Da importante produção literária de Léon Denis, contemporâneo de Allan Kardec
e praticamente continuador da obra da Codificação, trazemos aos nossos leitores
pequenas transcrições do livro Socialismo e Espiritismo, de nossa edição,
traduzido por Wallace Leal V. Rodrigues e prefaciado por Freitas Nobre.
Evidente que somente a leitura do livro por inteiro dará ao estudioso espírita
o prazer completo de raciocinar com a clareza e objetividade deste verdadeiro
Poeta do Espiritismo. Objetivo deste comentário foi mesmo destacar alguns trechos
que motivem ao estudo do livro.
Analisando a questão social e suas dificuldades numa época de grandes dificuldades
na Europa, o autor faz considerações de profundidade sobre política, partidos e
analisa com a seriedade que lhe é característica, bem como à luz do Espiritismo,
os princípios de justiça e solidariedade necessários para uma mudança na mentalidade
mundial.
Lançado pela Editora O Clarim na década de 80, de tradução dos originais franceses,
a obra guarda impressionante atualidade e deve merecer nossa maior atenção.
Observemos com atenção os trechos em destaque (a edição utilizada foi a 2a,
de 1987):
- à página 58: “Muitos leitores perguntam-me o que penso da crise atual
(janeiro de 1924). Minha opinião pessoal importa pouco e prefiro resumir aqui,
à guisa de resposta, as instruções dadas por nossos guias espirituais sobre o
assunto complexo e delicado: As lições da guerra, dizem eles em substância, não
trouxeram os frutos que se poderiam esperar. O perigo passado, a matéria caiu
pesadamente sobre o Espírito; ela superexcitou os apetites, a avidez. Como deter
este transbordamento de paixões que nos arrasta para o abismo? Suprimindo o meio
que as desencadeia: o dinheiro! Daí a crise financeira que sevicia a hora presente.
Deveis sentir-vos todos atingidos do ponto de vista social ou financeiro. Cada
um deve fazer um retorno para trás, interrogar o passado e medir suas próprias
responsabilidades. (…) De acordo com uma lei imanente e superior, todo capital
adquirido sem escrúpulo, sem trabalho, será volatizado; pode-se prever ruínas
sem número, a queda de muitos (…)”. - à página 65: “(…) Destas considerações, resulta que a reforma social,
para ser mais segura e mais prática, deveria começar pela reforma do homem em
si mesmo. Se cada um se impusesse uma disciplina intelectual, uma regra capaz
de asfixiar, de destruir um fundo de egoísmo e brutalidade que nos foram legados
pelas idades, toda a bagagem mórbida que trazemos ao nascer, e que é a herança
de nossas vidas passadas, e isso de modo a fazer renascer em nós um homem novo,
a evolução do meio social seria mais rápida (…)”. - à página 67: “(…) A sociedade não é senão um agrupamento de almas.
Para melhorar o todo, é preciso melhorar cada célula social, isto é, cada indivíduo”. - à página 69: “(…) É preciso que não se deixe de lembrar aos escritores,
aos renovadores, seus deveres e suas responsabilidades, pois pela pena e pela
palavra eles detêm grande poder, tanto a serviço do bem como a serviço do mal.
(…) O pior dos papéis deste mundo consiste em trabalhar conscientemente para
envenenar as almas. Torna-se mais precisa a tolerância em nossos costumes e não
atirar o anátema àqueles que pensam de modo diferente do nosso. (…)” - à página 71: “(…) Com efeito, como poder-se-ia vencer o mal, o erro,
a injustiça no mundo se não se começar a vencê-la em cada ser em particular? (…)” - à página 98: “(…) Se quisermos preparar um futuro melhor, comecemos
de início, por instruir o homem quanto às verdades necessárias, por torná-lo mais
sábio, mais esclarecido, mais senhor de si mesmo e de suas paixões. (…)” - à página 101: “(…) Somos o que fizemos de nós; nossa sorte, feliz
ou desgraçada, está em nossas mãos; assim, no encadeamento de nossas vidas, a
ação da justiça se torna mais evidente. Tudo que fazemos recai sobre nós através
do tempo, em alegrias ou em dores. E como o futuro poderia se tornar melhor que
o passado se continuarmos a semear, no presente, o gérmen do ódio, as causas de
discórdia e de desencontros, se o fraco continua a ser esmagado pelo forte…
(…)” - à página 102: “(…) O abuso dos prazeres, o excesso de luxo, o alcoolismo,
o deboche se resgatam pelo sofrimento, as privações, a miséria. Aprendamos a ser
sóbrios e comedidos em todas as coisas. (…)” - à página 116: “(…) As almas, suficientemente evoluídas quando deixam
a Terra, vão quase todas viver em mundos melhores, enquanto que, incessantemente,
chegam a nós, dos planos inferiores, contingentes de almas ainda grosseiras que
vêm procurar sua educação na vida terrestre. Eis porque o nível moral muda tão
lentamente. Herdam-se trabalhos de gerações passadas e não se herdam virtudes
que permanecem individuais. Eis porque é preciso trabalhar acima de tudo na educação
dos povos se se quiser melhorar a sorte da humanidade. (…) É trabalhando pela
elevação dos outros que trabalhamos mais eficazmente para elevar a nós mesmos
e, ao mesmo tempo, se desenvolve, se acresce e se afirma em nós, e em torno de
nós, essa noção essencial de fraternidade que nos religa todos uns aos outros
(…)”
Eis, pois, o segredo que desde Jesus já não é mais segredo. A questão toda é
desenvolver a fraternidade que estimula a solidariedade, único caminho para melhorar
o planeta que habitamos. Tal desenvolvimento é de alçada individual, mas pode ser
estimulado pelo trabalho de cada um.
Com ênfase recomendamos o livro em referência para ampla divulgação e estudo.
Matéria publicada originariamente na Revista Internacional de Espiritismo, de
março de 2004.