Reciclagem Mediúnica
Comuns comentários sobre a validade/utilidade das sessões mediúnicas. Alguns
as colocam em evidência, chegando a ponto de priorizá-las na casa espírita em
detrimento ao estudo e ao objetivo do Espiritismo – a renovação moral do homem.
Esquecem-se de que poderia inexistir sessão mediúnica e ainda assim o
Espiritismo permaneceria, se manteria e realizaria no mundo a sua função
renovadora. A sessão mediúnica no socorro aos desencarnados é justamente uma
decorrência do entendimento do Espiritismo. Quanto mais penetre o homem na
proposta básica no pensamento doutrinário, no convite do Cristo, mais e mais
desperta para doar-se em auxílio ao outro, quer sejam os Espíritos, encarnados
ou desencarnados, através da assistência fraterna material ou do socorro
espiritual nas sessões e desempenhos mediúnicos.
Outros mesmo entendendo tais colocações, em decididos posicionamentos,
afirmam descrer da utilidade dos trabalhos dessa natureza, refletindo que frente
a tão grande massa de desencarnados necessitados, a proporção dos trabalhos,
praticamente nada representa levando-se ainda em conta que grande parte não
aceita o auxílio oferecido e se retira desgostoso e ainda violento.
Há ainda os que acreditam na ação dos tratamentos, na eficácia da sessão.
Comparecem, se dispõem ao trabalho, oferecem a própria realidade, cumprem um
dever, do qual friamente se afastam para nos mesmos posicionamentos, nas
mesmas reflexões e conselhos, mecanicamente, retomar o próximo compromisso. Não
identificam nos Espíritos trazidos individualidades, cada qual com seu
psiquismo, necessidades próprias, diferentes. Portam-se como se a sessão fosse
composta por massa despersonalizada onde as mesmas palavras servem sempre para
todos e o que é pior desguarnecidas do sentimento, que mais que as palavras,
tocam, envolvem, contagiam.
Reflete Emmanuel que a exemplo de Jesus, o trabalho em favor do próximo
encarnado ou desencarnado há que sobretudo ser ação e movimento, devotamento de
dia e pela noite a dentro. Não descansa, não se fadiga, exemplifica
imparcialidade e tolerância espalha sem cessar bênçãos do amor infinito; coloca
a ciência do bem ao alcance de todos; defende os interesses dos fracos e dos
humildes, serve a todos sem reclamação e sem recompensa. Nesse apostolado do
amor, colhe o companheiro, pelo aprendizado que tira das experiências que
vive, matéria com as quais amplia os próprios horizontes na compreensão da
existência, no aproveitamento da existência, no enriquecimento da Vida.
Desse modo, no trabalho mediúnico, a utilidade inexiste unilateralmente,
nesse caso, só para os desencarnados. A troca de experiências é intensa,
profunda e chega a tal ponto que, o encarnado, que num primeiro momento,
ali comparece para servir é o grande beneficiado, uma vez que, nas tramas, nos
enredos, nos dramas que lhe são apresentados pode depreender a:
- transitoriedade do mal
- a amarga decepção do suicida
- a crueza do arrependimento daquele que desperdiça o tempo ou na busca das
ilusões humanas ou mesmo quando já desperto para o trabalho não se preparou o
se renovou com ele. - a inutilidade das posições humanas buscadas ou vistas como um fim em si
mesmas. - o preço da vaidade, do orgulho, do egoísmo.
- o estado dos que odeiam arquitetando revides, vinganças.
- a tensa expectativa do retorno à vida física, e tantos, tantas outras
situações, trazendo lições terríveis, ministradas com gritos de desespero
daqueles que na irreflexão dos próprios atos assumiram débitos enormes diante
da Lei ou lições de tranqüilidade e serena humildade dos que já superaram as
próprias fraquezas e que sem ostentações, mostram como estão ou como fica o
Espírito que venceu a si mesmo na árdua e longa luta contra as próprias
deficiências.
Cada entendimento, cada caso, situação, drama, acontecimento representam
muitas, variadas lições, aprendizados profundos para tantos quantos estejam
despertos para fazer uso dessas experiências e com elas renovar, mudar,
transformar, reconstruir o próprio existir.
Sobretudo nesse encadear, desenvolve a compreensão que é obra de “(…)
tempo, colaboração e harmonia” onde entender que não conquista a confiança dos
Irmãos maiores e dos necessitados exibindo cultura ou impondo princípios, mas
sim, orando, servindo, trabalhando e amando. Aprende a colocar-se no lugar do
outro, reparando cuidados que exigiria, se as posições fossem inversas.
Acalma-se, cuida da afetividade não obrigando a que surjam flores prematuras,
não esperando frutos antecipados.
Afirmando-se que há benefícios para ambos – encarnados e desencarnados –
quais seriam os destes?
Recorde-se que, apesar da eficiência dos métodos usados no espaço, existem
aqueles companheiros que não conseguem reconhecer a própria situação: permanecem
atordoados, semiconscientes, inconscientes, imersos em lamentável estado de
inércia mental, confusos, julgam-se em sonho interminável ou em processos de
loucura, incapacitados para qualquer aquisição facultativa, possibilitadora de
progresso.
Nesse plano da vida não conseguem compreender a palavra harmoniosa dos
mentores espirituais, tampouco vê-los, muito embora eles se materializem e ao
ambiente, ao máximo que lhes seja possível.
Necessitam então, de como que, um choque, que se dá com a ligação
estabelecida perispírito a perispírito. A revivescência com as vibrações
animalizadas que estavam habituados quando encarnados, propicia nesse choque
alguma abertura, que faculta-lhes ouvir, entender, através da ação e da palavra
humana.
Mesmo aqueles que têm consciência do que se passa, sabem que já
desencarnaram, compreendem o que fazem, justificam porque agem de determinada
forma, são trazidos, uma vez que a força dos fluidos magnéticos esparzidos no
recinto é tão intensa que funciona neles como medicação altamente revigorante,
contrapondo-se às vibrações nocivas, inquietantes e desarmoniosas nas quais
permanecem envolvidos dificultando tratamentos. Servem também como material
necessário à criação de quadros visuais demonstrativos que são plasmados,
mostrados ao Espírito durante ou conforme o diálogo que está acontecendo.
Figuras, vultos, seqüências, lembranças, sensações, sentimentos se agitam e vê
ao campo mental, à cada frase proferida. A vibração dos pensamentos do atendente
repercute em ondas sonoras que balsamizam, acalmam, suscitam, despertam, acenam,
deixa antever uma dúvida, uma possibilidade, uma esperança. A palavra está sendo
trabalhada, modelada, retida por especialistas devotados; corporifica-se,
torna-se realidade em cena viva, onde o passado, o caso, a dor, o drama, a
atitude, se faz presente acordando ou acendendo emoções, reflexões, deixando
perceber situações até então desapercebidas mas que estando relegadas nas
profundezas anímicas, vem à tona, à superfície, à lembrança, ao mundo consciente
desses Espíritos atribulados e tristes. Repercute em intensidades desconhecidas
à nossa sensibilidade, no mais íntimo desses seres, acima de tudo, sequiosos de
consolo. E, em todos os lances, em todas as situações e quadros, destaca-se
Jesus, socorrendo, balsamizando, confortando, estendendo as mãos, convidando a
um abraço de paz, no refúgio tranqüilo de um coração que aguarda.
Essa mescla de situações é lhe tão real, que sem mesmo se aperceber a partir
de que momento ou como, passam a sentir ou desejar esperança, possibilidade,
chance, oportunidade, desejo talvez até de mudar chegando ao entendimento de que
o mal existe apenas neles mesmos; que são imortais, que continuarão vivendo,
existindo, existindo e vivendo para todo o sempre e que apesar dos problemas,
todos marchamos para a luz, para o crescimento, para o bem.
Prof. Herculano Pires, descreve essa fusão entre médium e Espírito,
propiciadora de tão belos efeitos em significativa e clara beleza “(…) O ato
mediúnico é o momento em que o Espírito comunicante e o médium se fundem na
unidade psico-afetiva da comunicação. O Espírito aproxima-se do médium e o
envolve nas suas vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se de seu corpo
espiritual atingindo o corpo espiritual do médium. A esse toque vibratório,
semelhante ao de um brando choque elétrico, reage o perispírito do médium.
Realiza-se a fusão fluídica. Há uma simultânea alteração no psiquismo de ambos.
Cada um assimila um pouco do outro. Uma percepção visual desse momento comove o
vidente que tem a ventura de captá-la. As irradiações perispirituais projetam
sobre o rosto do médium a máscara transparente do Espírito. Compreende-se então
o sentido profundo da palavra “intercâmbio”. Ali estão, fundidos e ao mesmo
tempo distintos, o semblante radioso do Espírito e o semblante humano do médium,
iluminado pelo suave clarão da realidade espiritual. Essa superposição de
planos, dá aos videntes a impressão de que o Espírito comunicante se incorpora
no médium. Daí a errônea denominação de incorporação para as
manifestações orais. O que se dá não é uma incorporação, mas uma interpenetração
psíquica, como a luz atravessando uma vidraça. Ligados os centros vitais de
ambos, o Espírito se manifesta emocionado, reintegrando-se nas sensações da vida
terrena, sem sentir o peso da carne. O médium, por sua vez, experimenta a leveza
do Espírito, sem perder a consciência de sua natureza carnal, e fala ao sopro do
Espírito, como um intérprete que não se dá ao trabalho da tradução”.
Benefícios portanto para todos, encarnados e desencarnados, Teócrito em
“Memórias de um suicida” comenta “(…) Em que setor humano, depararia o homem
glorificado, mais honrosa para lhe condecorar a alma, do que essa de ser levado
à meritória categoria de colaborador das Esferas Celestes, enquanto os
embaixadores da luz lhes desvendam os mistérios do túmulo ofertando-lhes
sacrossantos ensinamentos de uma moral redentora, de uma ciência divina, no
intuito generoso de reeducá-los para o definitivo ingresso no redil do Divino
Pastor?! (…)”
Livros consultados:
- Miranda, H. Corrêa – Diálogo com as sombras
- Emmanuel – Roteiro – lição 17
- Emmanuel – Vinha de Luz – lição 121
- Pires, J. Herculano – Mediunidade
- Pereira, Yvonne A. – Memórias de um suicida – cap. VII
(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)