Sexto Sentido – Bom Negócio
“O dinheiro é bom servidor, mas mau senhor”
A revista ÉPOCA, maio 2003, trouxe artigo que recebeu o título: “O Fenômeno Gasparetto. Conheça a Família que Transformou o Espiritismo e a Mediunidade num Negócio Milionário”. Nela soubemos que a orientação partiu do filho que melhor sintonizou o mentor capitalista.
“O velho por não poder, o moço por não saber, deitam as coisas a perder”.
Referindo-se a essa capacidade de multiplicar dólares, encontrada num neo-sincretismo, pode-se usar a palavra “i-dolar-tria”(2).
No caso do neo-sincretismo é importante interpretar a Bíblia ao pé da letra. Para a obtenção de bons lucros, tanto no neo-sincretismo, quanto na exploração de um “sexto sentido” é importante a construção de uma imagem de líder espiritual abençoado pelas forças dos céus. Nas questões que envolvem dinheiro, é necessário encontrar alternativas para exercer o controle pessoal. No passado, comunicações com espíritos geraram discussões e até proibições.
Antes da codificação de Kardec, as primeiras manifestações inteligentes (6, 8) se produziam por meio de mesas que se levantavam e, com um dos pés, davam certo número de pancadas, respondendo desse modo — sim, ou — não, conforme fora convencionado, a uma pergunta feita. Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas com o auxílio das letras do alfabeto: dando o móvel um número de pancadas correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava-se a formar palavras e frases que respondiam às questões propostas. A precisão das respostas e a correlação que denotavam com as perguntas causaram espanto.
Foi um desses seres invisíveis que aconselhou a adaptação de um lápis a uma cesta ou a outro objeto. Colocada em cima de uma folha de papel, a cesta é posta em movimento pela mesma potência oculta que move as mesas; mas, em vez de um simples movimento regular, o lápis traça, por si mesmo, caracteres formando palavras, frases, dissertações de muitas páginas sobre as mais altas questões de filosofia, moral, metafísica, psicologia, etc., e com tanta rapidez quanto se escrevesse com a mão. O conselho foi dado simultaneamente na América, na França e em diversos outros países.
Reconheceu-se que a cesta e a prancheta não eram, realmente, mais do que um apêndice da mão; e o médium, tomando diretamente do lápis, se pôs a escrever por um impulso involuntário e quase febril.
Naqueles dias a experiência deu a conhecer muitas outras variedades e se constatou até a escrita direta dos Espíritos, que ocorre sem o concurso da mão do médium, nem do lápis.
Tudo parece indicar que o médium é a única fonte produtora de todas as manifestações, que as toma ao meio ambiente. Pode-se evidenciar, que certas comunicações do médium são completamente estranhas aos pensamentos, aos conhecimentos, às opiniões mesmo de todos os assistentes, que essas comunicações freqüentemente são espontâneas e contradizem todas as idéias preconcebidas.
Por que estranha coincidência milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo terráqueo, e que jamais se viram, acordaram em dizer a mesma coisa?
“Zibia Gasparetto foi uma espírita tradicional durante anos. O filho Luiz foi o guia na transição da caridade para o business, hoje nem fala em mediunidade, preferindo sexto sentido” (1).
“Zibia empatou com Luís Fernando Veríssimo, vendeu mais de 5 milhões de livros e está há 10 anos na lista dos mais vendidos. Sem pretensões literárias, conta histórias recheadas de diálogos, falando como uma tia, pronta a dar conselhos. Com os livros pode faturar R$ 17 milhões por ano, sem contar a gráfica, que presta serviço a editoras, como a Siciliano e Saraiva.”(1)
As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente, mas os fenômenos espíritas (6, 8) repousam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos.
Estamos diante de algo novo, “desde que se trata de uma manifestação que se produz com exclusão das leis da Humanidade, ela escapa à competência da ciência material, visto não poder explicar-se por algarismos, nem por uma força mecânica. Quando surge um fato novo, que não guarda relação com alguma ciência conhecida, o sábio, para estudá-lo, tem que abstrair da sua ciência e de idéias preconcebidas” (6, 8).
O cepticismo, no tocante ao fenômeno, quando não resulta de uma oposição sistemática por interesse, origina-se quase sempre do conhecimento incompleto dos fatos, o que não obsta a que alguns cortem a questão como se a conhecessem a fundo. Um fato demonstrado pela observação (6, 8) e confirmado pelos próprios Espíritos é o de que os Espíritos inferiores muitas vezes usurpam nomes conhecidos e respeitados. Essa é uma das dificuldades do “sexto sentido”.
Com o ego brilhando após o verniz e sem esforço para dominar inclinações menos éticas, podemos acabar nas mãos de entidades especialistas na produção de máquinas de fabricar dinheiro e ilusões.
“Zibia fez uma opção clara pelo mercado a partir de 1995, quando se afastou da militância religiosa. Ela deixou o comando do centro espírita, que desenvolvia obras sociais na periferia de São Paulo e atendia mil pessoas por dia, para dedicar-se a uma editora própria que se tornou uma das maiores do ramo no país” (1).
Os espíritas dizem que é moralmente questionável ganhar dinheiro com esse tipo de livro. Chico Xavier nunca embolsou um tostão.
“Zibia define-se hoje como espírita independente e transfere a responsabilidade para os espíritos que lhe recomendaram abrir uma gráfica e deixar outras pessoas assumirem as obras sociais”(1).
Com Chico Xavier (3) centenas de autores voltariam. Traduzidos em diversas línguas estrangeiras, milhões de exemplares foram vendidos em todo o mundo. Apesar de altamente lucrativos, Chico nunca aceitou qualquer dinheiro dos livros. Tudo era revertido em benefício de obras de caridade.
“Mais vale o pouco com justiça do que muitos ganhos sem direito”.
Qual o significado de tantos anos de mediunidade?
Chico contou: “um amigo espiritual em se comunicando aqui, numa página que considero muito interessante, contou que um guia espiritual perguntou a um mentor das esferas mais altas, o que significam 60 anos de trabalho espiritual ininterrupto, e, o outro respondeu que para Jesus significaria seis minutos.”
Kardec diz que o primeiro indício da falta de bom-senso está em crer alguém infalível o seu juízo.
Com corpo esculpido por horas de balé, Luiz possui casa em Los Angeles, onde compra suas roupas. Só anda com motorista e aposta na imagem: “sou a pessoa mais interessante que conheço” (1).
Humildade é a virtude que nos dá o sentimento da nossa insignificância, nesse ponto as diferenças entre os médiuns são gritantes.
Chico, certa vez, comentou os elogios a seu respeito: “cada carta, cada mensagem, que criam destaques em torno de meu nome, é um convite a que eu seja o que ainda não sou e que devo ser, que preciso ser, e que peço a Deus ser algum dia” (3). Apresentado por Emmanuel a Jesus, possuía uma “mediunidade vacinada” (4,5).
Pascal (Sens, 1862) escreve que se os homens amassem com mútuo amor, a caridade seria mais bem praticada; porém, para isso, seria necessário o esforço por largar a couraça que cobre os corações. A rigidez mata os bons sentimentos. O Cristo jamais se escusava. Ele nos pergunta, quando o tomaremos por modelo de nossas ações? Ensina que não devemos nos preocupar com os que nos olham com desdém, deixando a Deus o encargo de fazer toda a justiça.
O mentor conclui que o egoísmo é a negação da caridade e que sem ela não haverá segurança para a sociedade humana. Com o egoísmo e o orgulho de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira, uma luta de interesses, em que vencerá o mais esperto (7).
“No passado, Luiz Gasparetto emprestou as cordas vocais ao francês Toulouse-Lautrec para que desse uma entrevista na TV Cultura. Mas hoje ele dá pouca atenção a espíritos de mestres como Leonardo da Vinci, porque está dividido entre atividades mais rentáveis. Se eu tenho o dom, por que não vou ganhar dinheiro com isso? Hoje não tenho religião” (1)
O comentário pode gerar outra interpretação: quem dá pouca atenção a quem?
Emprestei a revista e depois ouvi o desabafo: “ainda bem que ele não se diz espírita!”
“Pop Star Mediúnico (1), Luiz faz programas no rádio, shows na TV, escreve livros de auto-ajuda e pinta quadros. Pode ganhar R$ 40 mil em um único dia de curso. Com 53 anos, fez carreira internacional. Possui um índice de produtividade de fazer inveja a qualquer artista vivo ou morto, já pintou mais de 30 mil telas. Chegou ao recorde pessoal de concluir seis obras em apenas 15 minutos”.
Diz o ditado: “melhor é ter pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar sempre com as duas mãos cheias de trabalho, tentando pegar o vento”.
Observando determinados comportamentos no movimento espírita ficamos com uma dúvida: será que pessoas que se dizem espíritas, de forma “velada”, estão fazendo algo semelhante aos Gasparetto?
E Jesus nem tinha onde reclinar a cabeça!
Espíritas não podem ser profissionais da religião ou da mediunidade, mas não é só isso.
Referências.
- Revista Época, 261: 68-73, 2003.
- https://espirito.org.br/portal/artigos/neurj/sequestro-e-idolartria.html
- https://espirito.org.br/portal/artigos/neurj/talento-extraordinario.html
- https://espirito.org.br/portal/artigos/neurj/por-que-considero-inteligente.html
- https://espirito.org.br/portal/artigos/diversos/assistencia/vacinacao.html
- Kardec, A. 1857. O livro dos espíritos. Introdução. FEB.
- Kardec, A. 1866. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap XI, item 12. FEB.
- Médium: “Cuidado Perigo!” Revista Internacional de Espiritismo, número 3, Matão, Abril, 1999.
(https://espirito.org.br/portal/artigos/neurj/mediuns-perigo.html)
Luiz Carlos D. Formiga