A teologia dogmática, baseando-se em interpretações equivocadas ou, algumas
vezes, na opinião dos próprios autores bíblicos, sustenta que Jesus morreu na
cruz para nos salvar. Entretanto, a verdade é bem diferente, pois foram os
chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei, que o levaram a essa morte
ignominiosa. Talvez eles mesmos, para se safarem de serem incriminados,
espalharam que Jesus teria morrido para nos salvar.
Esses líderes religiosos fizeram de tudo para indispô-lo contra as
autoridades constituídas. Estavam sempre à procura de alguma situação para que
pudessem realizar esse desejo. Jesus mesmo lhes conhecendo as intenções, não os
apontava como os que o levariam à morte, quando nos colóquios íntimos com seus
discípulos.
A oportunidade enfim chegou, quando Judas, talvez, segundo dizem algumas
pessoas, pensando que Jesus fosse o Messias que libertaria os hebreus do jugo
dos romanos, combina com essas aves de rapina a entrega do seu Mestre, achando
que, com isso, se desencadearia uma revolução, liderada por Jesus com o apoio do
povo o que resultaria no fim dessa situação de submissão.
Além de subornarem Judas, ainda procuram encontrar um falso testemunho contra
Jesus para o condenarem à morte. E na opção entre Barrabás e Jesus, incentivaram
o povo a pedir pela liberdade do criminoso e pela crucificação do inocente,
conforme nos contam os evangelistas.
Não bastasse tudo isso, ainda juntaram-se ao povo que zombava do Mestre,
quando se encontrava em plena agonia pregado à cruz.
E por fim, subornam os guardas que se encontravam junto ao túmulo, para
dizerem que os discípulos haviam roubado o corpo de Jesus, já que não admitiam
que ele houvesse ressuscitado.
Mas o que mais choca é que, de certa forma, vemos isso nos dias de hoje,
quando a liderança religiosa de nossos dias (seria ela a de outrora
reencarnada?), usa de todos os expedientes para combater o Espiritismo. Não
poderemos deixar de salientar que essa liderança, numa interpretação de
conveniência, deturpou os ensinamentos de Jesus, para manter sob seu domínio os
fiéis temerosos, que ficam sob constantes ameaças de caírem nas garras de
satanás, que os levariam para o inferno, onde no “lago de fogo” ficariam pelo
resto da eternidade.
Ensinamentos que não se coadunam com um Pai misericordioso, o que nos
apresentou Jesus, Aquele que “quer que todos sejam salvos” (1Tm 2,4). E
mais convictos ficamos de que todos nós seremos salvos, pela seguinte passagem:
“… Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo… Jesus lhes disse: ‘Pois
eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes
de vocês no Reino do Céu’”. (Mt 21,31).
Observar bem essa frase de Jesus. Ele sabia, desde o princípio, que os
sacertodes-chefes e os anciãos do povo o levariam à morte, que para isso
lançariam mão de subterfúgios, e mesmo assim Jesus afirma que essa “raça de
víboras” entraria no Reino do Céu. Entretanto, antes deles chegariam os
cobradores de impostos e as prostitutas, considerados como gente de má vida,
que, por sua vez, também lá chegariam. Isso acontece porque todos somos filhos
de Deus: “o Pai que está no céu não quer que nenhum desses pequeninos se
perca”. (Mt 18,14). E, para reforçar, completamos com: “o bom pastor dá a
vida por suas ovelhas” (Jo 10,11), que “deixa as noventa e nove ovelhas
para procurar aquela que se perdeu” (Mt 18,12), que afirmou “tenho outras
ovelhas que não são desse aprisco” (Jo 10,16) e, que ao final arremata
“haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16).
Assim, de onde essa liderança religiosa tira ensinamentos que entram em
conflito com esses.
As interpretações são algumas vezes equivocadas devido a ignorância, outras,
por mais se apegarem à letra e por fim, pelo mau-caráter de alguns, já que, para
esses, se for preciso “subornam” a verdade para conseguirem seus objetivos.
A evidência de que todos chegarão ao reino do céu, é cristalina, apesar de
que dizem ser somente os fiéis que os seguem: “São cegos guiando cegos. Ora,
se um cego guia outro cego, os dois cairão num buraco”. (Mt 15,14).
Dez/2003. (revisado)
Textos Bíblicos da Bíblia Sagrada Edição Pastoral, Ed. Paulus, São Paulo, 43ª
ed., 2001.