Reciclagem Mediúnica
A formação de um grupo de trabalho, no caso, em mediunidade, deverá assim
como os outros ter objetivos. Para que é a reunião?
- oferecer condições à manifestação de Espíritos familiares que venham
trazer mensagens mais ou menos íntimas, pessoais? - para observação e experimentação de natureza científica?
- para atendimento de pronto-socorro?
- para os chamados trabalhos de desobsessão?
- para… etc., etc., etc..
Esse objetivo normalmente é decidido pelo grupo depois que os companheiros
encarnados que vão compor a equipe já estão selecionados.
1 – Mas como se formará um grupo?
A seleção das pessoas ocorrerá sob a liderança que fará os convites e
coordenará os esforços. Esse dirigente deverá dispor de certa dose de autoridade
moral, sem que esta lhe confira poderes ditatoriais e arbitrários. No trabalho
espírita todos são de igual importância. É imprescindível ser composto por
pessoas que se harmonizem e estando interessadas num trabalho sério e contínuo
não se desencoraje pelas dificuldades nem se deixe fascinar pelos pseudo-guias.
A cada bom grupo de encarnados dispostos à tarefa, corresponderá o
equivalente dos desencarnados. Representará a soma de valores morais de seus
componentes, e terá como ponto fraco as fraquezas que os caracteriza.
Não haverá formação de grupo quando os que se reúnem não se comunicam, não
expressam seus pensamentos, não se expõem, não se conhecem, se hostilizam, onde
há ciúme, prevenções entre as pessoas.
Até a discordância ideológica acentuada, acirrada (mesmo em outras áreas do
pensamento) pode criar dificuldades. (Não quer dizer isto que todos devem pensar
identicamente do mesmo modo, ou se transformar em indivíduos sem idéias
próprias, despersonalizadas).
A franqueza, a discussão, a busca, o esclarecimento de pontos conflitados, a
avaliação etc. são necessários ao crescimento do próprio grupo, desde que, não
atinja os estágios da rudeza ou da imposição que fere e afasta.
Quando se aborda essa concordância ideológica, fala-se no sentido de que
todos tem o mesmo ideal – os objetivos, os pensamentos são da mesma natureza
(amar, servir) condição esta que deve prevalecer o tempo todo.
Um só participante que desafine poderá transformar-se em brecha por onde
Espíritos em desajuste sutilmente saberão introduzir fatores de instabilidade,
desarmonia, perturbação chegando até a eventual desintegração do grupo.
Esses cuidados, a manutenção de um clima harmônico servirá de base ao
trabalho dos desencarnados que é de alta complexidade. A parte mais delicada,
desde o cuidadoso planejamento das tarefas até sua realização no plano físico
com todas as providências que isso requer, é ali que se realiza. A dignidade dos
encarnados, o trabalho de cada um é decisivo para os desencarnados. Daí o grande
cuidado na formação do grupo; é preferível recusar alguém que se tenha alguma
dúvida séria do que mais tarde conviver com inadaptações ou afastamentos. Mesmo
aqueles que são convidados, colocam claramente os porquês, os comos, a
importância e necessidade do empenho pessoal e que realmente só assumam
após estágio, por exemplo de três a quatro meses, tempo este suficiente para que
os arroubos, os entusiasmos arrefeçam e a realidade se firme. Nessa abertura e
honestidade e liberdade, os que ficarem, formam sim o grupo coeso, a equipe
homogênea, confiável.
2 – Quantos componentes formarão o grupo?
difícil limitar, estabelecer números. Se, em tese, a um grupo pequeno seria
mais fácil a homogeneização dos ideais, também as possibilidades seriam
limitadas. É portanto relativo, havendo perfeitamente possibilidade de se ter um
grupo grande e os integrantes unidos, sem personalismo, ciúme, melinderes.
O certo é que, conforme essa união vai acontecendo, a feição do trabalho vai
mudando. Os desencarnados encontrando campo propício, trazem Espíritos com
necessidades mais complexas e abrangentes.
3 – É necessário o estudo?
Sempre. Mesmo aqueles que já se julgam suficientemente informados e
conhecedores da Doutrina Espírita, vale a pena como revisão ou atualização.
Impossível um grupo onde todos conheçam tudo em profundidade. Será nessa troca
que se descobrirão aspectos essenciais à tarefa e que muitas vezes passará
desapercebido ao conhecimento próprio. Cuidado ainda, ou alerta ao grupo onde só
dois ou três falam e os demais ficam calados – alguém está monopolizando,
sufocando ou atemorizando alguém.
4 – Como fazer o estudo?
Na realidade o ideal seria que, no dia do trabalho mediúnico, após a
preparação evangélica o trabalho se iniciasse. O estudo da mediunidade ficaria
para outro encontro específico à este. Pela dificuldade da locomoção ou outros
fatores usa-se dez ou quinze minutos para este estudo e após o texto evangélico
a envolver o ambiente em clima consolador, iniciando-se após o intercâmbio.
Poder-se-á fazer de outras formas? Claro, a forma será sempre adequada à
realidade de cada grupo, cidade, região, etc.. O importante é que os médiuns
estudem (que se dediquem ao estudo fora do trabalho em si) mas imprescindível é
a preparação evangélica que envolvendo os corações na ternura consoladora do
Evangelho de Jesus, toca também corações que descrêem, que nada mais esperam ou
desejam. Como se desenrolaria o estudo? (mediunidade e evangélico). É importante
que não se configure como leitura monótona – desde que tenha acontecido o estudo
em casa, o enriquecimento se fará pela troca, pelas dúvidas, pela revisão que
esclarecendo, promove a integração.
Nesse trabalho não só os encarnados se beneficiam (principalmente o
Evangélico) mas também os desencarnados que ali estão e já vão sendo consolados
com a esperança ou coragem que se desprende dos ensinamentos do Mestre.
Para a equipe, esse é um período muito útil: afinizam-se os membros,
ajustam-se tendências, revelam-se potencialidades e até mesmo se exclui num
processo de seleção natural, aqueles que não desejam se integrar num trabalho
que exige participação, renúncia, dedicação, assiduidade, estudo e amor.
Os impacientes, os que não entenderam que necessitam se preparar, os que
gostam de vir quando dá certo, quando podem ou não tem outra coisa para fazer,
espontaneamente deixarão o grupo, prejudicando nesse afastar-se apenas a si
próprios.
Talvez mais adiante, acordem e resolvam dedicar-se com mais segurança e
firmeza. Tarefa como essa, não pode ser imposta, forçada. Tem que se apoiar no
impulso interior, no desejo de servir, apagar-se dentro da equipe, de modo que
os resultados sejam impessoais – coletivo, não creditáveis ao trabalho
individual deste ou daquele.
O compromisso de um grupo mediúnico é de amor fraterno que necessita
apoiar-se no perfeito entrosamento emocional de todos que se amam, respeitam,
sentem gosto em trabalhar juntos.
Sem isso, como doar amor, como colocar o sentimento em ação a favor de tantas
necessidades que ali serão trazidas. Sem dúvida o que garante a estabilidade do
grupo mediúnico, são todos esses cuidados que refletirão o equilíbrio psíquico e
emocional daqueles que o compõem.
5 – Detalhando, que cuidados seriam necessários ao dirigente do grupo?
a) O dirigente é aquele que no campo material coordena o trabalho. É o
motivador que sem ser ditador deve dispor de certa autoridade moral
disciplinando, harmonizando esforços, atento às necessidades que uma vez
identificadas, prontamente necessitam ser trabalhadas. Necessário: conhecimento
doutrinário, familiaridade com as propostas renovadoras de Jesus, autoridade
moral – fé, certeza, amor, paciência, sensibilidade, tato, energia, vigilância,
humildade, destemor, previdência, etc., etc., etc..
A direção terrena cabe aos encarnados e os desencarnados não interferem,
desejam apenas que se assumam responsabilidades e que se mantenha clima de
harmonização. O dirigente do trabalho será alguém que se mantém lúcido o
tempo todo sem transe de espécie alguma.
b) Os médiuns – por não serem pessoas privilegiadas sujeitos tanto
quanto qualquer um, à influenciações que podem se apresentar até de forma mais
intensa pela facilidade de sintonia já estudada, espera-se, como dos demais
componentes a vigilância, a renovação pessoal, usando a vida nesse trabalho
contínuo consigo. A assiduidade funciona em caráter de compromisso. Para cada
Espírito trazido são necessários fluidos semelhantes. Um Espírito pode
ser novamente trazido. Não encontrando os fluidos que lhe são afins porque o
médium para tal providência faltou fará com que os amigos espirituais alterem
programação, improvisem recursos ou mesmo adiem providências que esperavam
cumprir naquela oportunidade. O mesmo pode acontecer com a programação da noite
que por eles montada sendo o qualificação das energias que contam dispor. Faltar
portanto, só em condições justificáveis, de preferência avisando antes, assim
como os períodos de viagem ou férias onde se justifica o afastamento e o tempo
do retorno. antes mesmo de parecer excesso de rigorismo, é significação de
entendimento, responsabilidade, educação.
c) Doutrinador no seu significado próprio – pessoa que ensina,
instrui, orienta, conversa conforme o pensamento doutrinário, no caso a Doutrina
Espírita. É o que atende, dialoga com os desencarnados. Lembrar que os
Espíritos trazidos não estão em condições de receber aulas doutrinárias. Não
estão dispostos a ouvir pregações nem aprender como estudante paciente. Sabe ou
não que é Espírito, tem problema da mais variada característica, portanto, não
se trata aí de um confronto de inteligências, mas do atendimento à esse problema
apresentado, onde o sentimento precisa ser atingido, no zelo, no cuidado, na
palavra fraterna firme, na providência enfim, que a situação requeira. O
conhecimento doutrinário torna-se para esse atendente em importante base de
sustentação que lhe propicia certeza de que a Doutrina Espírita dispõe de todos
os informes que necessita para cuidar das manifestações que chegam precisando de
quem os socorra, ouça com paciência, tolerância, respeito, informando o que
precisa, intercalando ora aqui, ora ali uma reflexão evangélica se houver
possibilidade. Moral do doutrinador – imprescindível, não no sentido de se
apresentar como alguém que não erra, não se engana, mas como alguém em luta, que
tem como legítima, a intenção do bem, que se esforça. Essa busca dá, por
melhorias pessoais dignidade e valor ao homem. Os Espíritos respeitarão tal
combate que procura na renovação preparar-se mais para ajudar melhor.
Necessidade ainda de que o atendente não monopolize o médium; acabada a
entrevista, dá lugar para que outro também trabalhe oferecendo mais
ostensivamente sua preparação de amor.
6) Pode haver no grupo companheiros que não ofereçam condições mediúnicas
e nem de doutrinadores/atendentes?
Pode; desde que contribuam para o clima de segurança e harmonia, mantendo-se
em atitude dinâmica, construtiva, dispostos à cooperação. Esses companheiros em
atitude de prece onde meditem sobre a passagem evangélica estudada, ou por
exemplo, sobre um ensinamento de Jesus, uma atitude, uma parábola, formam
quadros que são usados em tratamento de Espíritos que às vezes nem conseguem
ainda ouvir a voz humana. Tal atitude é bem diversa, daquele que dorme ou se
imiscui mentalmente nas comunicações que estão acontecendo e nesse caso cria
clima de conflito, divergente às vezes da orientação que está se desenvolvendo.
Detalhes, situações aparentemente insignificantes mas que no conjunto,
somam-se, personalizando um grupo que moralmente se renova para o bem infinito.
Serve elevando-se, aprende a conquistar novos horizontes, aprende que amar é
engrandecer-se. “Trabalhando e servindo, aprendendo e amando, a nossa vida
íntima se ilumina e se aperfeiçoa, entrando gradativamente em contacto com os
grandes gênios da imortalidade gloriosa.”
Bibliografia:
- Miranda, H. C. – Diálogo com as sombras
- Miranda, H. C. – Alquimia da Mente
- Emmanuel – Roteiro
(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)