São Caetano, Futebol, Lama, Guerra e Paz
Hoje questionamos a idéia de que trabalho na empresa e vida pessoal não se misturam. Ela reclama que seu marido está trabalhando tanto que quase não vê os filhos. Os desgastes dos que fumam ou bebem demais, dos que têm tido insônia, dificuldades no casamento ou problemas de saúde, acabam se refletindo em todos os setores da vida.
Como, a empresa, pode evitar que os problemas individuais se transformem em problemas organizacionais crônicos?
Treinadores e consultores organizacionais nos falam da Re-engenharia física, moral, intelectual, emocional e espiritual, como um projeto-educação. Ricardo Gaz (2) nos lembra que a educação é a ciência e a arte de formar cidadãos conscientes, saudáveis e equilibrados nos seus atos pessoais e profissionais, em seus diversos níveis, do físico ao espiritual.
Empresas, como “Mercedez-Benz”, “Magazines Luiza”, “Computer Associates” e “Superbom” abriram espaço para a “espiritualidade” dentro de seus escritórios. Isto significa abrir espaço, no ambiente profissional, para a vivência religiosa, na suposição de que os cuidados com a alma ajudem na solução de conflitos no dia-a-dia no trabalho. A espiritualidade vivenciada no local de trabalho é uma forte tendência nos Estados Unidos. O “New York Times”, no ano passado, falou de uma crescente aceitação dos comportamentos abertamente religiosos nas empresas e citou como exemplos a “Boeing”, a “Microsoft” e a “Intel”.
Gaz , com a Re-engenharia desenvolve os diferentes níveis. No nível físico relaciona desde uma respiração treinada até o auto-conhecimento sensorial. No nível moral caminha pela generosidade, honestidade, prudência, humildade e integridade. No campo emocional chama a atenção para a importância da alegria, do amor, da sensibilidade, da coragem, desembocando na conquista, talvez mais difícil, da maturidade. Qualquer estudante de Psicologia sente dificuldade quando lhe pedem para explicar o que vem a ser “maturidade emocional” ou “saúde mental”.
No nível intelectual as palavras como perspicácia, criatividade, memória vão se somar a duas outras, não menos importantes, comunicação e reflexão. Mas é no nível espiritual que as empresas detém a maior soma de ignorância. Seus diretores e chefes de departamentos não têm tempo para seus filhos, quanto mais para se dedicarem a: sensitividade, magnetismo, contemplação, empatia ou telepatia. Mas esses diretores e chefes vão mudar, por força das coisas. Hoje se sabe que o melhor processo de ensino-aprendizagem se faz no espelho educacional. Em outras palavras, o bom aluno é aquele que é capaz de reproduzir a lição recebida, sendo capaz de crescer, resolver e superar suas próprias limitações pessoais e profissionais. Os empresários felizmente estão descobrindo que a educação da alma é a alma da Educação.
O conceito de espiritualidade é amplo. Não há imposição religiosa específica. Será mais eficiente aquela capaz de favorecer o equilíbrio interior e que fizer o maior número de homens de Bem.
Os empresários descobriram que, ao promover a transformação interna, através da espiritualidade, os indivíduos se tornam mais produtivos e passam a ter acesso ao seu verdadeiro potencial criativo. Dessa forma, a empresa ganha eficiência, competitividade e produtividade. Um epifenômeno é o aumento dos lucros.
Diretores e chefes vão ter que mudar, porque se descobriu que se aprende com os mestres, mas muito também se pode aprender com os alunos. Serão reavaliados os papéis e as funções de cada profissional para a obtenção de um melhor desempenho organizacional global.
A filial brasileira da “Computer Associates”, a segunda maior empresa de software do mundo, criou um grupo informal de oração. É um espaço no qual se pode expressar sentimentos e falar de problemas pessoais e profissionais. Isto é procura do equilíbrio emocional e de sólido apoio espiritual. Uma avaliação demonstrou que os integrantes do grupo de oração se tornaram mais seguros, tranqüilos e passaram a se integrar melhor ao ambiente de trabalho.
Na “Mercedez-Benz” em São Bernardo, no ABC paulista, a palestra sobre “Stress e Espiritualidade” lotou o auditório e teve tal repercussão que o gerente da área de logística resolveu levar a discussão sobre espiritualidade no trabalho para vários setores da companhia.
No “Magazine Luiza”, rede de departamentos no interior de São Paulo, às segundas-feiras, o inicio do expediente é precedido pela “comunhão com o Absoluto” e os funcionários entoam o “Pai Nosso”.
Na “Superbom” (sucos e cereais matinais) o dia começa com um breve culto, para “orar, meditar e alimentar a alma”. “Isto ajuda a descarregar as tensões e a começar o dia mais sereno e disposto”. O gerente de RH da empresa disse que a postura claramente religiosa leva os funcionários a adquirirem padrões morais mais rígidos e, com isso, uma vida mais regrada e saudável. Tornam-se mais produtivos, faltam menos, atrasam pouco e se concentram mais no trabalho.(1)
Outra vantagem que se aponta na aplicação da espiritualidade ao trabalho é que, em geral, os valores humanos básicos, como integridade; responsabilidade; ética e conduta transparente, são enfatizados com muito mais naturalidade.
Hoje em dia é cada vez maior a pressão pela valorização da ética nos negócios. O empresariado já percebeu que não adianta escrever códigos de conduta e esperar que os empregados os cumpram. Descobriram também que é melhor ter funcionários que aderem naturalmente às normas de bom procedimento por causa de suas genuínas convicções e valores espirituais.
Discutir valores ético-morais, na empresa vai ser muito bom para os funcionários, mas, no futuro, de quem será o maior lucro?
Você sabe quais são as habilidades valorizadas pelas 500 maiores empresas do mundo por ordem de importância? Trabalho em equipe, solução de problemas, habilidades interpessoais, comunicação oral, saber ouvir, desenvolvimento profissional e pessoal, pensamento criativo, liderança, motivação para objetivos e metas, redação própria, desenvolvimento organizacional, computação e muita leitura.
Os destruidores do Trabalho em Equipe são o egoísmo e a vaidade, encontrados quando há ausência de espiritualidade.
As maiores empresas do mundo estão selecionando seus funcionários com maior cuidado e por isso nossos funcionários deverão ser ajudados no seu processo evolutivo, no seu crescimento espiritual. Aí nos lembramos do Doutor Caetano.
Caetano, filho do Conde Gaspar Di Thiene, nasceu em Veneza, Itália, em 1480, doutorou-se em Direito Civil e Eclesiástico. Renunciou a todos os bens materiais. Foi secretário particular do Papa Júlio II. Com a morte do Papa voltou a terra natal e dedicou-se exclusivamente ao serviço hospitalar, adquirindo grande credibilidade e competência nas relações interpessoais. Com a introdução da Inquisição, em Nápoles, viu o povo rebelar-se e havia temores de que ocorreria uma revolução, o que ceifaria inúmeras vidas. Caetano rogou a Deus que aceitasse sua vida em troca da Paz. Adoeceu e faleceu logo em seguida ao mesmo tempo em que os ânimos se acalmaram. A opinião foi unânime, a Paz se instalou através de sua intervenção.
Coincidência ou não, o gesto do Dr. Caetano é digno de admiração, é exemplar nestes dias onde fanáticos oferecem suas vidas pelo terrorismo, pela guerra.
Sociólogos e pedagogos, especialistas em relações interpessoais como São Caetano, ditam hoje regras para capitalizar sentimentos e emoções. O grupo de futebol de São Caetano parece estar atento as regras básicas do trabalho em equipe. Hoje é notícia no Brasil e no exterior. E, já se reconhece o valor do trabalho de equipe realizado.
A primeira regra é acreditar que se pode ser campeão. Quando? Não sabemos, mas vamos perseguir esse objetivo. Isto é estabelecer uma missão grandiosa, atemporal e ilimitada. O que estamos perseguindo? A felicidade. O sucesso profissional é apenas parte de um conteúdo vital que se completa com outros valores. (3).
Jesus estabelece a condição de felicidade total: “Sede Perfeitos”.
Vamos pensar agora, em se tratando de futebol, no São Caetano, uma vez que os de São Januário e São Paulo no momento estão de fora.
Este trabalho coletivo deverá possuir regras. Vamos didaticamente dividir estes comentários em partes. Temos uma equipe (de futebol ou não); uma liderança, as individualidades na equipe, e o modelo de gerenciamento.
A liderança bem sucedida hoje está nas mãos daqueles que assumem a postura de um parceiro e não de um comandante. A autoridade é um crédito de competência que se dá a quem merece por direito. Aquela figura de chefe, disciplinador, não tem mais lugar. Se assim fosse o time do quartel estava na primeira divisão. Ninguém “se torna” autoridade; a pessoa “é tornada” autoridade, como diz Martins (3).
Esse líder jamais decide a favor de alguém ou de qualquer coisa que irá prejudicar a missão estabelecida e sempre divide os méritos com todos, além de assumir a responsabilidade maior por qualquer insucesso. Em questão de liderança o Mestre é ainda Jesus, que sempre atuou em conjunto, apesar de sua grandeza espiritual. Como líder, Jesus nunca se colocou afastado ou superior ao grupo, mas nele se engaja, concretizando o ideal do conjunto.(4)
A equipe deverá ser unida. Estimular, entre todos os funcionários, os sentimentos de solidariedade e fraternidade é regra fundamental. A liderança deverá incentivar as pessoas a seguirem a missão estabelecida e deixar que elas alcancem seus objetivos. Isto também parece ser unanimidade entre sociólogos e pedagogos. Jesus constituiu um grupo de trabalho com pessoas diferentes e podemos verificar que a unidade do grupo se deu em torno do objetivo comum. Em momentos diversos até jogaram mal, mas foram respeitados pelo líder.
Quando pensamos na “individualidade na equipe”, lembramos da necessidade de estimular, continuamente e incessantemente, o potencial criativo de nossos funcionários, considerando cada idéia como uma contribuição positiva, mesmo que no momento, ela seja inviável, impraticável ou desaconselhável. A idéia pode não ser boa, não ser exeqüível, mas é uma idéia e deve ser respeitada e considerada com todo o respeito. Outro ponto importante é que nunca devemos destruir o sonho de qualquer membro da equipe. Este sonho pode ser a coisa no momento mais importante de sua vida. Jonh Dewey dizia que todo grande progresso da ciência resultou de uma nova audácia da imaginação.” É uma audácia do São Caetano diante do São Paulo e do clube de São Januário!
Não menos importante é fazer prevalecer o ser humano sobre o profissional. O seu lado profissional é apenas uma das faces do poliedro multifacetado que é o homem.
Jesus, mais uma vez, foi além e é o modelo por excelência, pois respeitou até a individualidade que não mais se harmonizava com o objetivo comum do grupo. É o respeito pelas opções individuais. Exemplo claro é encontrado no diálogo com o moço rico ou quando recebeu o membro de sua equipe, Judas, no momento de sua prisão. “A que vieste, amigo?” Não fez nenhuma crítica mordaz, nenhuma cobrança. Só o respeito e a confiança no futuro.
Em termos de gerenciamento, regras do jogo, é fundamental que se faça prevalecer a justiça. Um injusto poderá até ser um comandante, mas jamais será um líder. No futebol ele poderá insistir na convocação de determinado jogador, mas o futuro o deixará estigmatizado na história. Martins ( faz a síntese: “quando as regras são claras e sua aplicação é sistemática, as pessoas passam a confiar mais na liderança e, por conseqüência, tornam-se mais unidas no cumprimento de uma missão comum.”
Justiça seja feita o São Caetano está ajudando a dissolver neurônios de cartolas e tem sido, até agora, um bom exemplo para muitos.
No seu modelo de gerenciamento, Jesus dividiu tarefas e ampliou, gradativamente, seu grupo de trabalho e como verdadeiro líder trabalhava a auto-estima do grupo, buscando manter sua motivação interna. Parece um paradoxo, mas o elemento extremamente vaidoso num grupo é na realidade possuidor de baixa auto-estima. Os membros da equipe de evangelização, os diretores da casa espírita, os jogadores de futebol, ou o diretor da empresa, precisam tomar cuidado nesse ponto. “Calçar sandálias douradas” pode ser indicativo de obsessão por fascinação.
Trabalhar a auto-estima está longe desse pensamento, mas usar palavras de estímulo como “Vós sois a luz do mundo” ou “sois o sal da terra” é encorajamento, fundamental na hora do testemunho.(4)
Quando refletimos sobre a questão dos recursos humanos e as relações interpessoais podemos perceber que Jesus leciona a sociólogos e pedagogos quando chama a atenção para o respeito que devemos ter com as outras pessoas que também se identificam com o objetivo do grupo, ainda que nele não estejam integrados. E, vai mais além ao estabelecer os critérios de identificação interna e externa dos membros de sua equipe. Jesus constitui um grupo de trabalho com pessoas, aparentemente comuns, mas que seriam, por elas próprias, identificadas, no campo das relações interpessoais. Ele recomenda: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E, permite que nós, os de fora, os identifiquemos: “Nisto todos os reconhecerão: se vos amardes uns aos outros”.
Nós, os que gostamos do futebol, esperamos que a torcida deste time possa inspirar-se em São Caetano, a fim de que possamos ter de volta a tão esperada Paz nos estádios de futebol. É bom levar nossos netos para assistirem os resultados obtidos por uma empresa onde todos são éticos e por isso bem sucedidos e felizes.
São Caetano suplicou a Deus que aceitasse a sua vida em troca da Paz. Que possamos, viver a vida, empregando-a em favor da Paz. Com duplo sentido podemos dizer que “São Caetano” é um bom exemplo.
Referências Bibliográficas:
1. A Espiritualidade Chega Às Empresas. Você. S.A., Janeiro de 1999. (Volta)
2. Gaz, R. (Re)Engenharia física, moral, intelectual, emocional e espiritual: um projeto-educação para o terceiro milênio. Tendências do Trabalho, 292: 10-11, dezembro, 1998. (Volta)
3. Martins, L.C. Regras Básicas para capitalizar sentimentos e emoções. Tendências do Trabalho, 327: 10-15, 2001. (Volta)
4. Pereira, S.M.B. Refletindo sobre Jesus, os recursos humanos e as relações interpessoais. Tribuna Espírita, setembro/outubro: pág. 7-8, 2001. (Volta)
Luiz Carlos D. Formiga
neufundao@hotmail.com