mudado de planos – o que é
inconcebível, depois de anunciá-los -, porque o grande silêncio de Allan
Kardec, através da maior antena psíquica do século: Chico Xavier? - Chico, com freqüência, se referia a Jesus e aos Espíritos amigos, mas
pouco mencionava o nome de Allan Kardec. - Para os íntimos, Chico revelava um conhecimento da vida do Codificador que
não encontramos em nenhuma de suas biografias. Contou a mim e a outros , por
exemplo, que um de seus sobrinhos, após o seu desenlace, entrou na justiça
reivindicando parte dos direitos autorais das obras da Codificação, o que,
segundo o médium, atrasou a divulgação da Doutrina em 50 anos: Coincidência ou
não, Chico teve um sobrinho que lhe criou sérios problemas, em caluniosa
difamação plenamente infundada. - Chico não se casou e, embora Kardec tenha se consorciado, segundo o
médium, ele e D. Amélie Gabrielle Lacomb Bouded, que era 9 anos mais idosa do
que ele, cultivavam um amor puro: ela nutria por ele verdadeiro zelo maternal.
Isto me foi dito pelo próprio Chico, conforme a Dra. Marlene Rossi Severino
Nobre, que também estava presente na ocasião, escreveu em um artigo da “Folha
Espírita”. - Outras “coincidências” nos fazem pensar: Kardec desencarnou em 31 de março
e foi sepultado no dia 2 de abril, data do nascimento de Chico Xavier, tendo o
seu corpo ficado exposto à visitação pública durante 48 horas; o mesmo pedido
foi feito por Chico Xavier aos seus amigos. - Era hábito de Kardec efetuar doações financeiras a amigos em dificuldades,
encaminhando-as em nome dos Bons Espíritos; o mesmo fazia Chico Xavier,
inclusive empregando a mesma terminologia do Codificador. Diga-o quem, neste
sentido, tenha sido beneficiado pelo médium. - Existem fotos de Kardec e Chico que poderiam ser sobrepostas, tal a
semelhança de postura entre os dois; é espantosa a semelhança revelada entre
as mãos de um e de outro, além do costume de Chico sempre usar paletó, mesmo
sendo o Brasil um país de clima tropical. - Em Uberaba, e acreditamos em outras cidades, vários médiuns confirmavam
que Chico era a reencarnação de Allan Kardec, inclusive notável medianeira
Antusa Ferreira Martins, que era surda-muda e analfabeta, portanto incapaz de
ser influenciada por especulações neste sentido. - Entre os que contestam ser Chico a reencarnação de Kardec, há os que
afirmam que o Codificador não teria sido tão tolerante quanto Chico o foi com
o que lhe sucedia ao redor, envolvendo irmãos de ideal e outros, esquecendo-se
de que, em “Obras Póstumas”, o Codificador não hesita ao confessar que a
“Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas” havia se transformado em um foco
de intrigas contra ele e que enfrentara inúmeros dissabores inclusive traição. - Chico jamais confirmou ser a reencarnação de Allan Kardec; ao contrário
quando não fazia questão de negá-lo, inclusive em entrevistas, respondia
reticentemente em torno do assunto. - Poderiam, perfeitamente, ser de Chico Xavier as seguintes palavras de
Allan Kardec: “Sentia que não tinha tempo a perder e não perdi; nem em visitas
inúteis, nem em cerimônias estéreis. Foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o
meu tempo, sacrifiquei-lhe o meu repouso, a minha saúde, porque diante de mim
o futuro estava escrito em letras irrecusáveis. - Chico e Kardec eram assim: “Aos domingos – escrevia ainda Leymarie -,
sobretudo nos últimos dias de sua vida, convidava amigos para jantar em sua
Vila Ségur (Chico os convidava aos sábados, para almoçar). Então, o grave
filósofo, depois de haver batido os pontos mais difíceis e mais controvertidos
da Doutrina, esforçava-se para entreter os convidados. Mostrava-se expansivo,
espalhando bom-humor em todas as oportunidades”. - Kardec e Chico, acima de tudo, tinham e têm um acendrado compromisso com o
Evangelho de Jesus, em sua obra e em sua vida.
Ao terminar, esclareço que, sendo adepto de uma doutrina de livre expressão,
qual é o Espiritismo, reivindico para mim o direito de pensar como penso e deixo
exarado neste testemunho, sem, evidentemente, negar a qualquer outro o direito
de discordar de minhas convicções, sem que me sinta, necessariamente
constrangido a transformar o assunto em polêmica sem proveito, com responder a
objeções que o tempo, e somente o tempo, haverá de fazer.
Matéria contida na revista “Goiás Espírita” Ano7 – nº 23 – 2003.